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Inteligência Artificial x Inteligência Natural: não é um embate, é uma soma

em Destaques
domingo, 02 de junho de 2024

Pedro Signorelli (*)

Precisamos admitir um ponto: a inteligência artificial veio para ficar. Antes de mais nada, é importante ter claro isso. Assim como os computadores, a internet, o celular. Todas estas tecnologias disruptaram não só o mercado, mas a sociedade toda. Não será diferente com a IA, aliás, será ainda mais disruptivo.

Dito isso, temos também que considerar o que os ‘adivinhadores de futuro’ andam falando por aí, mas sempre lembrando de não levar tudo ao pé da letra. Já existem empresas dizendo que terão uma IA como CEO, afirmando que será o fim da humanidade como conhecemos hoje e coisas do gênero. Isso procede mesmo?

No final do século XVIII, Thomas Malthus, economista e matemático, disse que a produção de alimentos crescia em progressão aritmética e a população em progressão geométrica. Cá estamos mais de 200 anos depois com uma população crescente e um ganho absurdo em produtividade no campo, além de muita gente ainda morrendo de fome.

Não é que não houve efeitos colaterais com o passar do tempo, houve sim, assim como haverá com a inteligência artificial, que não está isenta das consequências das ações em que nós, seres humanos, aplicamos nela com o uso inadequado. Então, as organizações precisam se perguntar “como” e não “se” ou “quando” vamos começar a falar deste tema.

Assim como a automação substituiu vários postos de trabalho nas linhas de produção nos diversos segmentos industriais, a inteligência artificial tem uma capacidade absurda de aumentar a produtividade das organizações na área administrativa. Isso é algo perceptível e também inegável.

O paralelo faz sentido: funções onde o trabalho é braçal e repetitivo, especialmente em linhas de montagem, onde existe pouca necessidade de raciocínio lógico, as máquinas desempenham muito melhor o trabalho e com muito menos custo do que o ser humano. Assim será com a IA neste mesmo contexto em áreas administrativas, mas seu impacto não será restrito a este ponto.

A inteligência artificial tem capacidade de fazer pesquisas, associações e sintetização de milhares de elementos, parâmetros e informações muito maior que a do ser humano. Neste sentido, a coleta, a sintetização e a análise de dados poderão ser feitas de maneira muito mais efetiva, eficaz e eficiente do que um ou vários seres humanos juntos.

Por essa razão, as pessoas podem vir a ficar para trás da IA principalmente por dois pontos. O primeiro: porque as suas tarefas no trabalho se limitam a coisas repetitivas e de pouco valor agregado. Segundo: porque estão acomodadas ganhando seu salário e batendo ponto no final do mês.

Porém, como em toda história, existe o outro lado e há possibilidades de não ficar para trás. Quer saber como? O processo não será simples, mas a resposta é: apostando na Inteligência Natural, aproveitando a capacidade humana para fazer coisas que a IA ainda não sabe fazer e/ou ainda vai demorar a conseguir fazer, se é que conseguirá um dia.

O cérebro humano é bastante subaproveitado e poderíamos sim, nos valer de ferramentas como a IA para nos liberar tempo para executar outras tarefas mais nobres que uma máquina terá dificuldade de fazer. No entanto, isso só vai funcionar de forma efetiva se conseguirmos criar – com a inteligência natural – maneiras para tal.

Estas ferramentas podem nos auxiliar realmente a explorarmos as nossas capacidades e responder ao mandato que temos aqui na terra, que não é se submeter a trabalhos degradantes e ser controlado por máquinas, como se fôssemos uma. A inteligência artificial não vai substituir a relação entre as pessoas. Somos seres relacionais, sempre precisaremos fazer isso, mesmo que através de tecnologia.

(*) – É especialista em gestão, com ênfase em OKRs (http://www.gestaopragmatica.com.br/).