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O papel do cooperativismo na recuperação do país pós-Covid-19

em Destaques
terça-feira, 30 de junho de 2020

Evandro Piedade do Amaral (*)

O sistema cooperativo foi criado para ajudar no compartilhamento de interesses mútuos, em que várias pessoas se unem para conseguir uma melhor negociação. Quando a sociedade é formada, acontece a redução da desigualdade e as vantagens vêm para todos, independentemente das posses ou tamanho. No cooperativismo, todos têm os mesmos direitos, proporcionais à sua contribuição e à participação na cooperativa.

Neste momento, a melhor solução só poderá vir do compartilhamento de ajuda e interesse pela sociedade, assim como já demonstrado em todos os eventos críticos na história da humanidade. E o sistema, que já vinha crescendo a passos largos, deve ser acelerado pela crise. Nossa meta de crescimento de 20% anuais vem acontecendo nos últimos anos, demonstrando que os brasileiros estão descobrindo o cooperativismo de crédito.

Estamos com uma participação atual que gira em torno de 4% nas operações de crédito no Brasil, mas com perspectivas almejadas pelo Banco Central do Brasil em atingir 20% até 2022. Nesta crise que vivemos causada pela pandemia, temos sido procurados por pessoas e empresas que se sentiram abandonadas pelas outras instituições financeiras neste estágio crítico, o que nos trouxe uma grande oportunidade de apresentar o cooperativismo, seus princípios e demonstrar a nossa essência.

Faremos nossa parte, pois nosso objetivo é, sempre foi e será o de atender às necessidades das pessoas físicas e jurídicas no momento em que elas precisam. As oportunidades acontecem nos momentos mais desafiadores. Estamos preparados para enfrentar qualquer situação que venha a ocorrer no país. Já fizemos nossa lição de casa e nossa equipe está pronta para contribuir com a comunidade, atuando nas mais adversas situações, tanto no apoio econômico ou social, através dos nossos 13 projetos sociais desenvolvidos junto às nossas comunidades.

Só em 2019, eles impactaram cerca de 6 mil pessoas, levando educação financeira, cooperativista e empreendedora para as camadas mais necessitadas. O cooperativismo de crédito é a melhor e mais genuína forma de compartilhamento de interesses financeiros para qualquer momento da nossa vida e também da sociedade. Nossa forma de contribuição vem através da intermediação financeira com o melhor custo benefício, pois agregamos valor aos investidores através das sobras que devolvemos aos associados e cobramos, em média, as melhores taxas do mercado daqueles que desejam alavancar seus negócios.

A educação financeira, interesse pelo desenvolvimento da sociedade e dos nossos colaboradores nos fazem diferentes e em linha com o novo momento de recuperação, pós-pandemia. Na Sicoob Cocre, levamos a educação financeira para a comunidade em geral, através de convênios com Sebrae, por exemplo, preparando os pequenos e médios empresários para serem grandes empreendedores. A cobrança das taxas mais baixas e a venda com o menor custo médio de produtos financeiros como cartões, seguro, cheque especial, consórcios e consignados contribuem para uma sociedade mais justa e com menor desigualdade.

Ações estas que fazem parte da nossa visão, missão, valores e propósito. Outro fator é que o perfil do cliente está mudando. A maioria das pessoas busca algo que agregue valor, não só a si mesmo, mas à sociedade de maneira geral. Com a chegada das fintechs, instituições financeiras digitais, e a preferência ao digital direcionada pelos bancos comuns, o relacionamento humanizado e presencial deixou de existir, trazendo uma enorme carência de direcionamento e apoio àqueles que necessitam de ajuda para investir as suas economias e promover o crescimento dos seus negócios.

As instituições financeiras cooperativas, através da educação financeira, têm a obrigação de sugerir de forma isenta, clara e transparente, a melhor utilização dos recursos aos associados. Aqui, entra também a importância da nossa atuação em projetos de sustentabilidade, como já mencionado. Como não visamos o lucro, nossa diferença com os bancos está no relacionamento humanizado e na justa distribuição das sobras, que são definidas pelos associados nas assembleias anuais de prestação de contas. Por isso, conseguimos taxas e produtos a preços tão competitivos.

Aliás, nem utilizamos o termo “cliente”, mas sim “cooperado”, pois cada um tem o seu papel dentro desse cenário. Cada sócio tem direito a um voto na assembleia, proporcionado a forma mais justa de gestão, decisões sobre o futuro da cooperativa e participação na sociedade. O momento é de incertezas e as instituições financeiras ficarão mais restritivas ao crédito, devido às dúvidas de como a economia irá reagir e em que tempo isso ocorrerá. Mas, acredito que o período mais crítico já tenha passado.

Com a reabertura progressiva, aumenta o otimismo na economia. Sendo assim, o perfil dos clientes deverá se adaptar às novas condições do mercado, mas valorizando mais aqueles que se dispuseram a ajudar na hora de maior necessidade. Outras coisas devem mudar, especialmente em relação ao atendimento. Desde o início da quarentena, criamos um horário especial para pessoas de risco, reduzimos o número de pessoas nas agências, instituímos o uso obrigatório de máscaras, passamos a higienizar frequentemente nossos espaços e disponibilizamos álcool em gel para nossos colaboradores e cooperados.

Acredito que essa prática deverá ser mantida pelo Sicoob, foco na forma humanizada, mas o direcionamento para o atendimento digital também ocorrerá para aqueles que preferem esse tipo de atendimento. Acredito que 2020 será um ano difícil, mas que no primeiro trimestre de 2021 teremos grandes oportunidades de retomar nossa economia. Ainda é cedo pra falar em tempo de recuperação, pois nem reabriram totalmente o comércio e não há dados suficientes para nos posicionarmos sobre o verdadeiro estrago causado pelo pandemia.

Mas, devemos retomar sim nosso crescimento. Em 2019 atingimos 20 agências em 15 municípios no estado. Crescemos 19% em número de associados, 27% em operações de crédito, 25 % em aplicações, 13% nos ativos totais, 79% em rendas de prestações de serviço e 16% de aumento nas sobras, chegando a R$ 15,2 MM.

Em resumo, acredito que o cooperativismo será no futuro, a maior e melhor forma de relacionamento entre as pessoas, pois além de agregar valor moral, educacional e financeiro, proporciona a construção de um mundo melhor, criando oportunidades iguais a todos e deixando o legado da importância do compartilhamento para as futuras gerações.

(*) – É presidente do Conselho de Administração da Sicoob Cocre (www.cocre.com.br).