Rafael Brych (*)
Em uma empresa, a aquisição de uma nova tecnologia deve ser uma decisão ponderada a partir de diversos ângulos. Por mais que isso pareça óbvio, é preciso lembrar que temos vivido os últimos anos em um processo de transformação digital no qual as inovações surgem constantemente. Sendo assim, não é incomum que se tenha sobre certas soluções expectativas desalinhadas com o que elas realmente entregam. Daí a necessidade de analisar e conhecer bem as verdadeiras potencialidades de uma nova ferramenta.
Sistemas de RPA (Robotic Process Automation) podem ser um bom exemplo disso. A automação robótica de processos pode ser resumida como uma tecnologia que utiliza robôs de software – os chamados bots – e inteligência artificial para interagir com interfaces de diferentes programas. Assim, é possível programar um RPA para realizar um alto volume de tarefas repetitivas, em diversas etapas e de forma estruturada.
É uma ferramenta que permite liberar a força de trabalho para realizar atividades menos burocráticos e mais estratégicas, que demandem análise e raciocínio. Ao mesmo tempo, traz mais eficiência para processos, com ganhos de precisão e de velocidade na execução de atividades do dia a dia.
Este, naturalmente, é um quadro geral do que um RPA pode oferecer, já que se trata de uma solução altamente customizável, cuja aplicação e efeitos dependerão das rotinas e necessidades de cada empresa. É neste cenário que pode existir uma discrepância entre o que muitos gestores esperam de um sistema como este e o que ele pode empregar.
Em geral, as principais expectativas de quem adota uma solução de RPA segue esta ordem: redução de custos, mitigação de erros e economia de tempo. No entanto, quando falamos com gestores e empresários que já utilizam esta ferramenta há algum tempo, a percepção que demonstram do resultado é um pouco diferente.
A maioria relata que o principal ganho que notaram foi na economia de tempo, em seguida vem a noção de que a solução contribuiu para acelerar o crescimento do negócio, e só então, por fim, a redução de custo é citada.
Naturalmente, isso é uma percepção geral, mas que ilustra a diferença entre o que se imagina e o que a prática revela. De um modo ou de outro, os principais atributos de um sistema RPA se concretizaram, mas em uma escala e ordem diferente do esperado. A reflexão que isso traz diz respeito a um aspecto que merece muita atenção por parte das empresas: é preciso ter conhecimento técnico aprofundado para projetar com mais clareza o que esperar de uma solução tecnológica.
A falta de maturidade técnica está entre as principais barreiras para o avanço de iniciativas de RPA em empresas da América Latina, aponta uma pesquisa de 2023 realizada pela EY. A falta de tempo da equipe técnica aparece como o segundo principal fator.
A transformação digital está aí há muitos anos quase sem diminuir o ritmo e as empresas precisam acompanhar esse passo. A automação vem se tornando uma necessidade básica de produtividade em todos os setores e os investimentos nessa área devem ser feitos com clareza de propósito e de resultado esperado. E isso depende de equipes preparadas para analisar necessidades internas e parceiros competentes para entender e customizar entregas.
(*) Gerente de marketing e inovação da Selbetti.