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Precisamos normalizar os finais possíveis

em Destaques
sexta-feira, 02 de dezembro de 2022

Branca Barão (*)

Depois de décadas assistindo à filmes e ouvindo tantas histórias que terminam com “E foram felizes para sempre” é comum naturalizar o tal do “Para sempre…” e tenhamos passado a, de certa forma, esperar um pouco disso na vida real também!

Não quero te dar nenhum spoiler aqui, mas no nosso dia a dia, só existem dois tipos de finais possíveis: A mudança ou a morte. Desculpem-me por ser drástica, mas, antes que a ilusão do “Para sempre” volte a te assombrar, sejamos realistas.

Certamente tudo tem um fim, se você não decidir colocar o ponto final, talvez outra pessoa coloque e se não for colocado a tempo, a vida vai se incumbir de colocar.
Outro dia encontrei uma grande amiga e perguntei como ela estava. Ela então me disse: “Eu acabei de me separar!”

No ímpeto de deixar escapar o tradicional, quase falei o “Puxa, sinto muito!” de sempre, mas resolvi perguntar: “E como você está em relação a isso? Devo te dizer “Sinto muito” ou te dar os parabéns?” – Ela então me disse com um sorrisão: “Pode me dar os parabéns!”

Lembro uma vez em que tudo que eu queria era ter coragem para sair do relacionamento em que eu estava. Ensaiei o “Eu quero me separar de você!” inúmeras vezes na minha cabeça, mas não tinha coragem de dizer. Tolerei aquele relacionamento por mais alguns meses infernais até que a frase, tão ensaiada, finalmente, saiu! A paz que eu senti foi indescritível, mas absolutamente ninguém me deu os parabéns.

Ainda me perguntavam ao me ver viajando, saindo, me divertindo logo após o término “Mas, você nem sofreu?” a minha resposta era: “Não sofri depois, porque tinha sofrido tudo antes!”, então, tudo o que eu queria era mesmo comemorar, por mais julgada que eu fosse. Afinal de contas, não é todo dia que podemos celebrar a nossa própria superação e coragem.

Eu estava vivendo uma espécie de formatura de um MBA em Massachussets de Autoconhecimento. Claro que precisava comemorar, foi um passo e tanto.
Para nós, o “normal” é sofrer após um término, até porque se terminou é porque fracassou e quem comemora um fracasso, não é mesmo?

Nós queremos nos encaixar naquilo que é normal, mesmo quando aquele “normal” não é bom para nós. Términos ainda são, na maioria das vezes, sinônimos de fracasso em nossa cultura.

E sabendo disso, vale a reflexão: quantas pessoas estão hoje em um trabalho que não encaixa mais em seu propósito de vida ou que sente que já completou, faz tempo, aquela fase do jogo da vida, ou em um relacionamento que não faz mais sentido, onde não há mais intersecção com seus valores e projetos de vida e pior, sem nenhuma felicidade apenas porque vê os finais das próprias histórias com apenas essas duas opções: Ser feliz para sempre ou fracassar.

Términos nem sempre são bons, claro. Mas também nem sempre são ruins, por isso falei em NORMALIZAR o término, não em BANALIZAR! A ideia aqui é desconectar término de fracasso. Isso nos apoiaria a ressignificar esses momentos que são sempre grandes oportunidades de aprendizado, crescimento, evolução e autoconhecimento.

Precisamos ter coragem para sermos persistentes naquilo que ainda desejamos que se mantenha em nossas vidas, de sair fora, o quanto antes, daquilo que não faz mais sentido para nós e sabedoria para diferenciar quando a vida nos pede uma coisa ou outra! Permanecer em um espaço que não nos cabe mais é desperdiçar a própria vida. Liberdade é decidir onde permanecer e de onde sair.

Ser fiel a si mesmo e às próprias escolhas é o verdadeiro sucesso.

(*) – Master Trainer em Programação Neurolinguística Sistêmica e especialista em comportamento humano, é escritora ministra cursos e palestras com uma metodologia própria (https://www.brancabarao.com.br/site/).