Romulo Perini (*)
Muitas vezes a cobrança exagerada por resultados ou palpites que nem sempre estão condizentes com a realidade do negócio, leva investidores em startups a adotarem formas de abordagem totalmente contrárias a um tipo de parceiro que o mercado convencionou chamar de ‘anjo’.
Por outro lado, por mais angelical que seja, paciência tem limite e a falta de respostas claras por parte dos executivos que estão à frente do empreendimento investido pode acabar levando a atritos sérios. Diante da clara necessidade de equilíbrio nessa relação, começa a ganhar força no mercado a figura do intermediador de investimento anjo.
Um ente independente que consegue entender as necessidades dos dois lados e conduzir o processo, desde a análise do investimento até a realização, reduzindo significativamente a incidência de atritos e buscado tirar o máximo da relação entre ambos.
Os chamados investidores ‘Anjo’ são pessoas com capital que têm interesse em aplicar recursos nas etapas iniciais de desenvolvimento das startups como uma forma de diversificação do seu portfolio. Geralmente eles têm predileção pela aposta em um novo conceito ou na ideia inovadora de um time que tem interesse em desenvolver um novo MVP (Produto Mínimo Viável – traduzido do inglês).
Este tipo de investimento pode ser feito diretamente de duas formas diferentes como:
a. Investimento Individual – Modalidade na qual o investidor decide fazer um investimento direto em uma nova empresa, sem a participação de outros investidores. Para isso ele assina um contrato de empréstimo conversível – chamado de mútuo conversível – que permite trocar um capital emprestado por uma eventual participação dentro do negócio investido.
Ponto Atenção: Nesta modelagem o risco financeiro do investimento fica todo com o investidor que não compartilha com outros investidores, e pode faltar complementação de know-how.
b. Investimento em grupo – Formato que une em geral 10 a 20 investidores para realizar o investimento através da formalização de um empréstimo conversível (mesmo modelo do individual). Em geral, dois ou três investidores são selecionados no grupo para fazer o acompanhamento do negócio, mas todos tem acesso aos empreendedores da investida.
Ponto Atenção: O grupo pode não estar alinhado 100% durante toda a jornada do investimento e isso pode gerar estresse tanto dentro do grupo de investidores como também perante os empreendedores, prejudicando o negócio como um todo.
Nos dois casos, a falta de experiência tanto de um lado (anjos) como do outro (empreendedores da startup) pode se transformar em problema. Por isso está cada vez mais aparecendo a figura do intermediador de investimento, que tem sido geralmente assumida por consultorias especializadas ou investidores seriais, criando uma espécie de blindagem que beneficia a ambos os lados.
Os representantes deste novo elo de conexão entre as partes, implementam logo no início um modelo de gestão mais robusto nas investidas, organizando um conselho consultivo que se reúne para discutir os resultados e projetos mensalmente.
O resultado desta reunião é então compartilhado com os demais investidores que se reúnem com a mesa frequência e tem a oportunidade de ter acesso a um documento detalhado dos resultados do negócio e dar seus palpites / sugestões ou dúvidas para serem inicialmente debatidas no grupo e depois levadas aos empreendedores. Tudo isso, sempre coordenado pelo intermediador.
Fica claro no processo que a correta gestão de stakeholders é fundamental para o sucesso da relação visando um desenvolvimento mais rápido e bem-sucedido do negócio. Além do capital para acelerar o processo de crescimento, um quadro de investidores qualificados pode ajudar estrategicamente o negócio.
Muitas vezes, a experiência tem mostrado que negócios com grande potencial até conseguem atrair o capital humano e financeiro necessário para alavancar seu crescimento, mas a falta de equilíbrio para administrar as tensões acaba impedindo que as coisas aconteçam de uma forma satisfatória para os envolvidos.
Ao contar com consultorias especializadas, de preferência que tenham conhecimento ou que tenham atuado até como consultoria para a startup, o gerenciamento das expectativas, frustrações e ansiedades ganha um filtro de qualidade que proporciona aos anjos a possibilidade de continuarem sendo vistos como sinônimos de bondade.
Enquanto isso, os empreendedores conseguem focar 100% no negócio em si, buscando o tão esperado crescimento que vai beneficiar a ambos os lados.
(*) – É sócio-diretor da Play Studio, consultoria de inovação e venture builder.