Gustavo Caetano (*)
Não há dúvidas de que a tecnologia tem avançado muito nos últimos anos e, a cada momento, surgem novas soluções que atuam em diferentes segmentos e têm funções específicas a fim de trazer mais autonomia, agilidade e automação para determinados processos. Por isso, todas as companhias, independentemente do setor de atuação, seja a padaria, o mercadinho ou uma grande organização, terão que passar pelo processo de Transformação Digital e serão consideradas empresas de tecnologia.
Disso não podemos fugir, mas com certeza as mudanças não vão parar e a cada ano vão surgir novas inovações a fim de revolucionar um setor ou até mesmo a economia como um todo daqui um, dois, cinco anos. Nas últimas semanas, temos visto muitas discussões e matérias sobre um fenômeno chamado metaverso e que vem sendo motivo de muitas reuniões, tanto nas pequenas, como também nas grandes instituições. Esse é um novo termo que vem revolucionando e mudando muitos paradigmas. Mas afinal, o que isso significa?
Primeiro, é preciso destacar que é um conceito que une o virtual e a realidade aumentada, ou seja, a reprodução da realidade em um plano virtual usando dispositivos digitais. Na prática, podemos dizer que ele conduz as pessoas para um cenário que já existe, mas que obviamente não poderia ser acessado num universo real. Mas, agora, essa tecnologia já é palpável e está revolucionando muitos setores da economia.
Vale ressaltar que essa nova onda ganhou força quando Mark Zuckerberg divulgou que, em até cinco anos, o objetivo é se tornar uma empresa de metaverso. Neste momento, essa solução está disponível apenas nos Estados Unidos e Canadá, e é capaz de criar inúmeras possibilidades no ambiente social e corporativo, promovendo várias conexões humanas de forma mais completa.
Por conta da repercussão que essa notícia causou no mercado como um todo, muitas marcas passaram a se reinventar e adotar essa nova tendência em seus planejamentos a curto e longo prazo e, assim, ela vem chamando a atenção de setores de luxo, saúde, educação, varejo, entretenimento, entre outros. Isso porque, segundo estudo feito pela Bloomberg Intelligence, este mercado deve movimentar cerca de US$ 800 bilhões.
De acordo com o relatório do Morgan Stanley, o metaverso e os NFTs têm a possibilidade de gerar até 2030 cerca de US$ 50 bilhões de receita no universo de luxo. O sucesso quase garantido pela corporação se dá pelo fato de que as marcas poderão aderir aos avatares para que os usuários consigam interagir e ter à sua disposição um guarda-roupa com roupas virtuais diversificadas para vários momentos, aproximando-os ainda mais.
Ainda quando olhamos para o setor varejista, há uma gama enorme de possibilidades que esse novo conceito pode oferecer para os consumidores. Se hoje nós já utilizamos o digital para adquirir um produto ou serviço e ter a comodidade de comprar sem sair do lugar e receber em alguns dias, agora a experiência ficará ainda mais completa com a possibilidade de as pessoas experimentarem cada item.
Tal avanço será possível por meio do metaverso pela facilidade em entrar no shopping virtual, vestir as roupas que são comercializadas por lojas reais e adquirir aquele item sem precisar sair de casa. Isso só acontecerá porque a realidade aumentada e o 3D são os principais pilares do metaverso, que promete ser uma revolução para o varejo, principalmente para o e-commerce. Já no setor educacional, essa tecnologia tende a se destacar também e trazer novas experiências para os alunos nos próximos anos.
Devido a pandemia de Covid-19, o EAD cresceu de forma significativa, já que se tornou uma alternativa para que os alunos pudessem continuar seus estudos. No entanto, ao mesmo tempo que ele trouxe benefícios, não podemos deixar de destacar que esse método cria barreiras de relacionamento entre estudantes? e professores, que estão separados por uma tela, tornando esse processo muito frio, solitário e até mesmo contraproducente.
Quando adotamos esse método no sistema de ensino, aproximamos o ambiente da sala de aula dos alunos. Assim, ao utilizar um óculos especial, alunos vão migrar automaticamente para este local, por meio da IA e da realidade aumentada. Nesse caso, o engajamento tende a ser maior, já que a nova experiência vem para reduzir a distância e quebrar a barreira da tela que afasta. Já no setor da saúde, o metaverso, que está sendo impulsionado pela adoção da tecnologia 5G, tem trazido vantagens significativas para os pacientes e profissionais da área.
Como exemplo, posso destacar o uso dessa tecnologia durante as cirurgias com crianças, onde elas utilizam óculos de realidade virtual para se acalmarem e distraírem, além de ser uma ferramenta excelente para explicar de forma intuitiva e lúdica o passo a passo do procedimento que será realizado nelas fazendo com que os médicos consigam terminar de maneira rápida e fácil e tudo seja feita de forma mais humanizada.
Outro exemplo a ser citado é com relação ao uso em pré, intra e pós-operatório, onde os médicos podem analisar os exames em tempo real e com uma boa qualidade de imagem, tendo assim uma visão mais clara sobre a situação de cada um deles. Vale destacar que isso pode ser aplicado em várias especialidades, como ortopedia, cardiologia, oncologia, entre outros.
Agora, mesmo diante de tantas vantagens e implicações positivas que o metaverso deve impactar em vários setores, ainda há muito o que ser discutido e estudado sobre o assunto, pois estamos lidando com seres humanos usando uma tecnologia muito avançada. Todas as mudanças vêm para evoluir a humanidade e, ao mesmo tempo, trazem implicações éticas e sobre quem são os detentores de tanto poder. Com o metaverso não será diferente.
O avanço da tecnologia trouxe para todas as idades muitas consequências e, aos poucos, toda a sociedade foi aprendendo a lidar com ela e balancear entre o universo físico e o online. Agora, com a chegada desse novo sistema, será preciso ter muita atenção, principalmente com os jovens, que vivem intensamente e utilizam a inovação em praticamente tudo o que fazem. Essa junção entre os dois ambientes vai ser usada com muito mais intensidade e velocidade pelas novas gerações, tornando-as ainda mais dependentes dessas soluções.
Por isso que, mesmo diante de tantas vantagens para o ambiente corporativo, tenho receio de que, na vida pessoal, isso traga consequências irreversíveis – como já tem acontecido com muitos jovens que usam as redes sociais de forma nada saudável. Digo isso porque, em alguns momentos, será possível vivenciar momentos que não condizem com a realidade e com a condição financeira, por exemplo.
É preciso ter muito cuidado para que a vida sem os óculos 3D não seja um fardo para as pessoas. O grande perigo nisso tudo é o possível aumento de transtornos psicológicos sérios para as crianças e jovens, que são ávidos por essas inovações e muitas vezes são influenciados por status e posições sociais.
Dessa forma, vale o alerta a todas as marcas e especialistas envolvidos na implementação dessa nova revolução. Temos que ter muita responsabilidade sobre todas essas transformações e não visar apenas business, mas também entender quais serão os impactos na vida e no cotidiano de todos e com isso, saber equilibrar de forma saudável para todos. Pensem nisso!
(*) – É CEO da Sambatech e Samba Digital, e colunista da MIT Technology Review Brasil.