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O caminho da liderança pelo exemplo

em Destaques
terça-feira, 19 de outubro de 2021

Janine Motta (*)

O mundo corporativo é guiado por metas, por novos desafios que surgem a cada dia e pela exigência de uma entrega profissional que faça jus aos objetivos e demandas estratégicas de um negócio. Diante deste cenário, é papel das lideranças extrair o melhor de seus colaboradores, de modo que os anseios de uma empresa (seja ela uma startup ou uma companhia tradicional do mercado) sejam conquistados de modo ágil e sustentável do ponto de vista organizacional.

No entanto, para atingirmos esses propósitos é preciso muito mais do que a definição de um planejamento de metas ousado. Antes mesmo dessa etapa, devemos ter a capacidade de “olharmos para nós mesmos” e avaliarmos nosso próprio desempenho, postura profissional e aquilo que estamos transmitindo para os nossos times. Você já parou para pensar, por exemplo, se as exigências que faz para sua equipe estão de acordo com seu nível de entrega ou mesmo na forma como se comunica e delega essas responsabilidades?

Refletir sobre tais pontos é fundamental pois, em tempos de busca pelo empoderamento dos colaboradores e pela autogestão em modelos organizacionais mais colaborativos, a liderança pelo exemplo não é mais uma simples opção ou “estilo gerencial”, mas uma condição sine qua non para a geração de resultados e para conduzirmos nossas equipes rumo a excelência. Dentro deste contexto, temos também de ter em mente que cada uma de nossas atitudes enquanto líderes terá um impacto positivo ou negativo no desempenho de nossas equipes.

Poderemos, neste sentido, tanto reforçar um comportamento positivo, engajar e até fazer com que um colaborador nos surpreenda e vá além de suas metas diárias; quanto estimular posturas que não condizem com a cultura da empresa, fortalecer falhas de desempenho ou mesmo criar inseguranças em um talento e bloquear seu potencial criativo. Tudo isso passa pela perspectiva de liderança pelo exemplo. Em outras palavras: se exijo algo de meu colaborador e não sou o primeiro a inspirá-lo, a demonstrar que tal meta é possível e que meu comportamento se adequa àquilo que espero dele, minha autoridade e poder de guiar uma equipe, sem dúvidas, estará comprometido.

Além do mais, temos de rememorar de modo contínuo que somos um ponto de referência, pontes de impacto (positivo ou negativo) que, no melhor dos mundos, irá desempenhar um papel de aspiração para um profissional ao longo de toda a sua carreira. Essa perspectiva vai de encontro, aliás, ao insight de Steve Jobs de que devemos ser um “parâmetro de qualidade” para as nossas equipes, afinal de contas, nem todos “estão acostumados a um ambiente onde o melhor é esperado”.

Não por acaso, segundo dados da Gallup divulgados pela HSM Management, líderes inspiradores conquistam taxas de engajamento de 73% em suas equipes (com a ausência deste atributo, no entanto, o nível de engajamento cai para 9%).
Mas quais são os atributos e as atitudes para as quais devo me atentar quando desejo construir um modelo de liderança pelo exemplo? Embora essa resposta tenha múltiplos direcionamentos, elas certamente passam pelos soft skills.

Um estudo de 2019 da escola de liderança australiana, The Growth Faculty apontou, por exemplo, que a habilidade de ouvir (escuta ativa), a empatia, o autoconhecimento (self-awareness, que se relaciona com o olharmos para nós mesmos que comento no início) e a humildade para dialogar e convencer (não impor) reside entre as principais virtudes de uma liderança efetiva e qualitativa.
Além disso, números da Smarp reforçam a importância de uma comunicação assertiva, com 3 em cada 4 profissionais indicando a clareza e transparência na difusão de informações como os principais atributos que todo líder deve possuir.

Vale salientar que quando aprimoramos a forma como nos comunicamos e lidamos com cada colaborador fomentamos também uma ponte para a formação de novas lideranças alinhadas com um propósito de mais empatia e atenção pelo outro no mercado. É interessante observarmos um dado interessante sobre liderança feminina nas empresas: segundo levantamento da consultoria americana Korn Ferry, mulheres tem maior domínio dos soft skills tão buscados pelo mercado para a construção de uma liderança efetiva e que se comunicam diretamente com o conceito de liderança pelo exemplo.

A pesquisa indica, dentre outras questões, que lideranças femininas demonstram uma consistência 86% superior na aplicação self-awareness, 46% no campo da empatia e 9% em inteligência emocional. Tais dados, por sua vez, vão de encontro a um amplo estudo da Harvard Business Review realizado em 2019, que demonstrou que mulheres tem uma pontuação superior em 17 dos 19 principais skills de liderança, incluindo comunicação efetiva, capacidade de solucionar problemas, de construir relações e atuar de modo colaborativo.

Apesar disso, há um longo caminho para ser trilhado pelas lideranças femininas dentro de um mercado que só agora começa a debater de modo mais presente a disparidade de gênero nas companhias. Para termos uma ideia deste cenário, no Brasil, apenas 3% das maiores empresas do país contam com mulheres como CEOs. Para transformarmos este cenário, além de fomentarmos tais debates e valorizarmos o espaço que cada mulher conquista no mercado, temos de pôr em prática o modelo de liderança pelo exemplo para inspirar novas e novos líderes que abracem a perspectiva de um futuro mais diverso.

(*) – É Comunicóloga, Jornalista e Profissional do Marketing, Mestra em Web Analytics e pós-graduanda em Marketing pela USP. Atualmente é Gerente de Marketing da Docket.