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O futuro da videoconferência é a Inteligência Artificial

em Destaques
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Gautam Goswami (*)

Para quase um terço da mão-de-obra dos Estados Unidos, a oportunidade de continuar tanto a trabalhar como a se ‘encontrar’ com colegas de trabalho sem sair de casa nos primeiros meses de 2020 foi algo tão incrível quanto um milagre.

Se a Covid-19, ou qualquer outra pandemia de mesma magnitude, tivesse chegado antes de 2020, ou até mesmo uma geração anterior, esse tipo de transição do ambiente laboral físico dentro da empresa para o home office não seria possível, ao menos não da forma e com a força que aconteceu.

Para a maioria das organizações, ter o seu pessoal trabalhando de casa provou ser uma alternativa notavelmente produtiva em relação ao trabalho convencional baseado no escritório – apesar de, claro, depender substancialmente dos dispositivos dos próprios funcionários na utilização de tecnologias de videoconferência baseadas na Internet.

Evidentemente, nem tudo é perfeito. Muitos usuários enfrentaram problemas tanto com os sons ambientais como com as imagens das videoconferências. Não faltaram ruídos e ecos de fundo. Alguns se esqueceram de entrar no modo mute quando outros membros da equipe, ou mesmo da família, entravam nas sessões de videoconferência. Para complementar, as vozes de algumas pessoas que falavam diretamente em seus microfones explodiam em altura, enquanto outras mal eram audíveis. Os rostos eram muitas vezes mal enquadrados e mal iluminados.

A resolução era frequentemente horrível, acompanhada quase sempre de movimentos bruscos. Os fundos virtuais, quando utilizados, acabavam sendo um transtorno até mesmo risível engolindo frequentemente as partes do corpo dos usuários enquanto falavam. Os olhares dos participantes voltavam-se normalmente para suas telas ou notas e não nas câmeras e em seus espectadores. Para uma geração que literalmente cresceu assistindo TV, as videoconferências pareciam mais um show de horror que outra coisa.

Agora, imagine, por um momento, que um diretor de televisão, um profundo conhecedor de seu ofício, estivesse disponível para dirigir a parte técnica da conferência. Problemas como som e iluminação teriam sido identificados de imediato e corrigidas. Por exemplo, a imagem de um participante que tivesse sido emoldurado mostrando seu rosto apenas do nariz para cima.

Os ângulos da câmera poderiam ser ajustados para seguir os movimentos do orador. Os níveis de som seriam equilibrados. Os níveis de luminosidade poderiam ser acertados. Os oradores poderiam ser colocados em fila de espera para evitar falar uns sobre os outros. E os filtros poderiam ajudar a suavizar ruídos de fundo indesejados.

Esses passos ajudam a melhorar a qualidade das conferências remotas, mas ter diretores de TV disponíveis como se estivessem em estúdio é uma simples fantasia. O mais interessante é que, na realidade, nenhuma destas funções exige a intervenção de uma pessoa para fazer a direção ao vivo. Todas essas medidas, e muito mais, podem ser automatizadas, resultando em qualidade técnica extremamente melhorada para as videoconferências. E mais: as empresas que fornecem o software de videoconferência mais popular estão de vento em popa nas águas turbulentas da Covid.

O fato é que, ao misturar Inteligência Artificial em seus aplicativos, os principais fornecedores de software começam a fornecer também melhorias de videoconferência que mesmo um estúdio de televisão comercial bem equipado teria dificuldade em oferecer. Isso não se limita apenas aos trabalhadores em home office, embora estes estejam certamente entre seus beneficiários. Só para citar um exemplo, a IA pode ajudar a melhorar a compressão de vídeo, resultando em níveis de resolução de imagem que rivalizam com o padrão HD.

Agora, pense nisso no escritório da empresa. A IA pode literalmente fornecer análises da sala de reuniões com base em padrões de usuários que podem automatizar a reprogramação de chamadas, a reprogramação de salas de reuniões, o envio de notificações importantes e a sugestão de recursos que os participantes possam necessitar nas reuniões.

A Microsoft e a Google já estão lançando funcionalidades de software capazes de reconhecer e cancelar ruídos de fundo como cortadores de grama, tráfego, cães latindo ou barulho de utensílios de alimentação, para uso pessoal e corporativo. Ao contrário das características de cancelamento de ruído de largo espectro dos auscultadores atualmente disponíveis, este recurso utiliza um algoritmo baseado em nuvem para analisar o som e suprimir ruídos indesejados ao mesmo tempo em que ‘coloca’ os sons da fala humana no lugar.

Ao utilizar recursos na nuvem ao invés de confiar no próprio dispositivo de cálculo do usuário, o sistema ajuda a garantir que o levantamento pesado é feito onde os recursos computacionais são maiores. Além disso, tanto Google como Microsoft já estão a postos para oferecer às empresas e usuários finais transcrições multilíngues de tudo o que foi dito durante a conferência. Mas as novidades não acabam aí.

Demonstrações de ferramentas de software semelhantes às usadas para criar “deep fakes” estão agora sendo utilizadas para mudar a ótica dos participantes, e até mesmo ajustar todas as suas posturas, a fim de proporcionar uma melhor visão de câmera. O que se chama de “extração de pontos-chave”, quando músculos faciais específicos são animados para criar uma versão realista do usuário, apenas com uma pequena banda larga, ou mesmo a criação de avatares inteiros para representar palestrantes, oradores ou os participantes de uma videoconferência também já estão em desenvolvimento.

Os backgrounds de cada participante também podem ser substituídos por fundos virtuais. E é até mesmo possível simular uma plateia em estúdio utilizando um conjunto de fotografias de cabeças e ombros tiradas de outro ambiente. Naturalmente, muitas pessoas esperam regressar ao ambiente tradicional do escritório, pelo menos durante parte da semana de trabalho. E assim que a pandemia estiver sob controle, esse regresso é uma forte probabilidade.

No entanto, é também altamente provável – e inevitável – que o home office continue a ser um elemento essencial do ambiente de trabalho no futuro, com postos especificamente criados para melhorar a experiência e a eficiência do ambiente laboral a partir de casa. Pode não ser o mesmo que aparecer no escritório, mas em alguns aspectos isso é bem melhor.

(*) – É CMO e EVP global de Marketing & Produtos da TeamViewer.