133 views 8 mins

Nem presencial, nem remoto: o melhor formato de trabalho é o colaborativo

em Destaques
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Rafael Gibini (*)

Que mar calmo nunca fez bons marinheiros todos nós já sabíamos, mas a pandemia tem formado não apenas visionários em navegação por mares revoltos, mas verdadeiros especialistas em tornar as relações de trabalho muito mais humanizadas.

E o pior, tudo isso, praticamente da noite para o dia. E é dessa forma, que os CEOs têm se desafiado e conseguido gerar mais engajamento dos colaboradores. Entendemos que a comunicação transparente aumenta a confiança dos times e, a partir daí, é possível a colher os frutos mais valiosos dessa relação: o impacto direto na produtividade dos profissionais.

Logo no início, quando foi preciso virar a chave da cultura corporativa e passar a liderar num formato inédito, sem possibilidade de ser previamente testado, as lideranças entenderam que, antes de tudo, tínhamos que deixar claro para seus colaboradores que estávamos juntos, desenvolvendo um ambiente confiável para que todos conseguissem fazer boas escolhas.

O segredo para o sucesso estava na transparência da comunicação. A partir desse momento surgiram várias iniciativas com o intuito de colocar em prática um gesto que revolucionou o mundo do trabalho: o acolhimento e o exercício verdadeiro de empatia. Esse foi o caminho que permeou nossas ações nos momentos mais críticos do início da pandemia, quando as inúmeras perguntas ainda estavam sem respostas.

Foi no acolhimento que aprendemos a valorizar a escuta empática com nossos times, fundamental para identificar suas necessidades e tornar muito mais viável uma convivência à distância. Tornar essa relação cada dia mais transparente é algo básico e que, independentemente de pandemia, sempre deveria acontecer. Encontrar novos caminhos para estruturar essa nova cultura de aproximação passou por iniciativas que trouxeram resultados muito positivos que hoje nos encorajam a dividir essa experiência.

Mais que nunca precisamos focar nas pessoas e, para isso, desenvolvemos ações de apoio para cuidados com a integridade física de todo o time. As ações incluíram desde o abrupto fechamento dos escritórios até o monitoramento diário de suspeitas e de casos confirmados de Covid-19 entre nossos colaboradores. Os cuidados com a integridade física e psicológica de todos tornaram-se ainda mais parte estratégica da condução dos nossos negócios.

Conferir a eles mais segurança foi fundamental para que esse apoio gerasse como resultado um aumento de engajamento que tem nos surpreendido. Investir nessa relação cada vez mais próxima – mesmo que à distância – nos abriu um horizonte de possibilidades. Na agenda do CEO mais um índice precisou ser monitorado: a saúde mental dos nossos colaboradores. A partir dessa necessidade, desenvolvemos dispositivos que mostrassem o quanto a empresa está interessada nos sentimentos e na saúde mental das equipes.

Um deles foi o ‘termômetro de humor dos times’ que traça um mapa dos sentimentos individuais de cada profissional. Isso tem gerado tanta aproximação e mostra claramente que criamos um ambiente onde nossos profissionais encontram segurança e apoio para falar de si. Aprendemos também que celebrar é preciso. Mesmo diante de momentos tão difíceis para a humanidade, entendemos que era necessário reconhecer e comemorar as conquistas de cada um de nossos colaboradores.

Seja por meio de uma promoção de cargo, seja por uma ideia que agregou valor às nossas rotinas. Para isso, abrimos um leque de ações com esse objetivo e rompemos uma barreira cultural, uma tradição histórica e injusta que sempre tratou como “segredo” temas importantes para cada profissional. Mais uma vez, a transparência nas nossas relações mostrou ser uma estratégia bem-sucedida.

Esses cuidados criaram na empresa uma espécie de “músculo” que não parava de se fortalecer e que nos fez avançar esses cuidados para nossos entornos. Conseguimos promover programas para colaborar com nossos vizinhos em situação de risco social, sempre envolvendo nossos colaboradores que indicavam instituições e comunidades que precisavam com mais urgência de nosso apoio assistencial e social. Quantas riquezas e conhecimentos uma ‘força tarefa’ como esta foi capaz de produzir?

Incontáveis, principalmente pela transformação que provocou não apenas no outro, mas também em cada um de nós. Mais que prestar apoio em benefício da comunidade, fomos nós os verdadeiros beneficiados. Estimular e desenvolver novos comportamentos e competências impulsionou a mudança de mindset. Precisamos reconhecer e comunicar a importância de cada indivíduo para uma companhia. Eles são nossos melhores embaixadores.

Contudo, o rompimento forçado com o modelo tradicional da relação empresa e colaborador foi um dos maiores desafios de carreira para as lideranças. Ainda está sendo. Promover não apenas uma mudança de gestão, mas uma verdadeira transformação cultural e com agilidade sem precedentes. Aprendemos a olhar para as nossas pessoas como nosso melhor valor.

Por elas, nossos propósitos hoje focam no desenvolvimento do melhor ambiente para que possam ampliar os seus conhecimentos todos os dias e, o mais importante, para que encontrem a felicidade no trabalho. É a partir daí que uma empresa se torna de fato ESG e os frutos que essa experiência traz deve ser comunicado para que possa se multiplicar. É isso também, que nos tem feito entender que o melhor formato de trabalho não tem a ver tanto com o presencial ou remoto.

Tem a ver com a colaboração e com a percepção de que os talentos precisam de reconhecimento, colaboração e ambiente seguro e não de retenção. Essa é a empresa do amanhã que estamos construindo hoje.

(*) – Formado em Administração de Empresas com MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV-SP, é CEO da Melhoramentos desde abril 2020.