Rose Ramos (*)
O mercado global de TI é o gigante que não para de crescer. No último ano, o crescimento foi 9,1% e a previsão é que movimente US$ 4,5 trilhões em 2022 (Gartner IT Spending Forecast). A demanda por serviços de TI representa 34% desse mercado, o dobro do que movimentam os investimentos em software e quatro vezes o que se investe em data centers.
No Brasil, segundo dados de audiência do LinkedIn, são cerca de 20 mil empresas com mais de 500 funcionários, que representam grande parte dos demandantes por contratação desses serviços, os “tech buyers”. A experiência que temos do mercado nos permite afirmar que cada uma dessas empresas desenvolve ao menos 30 projetos de tecnologia por ano, representando 600 mil projetos de TI. No entanto, falta mão de obra especializada para desempenhar os projetos nas empresas.
Existe a previsão de déficit de profissionais para 800 mil vagas na área até 2025, de acordo com pesquisa da Associação das Empresas de Tecnologia
(Brasscom). O gargalo para recrutar equipes internas de tecnologia soma-se à demanda por serviços pontuais específicos, baseados em tecnologias que não são o core dos negócios, ou que requerem certificações especiais, exigindo que se contratem cada vez mais serviços de TI providos por fornecedores externos.
A previsão é que a demanda por serviços cresça 2.8 pontos percentuais a mais do que os investimentos gerais em tecnologia neste ano (Gartner IT Spending Forecast). E, para contratar serviços externos, é necessária a alocação de esforços das equipes internas de TI, ainda muito envolvidas na busca e decisão dos fornecedores para a área.
A questão é que estas áreas já estão sobrecarregadas, atendendo projetos críticos e/ou estratégicos às empresas. Mas, em paralelo, são obrigadas a dedicarem um tempo, de que não dispõem, no apoio à contratação de equipes terceirizadas, conforme as demandas pontuais de seus projetos e das áreas de negócios.
Mesmo que não sejam diretamente responsáveis pelo desenvolvimento desses novos projetos, os times de TI acabam se envolvendo na pesquisa de opções no mercado para subsidiar os gestores das empresas na contratação de mão de obra externa, procurando perfis que se adaptem aos requisitos técnicos, às restrições de prazo e orçamento e ao jeito de ser de cada empresa.
Segundo o estudo New B2B Buying Journey & its Implication for Sales, realizado pela consultoria Gartner em 2019, há gasto excessivo de tempo alocado por profissionais de TI nas atividades de procura de fornecedores no mercado para a contratação de serviços e soluções de tecnologia: 27% do tempo é alocado em buscas on-line e 18% em buscas off-line, totalizando 45% de tempo gasto nos processos de contratação.
Qual a solução? Uma saída é a utilização de sofisticados algoritmos de inteligência artificial (IA), os quais, via match, automatizam as melhores conexões possíveis entre compradores e vendedores, levando em conta detalhes como suas culturas, prazos de atendimento, e especializações. Melhor. Possibilitam, ainda, mais economia às empresas pela redução de horas no processo de escolha de fornecedores.
E tem potencial de resultar em matches melhores do que os obtidos por interações tradicionais de busca, uma vez que os algoritmos aprendem por práticas de Machine Learning e podem considerar feedbacks de sucesso ou insucesso de outras experiências de compradores e vendedores no mercado vivendo situações análogas.
Um match sofisticado, levando em conta uma série de variáveis, baseado em inteligência artificial, pressupõe critérios transparentes, além de maior agilidade e eficiência no processo de busca de fornecedores. Nesse sentido, alguns números são reveladores.
Com o ganho de eficiência no processo de busca por parceiros de serviços de TI através de matches automatizados com inteligência artificial, estimamos ser possível a liberação de ao menos 2 milhões e 700 mil horas de profissionais TI no Brasil a cada ano, o que significam 1.250 profissionais livres, no mínimo, para atuarem em ações que gerem mais valor às empresas. Ao considerarmos a média salarial do setor, que hoje está em torno de R$ 7.680,00, essa aceleração tecnológica equivale à liberação de R$ 125 milhões em horas homem de times de tecnologia.
Enfim, a partir da automação inteligente de matchs na contratação de equipes de TI, os “tech buyers” não precisam mais recorrer apenas aos grandes prestadores de serviços já previamente homologados pelas áreas de compras. Hoje, ao se restringirem a poucos e tradicionais fornecedores, empresas incorrem em custos mais elevados e, eventualmente, menor especialização, menor acesso à inovação ou customização do atendimento.
Outra consequência da oferta de fornecedores de serviços restrita e engessada, muito comum nas grandes empresas, é ver gestores com necessidades não plenamente atendidas indo em busca de novos parceiros, em geral de menor porte, a partir de indicações feitas por amigos por meio de canais como o WhatsApp ou o Telegram, por exemplo.
Esse processo informal, cada vez mais comum, à margem de qualquer regra de compliance, encerra o risco de uma contratação de fornecedor pouco aderente às especificidades do projeto a ser executado.
O conceito disruptivo do match baseado em inteligência artificial veio para ficar. A tecnologia amplia o potencial competitivo dos negócios para quem contrata e para quem vende serviços para projetos de sustentação, evolução e transformação tecnológica.
Estamos falando de um modelo que permite que cada profissional de TI se dedique plenamente àquilo que faz com excelência e propicia às empresas atuar com foco, extraindo o que há de melhor no crescente mercado de TI.
(*) – É CEO e fundadora da startup MatchIt, possui formação em Engenharia pela Unicamp e MBA no IESE Business School.