Já imaginou se fosse possível reaproveitar resíduos, evitando descartes, e ainda criar energia? Pois essa tecnologia, que alia economia circular e transição energética, já existe. É a bioenergia, que está no cerne da bioeconomia e é fundamental para tornar a economia cada vez menos ancorada em combustíveis fósseis.
Presidente da Bioenergia Brasil, Mário Campos destaca que, hoje, a modalidade representa cerca de 6% da energia usada no mundo. Ele explica que a bioenergia tem três pontos fundamentais. Primeiro, é flexível, podendo ser apresentada nas formas sólida, líquida e gasosa.
Assim, pode ser utilizada em diferentes contextos, como, biogás, geração de energia, geração de calor e biocombustível líquido em veículos, aviões e navios. Os outros pontos consistem na capacidade de utilizar a infraestrutura existente e na escalabilidade. “O Brasil tem um potencial muito grande dentro dessa área”, enfatiza.
Para se ter ideia dessa capacidade, a presidente-executiva da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), Renata Isfer, ressalta que o país usa apenas 3% de seus resíduos para fazer biogás e biometano. “A gente produz cerca de 5 milhões de metros cúbicos de biogás e podemos chegar a quase 200 milhões de metros cúbicos, além de 120 milhões de biometano. O potencial é gigantesco”.
Ela explica que a bioenergia pode, inclusive, ser utilizada pelo cidadão comum. “Você vai pegar o seu resíduo e transformar em energia elétrica para a sua fazenda ou em biometano para abastecer os veículos ou, ainda, fazer biofertilizantes”. Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso (Fiemt), Silvio Rangel cita exemplos como o bagaço de cana para a cogeração de energia e a vinhaça para a produção de biogás e biometano. “O etanol de milho, por exemplo, aproveita resíduos para cogeração de energia”, completa.
Para ele, “o setor de bioenergia é parte fundamental na transição energética que tanto o mundo procura”. Alinhada com o presidente da Fiemt, Renata afirma que há um grande potencial na agroindústria, principalmente para a indústria sucroenergética. “Isso é uma oportunidade não só de descarbonização, mas também de negócios”, acrescenta.
Gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo defende que o Brasil tem a capacidade de aumentar sua produção de bioenergia sem a necessidade de utilizar terras florestais ou causar impactos negativos na produção de alimentos, uma situação que difere da realidade observada na maioria dos países.
Embora o tema esteja em alta, a presidente da Abiogás afirma que a bioenergia ainda não tem seu potencial de descarbonização reconhecido. “A gente ainda encontra uma certa dificuldade para explicar que o hidrogênio renovável, vindo do biometano ou do biogás, tem menor pegada de carbono. A bioenergia vem do que é plantado. E, quando você planta, você gera o oxigênio para a atmosfera e faz a captura de carbono”.
Mário Campos cita como exemplo da cadeia completa da bioenergia uma planta de biofertilizante acoplada a uma usina que processa cana-de-açúcar. Essa usina produz toda a energia que ela necessita para a produção de açúcar e etanol a partir do bagaço de cana, exporta energia para o sistema, produz açúcar (alimento), etanol, biocombustível e, futuramente, vai produzir biogás por meio da vinhaça, que é um subproduto da produção de etanol.
Como nesse sistema nada se perde, essa vinhaça é tratada e retorna para o campo, pois é rica em potássio. Já o biogás e o biometano vão servir como base para a produção de biofertilizante. “É um sistema completo, fechado, onde a gente não perde nada. Esse é um sistema que, de fato, é um sucesso no Brasil. A gente começou isso antes de o mundo falar em transição energética. Hoje, nós estamos à frente. Precisamos manter o foco e desenvolver novas tecnologias”.
O Indústria Verde é uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para apresentar as contribuições da indústria brasileira à agenda ambiental. A indústria é parte da solução no desenvolvimento sustentável. O setor produtivo é um dos pioneiros a assumir a responsabilidade de estimular a implementação dos compromissos climáticos no país.
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