Fernanda Rodrigues*
As pessoas vivem uma eterna busca por realização verdadeira em suas vidas e carreiras, uma vez que suas metas se renovam, o que faz com que as características valorizadas nas empresas mudem com o decorrer do tempo. Não por acaso, as empresas, como sistemas vivos, com propósitos evolutivos próprios e capacidade de se regenerar, precisam acompanhar o “valer a pena” para sobreviver e ter sucesso no futuro.
Hoje, as empresas precisam conciliar três fatores: líderes transformacionais, segurança psicológica e ambiente de trabalho remoto e/ou híbrido, em formatos mais flexíveis Aliado a esses três pilares, é essencial ter em mente que os principais ativos de uma organização continuam sendo as pessoas, pois são elas as responsáveis por fazer as melhores entregas aos clientes. Até por volta das décadas de 1950 e 1960, aceitávamos o trabalho pelo que era — trabalho. As aspirações de um dia de trabalho justo, com um dia de salário justo, ter amigos no trabalho, isso era provavelmente o que contava mais amplamente como um trabalho ‘bom’.
Já em meados dos anos 2000, as empresas mais valorizadas, as mais disputadas pelos profissionais no mercado apresentavam características como: grande porte, perfil sólido que inspirava maior segurança, considerava somente capacidades técnicas, além de pagar ótimos salários e oferecer plano de carreira. A localização física da empresa também era um fator a ser considerado na mudança de um emprego.
Mas, a maneira como trabalhamos se transformou em ritmo recorde nos últimos três anos. As prioridades mudaram, devido à pandemia da Covid-19, tanto para empregadores quanto para colaboradores, colocando o trabalho remoto/híbrido em primeiro plano. Segundo o Relatório de Profissionais de Tecnologia do Brasil, que em novembro de 2022 entrevistou 537 profissionais e 35 empresas sobre o seu modelo de trabalho preferido, 83,4% dos participantes afirmaram ser o modelo de trabalho remoto; 16,2% responderam ser o regime híbrido e apenas 0,4% escolheram o presencial. A maioria também afirmou que preferiria mudar de emprego caso sua empresa exigisse a volta aos escritórios (79,1%).
Esses percentuais não diferem de outros setores em que os modelos híbrido e remoto são possíveis, e juntamente com outros fatores, demonstram que os trabalhadores estão muito mais interessados em trabalhar para viver, não em viver para trabalhar. Temas que anteriormente sequer eram considerados, como, por exemplo, flexibilidade, qualidade de vida, propósito, people skills (habilidade de se relacionar e gerar resultados positivos), permanência e a possibilidade de trabalho remoto, hoje são as características mais analisadas pelos profissionais antes de aceitar uma nova proposta de emprego.
A postura do líder também está entre os diferenciais que tornam uma empresa atraente. Os líderes transformacionais fazem toda a diferença para reter talentos e manter sua equipe motivada. São responsáveis por inspirar e motivar as pessoas que estão sob sua liderança. E é esse profissional que consegue extrair o que cada pessoa tem de melhor para utilizar a favor do desempenho coletivo. A colaboração do líder para a melhoria do grupo como um todo é primordial. O gestor deve ser um agente transformador, priorizando a escuta ativa para compreender o perfil de sua equipe, gerando um ambiente de trabalho com respeito, dedicação e equilíbrio.
Outro fator muitas vezes ainda negligenciado que torna uma empresa um bom lugar para trabalhar é se você é capaz de aparecer diariamente como seu eu autêntico. Isso porque à medida que as corporações cresciam, as pessoas trabalhavam em locais em que tinham de entrar no jogo. As pessoas se vestiam de um modo padrão, agiam de uma certa maneira no trabalho e eram diferentes no trabalho do que em casa.
É essencial construir um ambiente de trabalho colaborativo e receptivo que ofereça segurança psicológica e estimule as pessoas a serem elas mesmas, promovendo o compartilhamento de ideias, dúvidas e perspectivas. Todos devem ser estimulados a apresentar suas opiniões, sem que haja o receio de sofrer alguma forma de exposição ou julgamento.
Quando as pessoas têm mais liberdade inventiva sobre seus empregos, seja em um campo criativo ou não, elas são mais propensas a introduzir um novo significado ao trabalho. A liderança deve se comprometer com o desenvolvimento pessoal e profissional, e esse diferencial tem de ser percebido pelas pessoas para que compreendam seu valor dentro dos projetos e processos e, assim, adquiram propósito e vivenciem experiências inovadoras. Uma liderança engajada, alinhada aos conceitos e valores da empresa, possibilita criar um ambiente de trabalho adequado a todos, mais flexível e harmonioso. E sem esquecer da segurança, que permite que os colaboradores expressem suas opiniões, ideias e experiências, sem medo ou constrangimento e com a liberdade de apresentarem o seu verdadeiro eu. Desta forma saem todos premiados.
*Fernanda Rodrigues é psicóloga pela Unip, com MBA em Gestão de Pessoas e especialização em Direito Empresarial e Docência pela FGV, docente no curso de pós-graduação em Gestão de Pessoas na Faculdade Anhanguera e CHRO LATAM na GFT Technologies.