Daniel Peralles (*)
O empreendedorismo é o motor do crescimento econômico brasileiro. As micro e pequenas empresas (MPEs) representam 30% do PIB nacional, um número expressivo que comprova a força desse segmento para fazer a economia girar. Mas empreender no Brasil nunca foi fácil.
Antes da pandemia, segundo o Sebrae, uma em cada quatro empresas fechava antes de completar dois anos de existência. Com a crise do coronavírus, segundo o IBGE, somente em julho, 715 mil pequenos negócios, com até 49 empregados, fecharam. Há poucos meses, quando falávamos de Transformação Digital nesse segmento, estava claro como cada empreendedor estava vivenciando a sua própria jornada de mudança – alguns em estágios mais avançados e outros menos.
Porém, em março de 2020, a pandemia chegou e forçou um movimento da digitalização generalizado. Isso mesmo, forçou! Em poucas semanas, vimos o isolamento social obrigar diversas indústrias a repensarem os seus modelos de negócios e para muitos, a única forma de continuar operando foi a adotar ou acelerar a jornada digital. Mas e as pequenas empresas, como ficam?
Para entender, é preciso fazer uma reflexão e dar um passo para trás. Em 2016, Klaus Schwab, economista e escritor alemão, afirmou: “estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes” – ele não estava falando do coronavírus e sim, da 4ª Revolução Industrial.
O que Schwab e nenhum de nós esperávamos era uma pandemia, mas ela chegou e como ele previu, trouxe uma realidade diferente de tudo que havíamos vivenciado até o momento. Agora, o home office, delivery, lives de entretenimento, homeschooling, e-commerce foram incorporados ao nosso dia a dia. A crise vai passar, mas vai deixar um impacto em todos, inclusive entre as MPEs.
Foram 715 mil empresas que fecharam. É muita coisa. Uma pesquisa do Sebrae diz que mais da metade dos MEIs e pequenos negócios estão fechados porque só conseguem operar de forma presencial e 12% diz que poderia estar operando, mas que não tem a tecnologia para isso. A tecnologia existe, mas quem trabalha por conta ainda não a enxerga como recurso capaz de auxiliá-lo de fato.
Faz sentido porque durante anos, todos benefícios das inovações tecnológicas eram restritos às grandes companhias, que tinham recursos para investir em soluções que necessitavam de grandes aportes de investimentos em hardware e software. Ou seja, um movimento que excluía as pequenas. Porém, com a popularização da computação em nuvem essa dinâmica mudou e facilitou o acesso à tecnologia.
Hoje, já é possível fazer várias tarefas de gestão em aplicativos gratuitos ou com valores muito acessíveis e de uma forma fácil de usar. As pequenas empresas têm a vantagem de conseguirem fazer mudanças mais rápidas. E é justamente essa capacidade de adaptação aliada à criatividade do brasileiro e ao potencial da tecnologia que podem salvar muitos pequenos negócios.
As companhias maiores conseguem investir em soluções robustas, mas ao mesmo tempo sofrem porque são grandes estruturas departamentalizadas, com gestão hierarquizada, muita burocracia e processos demorados. A Dona Joana que vende bolo só precisa consultar a si mesma se decidir vender novos sabores – ela não precisa criar um projeto e passar por diversas aprovações. E com o acesso a tecnologia, ela consegue promover e vender seus novos sabores de forma rápida e eficiente.
O movimento forçado de digitalização criado pela pandemia obrigou as empresas, independente do porte, a adotarem novas formar de trabalhar para se manterem competitivas. E já que embarcar na transformação digital não é mais uma escolha e sim uma questão de sobrevivência.
A vantagem competitiva estará nas mãos de quem entender que pequenas empresas também precisam de planejamento, controles e ferramentas inteligentes. E que tudo isso já está disponível à distância de poucos cliques.
(*) – É head de tecnologia da ao³.