Thiago Martello (*)
Em meio à crise, com o desemprego e informalidade crescentes, cada vez mais famílias passam a conviver com uma renda mensal de até dois salários mínimos, considerada baixa diante do cenário econômico atual, de inflação e juros altos. Com isso, temos um reflexo na sociedade que parte de um desafio diário que muitas pessoas enfrentam no Brasil: o controle das finanças.
Segundo o IBGE, o Brasil atualmente possui um recorde de 30,2 milhões de trabalhadores remunerados com um salário-mínimo por mês, cerca de R$1,1 mil, o que equivale a 34,4% do total ocupado no país. Este é o percentual mais alto já apurado desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), em 2012. Esse cenário passa a impressão de ser impossível não contrair uma dívida com uma renda considerada baixa, porém, é possível manter as finanças em dia a partir de uma boa administração dos recursos.
O melhor caminho para começar esse processo é esquecer as planilhas e conhecer a si próprio. Um ponto não saudável no momento de controlar as dívidas é estabelecer percentuais para grupos de contas, como se fosse uma receita de bolo que serve para qualquer realidade, visto que o principal motivo é que o resultado obtido com dinheiro é consequência do próprio comportamento, por isso, é preciso olhar e entender o indivíduo.
Para ilustrar esse cenário, pense na seguinte situação: Pedro, um jovem solteiro que mora com os pais, não tem contas para pagar e recebe um salário de R$1.500,00. Nesse caso, é muito fácil realizar uma divisão de 30% para dívidas e 40% para estudos, por exemplo. Agora, quando falamos da mesma quantia para um pai de família, que paga aluguel e tem filhos pequenos, esse cenário muda radicalmente.
Já nessa situação não é nada adequado dizer para uma pessoa o quanto ela deve gastar com moradia e alimentação. O que deve ser feito, de forma saudável, é entender o potencial do indivíduo, trazer consciência e autoconhecimento para que ele tenha um padrão de vida de acordo com a sua realidade e, assim, extrair o melhor resultado disso, progredindo a partir deste ponto.
Comprar à vista ou parcelado, qual a melhor maneira de controlar os gastos?
No último levantamento da SCBV neste ano, cerca de 82% da população brasileira tem o hábito de fazer compras parceladas, ou seja, se endividar. Muitas pessoas acreditam que comprar parcelado ou à vista é a mesma coisa, tendo diferenças apenas na data de pagamento, o que não é verdade.
Comprar parcelado é um passo para grandes problemas futuros. Antes de mais nada, se é preciso parcelar, é um sinal de que não se tem o dinheiro necessário para adquirir o item. Qualquer imprevisto no meio do caminho poderá ocasionar o atraso de uma fatura ou parcela, e pode ser o início da famosa bola de neve, principalmente porque o cartão de crédito possui os maiores juros do mercado brasileiro. Além disso, o ato de se acostumar a fazer parcelas pode estimular o aumento do limite do cartão de crédito.
Esse fato desencadeia outra série de problemas, pois o indivíduo começará a usar um cartão para cobrir o outro, poderá tomar crédito para amenizar os impactos dos juros na fatura e terá ainda mais variáveis para controlar, aumentando as chances de dívidas que não pode arcar. Por isso, levo em consideração que é necessário mudar a lógica de consumo no Brasil, ou seja, primeiro ter o dinheiro necessário para determinada compra, depois ir atrás do produto.
Vale a pena “chorar” por descontos? – O comércio trabalha com uma margem preparada para negociações, por menor que seja. Um ponto que pode ser ressaltado é que o fornecedor ou prestador de serviços paga uma taxa diferente para crédito parcelado, crédito à vista e débito para as operadoras de cartões.
Dependendo da forma de pagamento, o desconto pode se tornar viável para ambas as partes.
Por exemplo, quando o pagamento é à vista, o poder de barganha aumenta, principalmente se for via PIX, que não possui taxas e o dinheiro fica disponível para utilização na mesma hora. Aqui também vale um raciocínio que muitas vezes o consumidor não leva em consideração: por menor que seja o desconto, geralmente já é muito acima da remuneração do mercado financeiro. Por exemplo, um desconto de “apenas 5%”? Qual produto de investimento hoje rende isso?
Vale também pedir descontos nos serviços de uso recorrente, como: celular pós-pago, internet, TV a cabo, academia, estudos, cursos e aluguel pois quase sempre existe o interesse do prestador de serviços em continuar com o relacionamento
(*) – É educador financeiro e fundador da Martello Educação Financeira – fintech e edtech que oferece planejamento financeiro com mais de 500 alunos.