Mikio Kawai Jr (*)
A regulamentação de um novo cenário no Brasil amplia os caminhos para a consolidação do Mercado Livre de Energia, o MLE: pequenas e médias empresas que usam alta tensão (Grupo A) e pagam uma fatura de cerca de R$ 10 mil, agora podem escolher seus próprios fornecedores. Na prática, isso quer dizer que os consumidores podem negociar contratos diretamente com os geradores e comercializadores de energia. É uma possibilidade que se abre para mais de 200 mil empresas brasileiras atualmente.
Apesar do MLE existir no país desde 1998, só poderiam participar deste ambiente grandes indústrias, que tivessem uma demanda de mais de 500 kV. Com a atual abertura do mercado, os pequenos e médios empresários podem experimentar a liberdade e a flexibilidade de saírem do mercado cativo, em que só é possível comprar energia da distribuidora local.
As vantagens são inúmeras mas, hoje, à frente de uma empresa que produz e vende energia renovável, posso listar as principais, a fim de que o maior número possível de empreendedores e comerciantes elegíveis para o MLE tenham conhecimento deste mundo de possibilidades. A primeira delas é a liberdade de escolha.
Com a ampliação do Mercado Livre de Energia brasileiro, as empresas têm a oportunidade de escolher entre diferentes fornecedores, negociando contratos personalizados que atendam às suas necessidades específicas. Essa liberdade empodera as companhias, o que as permite buscar por preços competitivos, serviços personalizados e fontes mais sustentáveis.
É um modelo de mercado que vigora há anos em países desenvolvidos, como Alemanha, Inglaterra e França, fato que já sinaliza como deve ser produzida e consumida a energia do futuro. Além disso, a competição fomentada pelo MLE impulsiona a eficiência e a inovação. Com diversas empresas disputando a preferência dos consumidores, há um estímulo natural para melhorar processos, reduzir custos e investir em tecnologias mais avançadas.
Esse ambiente competitivo não beneficia apenas as organizações, mas também resulta em vantagens reais para os consumidores, como tarifas mais acessíveis, serviços de melhor qualidade e maior oferta de fontes renováveis. Em seguida, mas não menos importante, aparece a sustentabilidade, outra frente de destaque no Mercado Livre de Energia.
Em um momento em que a conscientização ambiental é uma prioridade global, a possibilidade de escolher fornecedores de energia comprometidos com práticas mais ecológicas pressiona as empresas do setor a alinharem as suas operações com metas ambientais, contribuindo para a construção de um futuro mais sustentável.
Fornecedores que oferecem energia proveniente de fontes renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica, por exemplo, saem na frente na busca pelo consumo consciente, que visa libertar o planeta da dependência de combustíveis fósseis. Ao promover o uso de fontes renováveis, o MLE contribui para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa, ajudando a atenuar as mudanças climáticas.
Outro cenário beneficiado pelo Mercado Livre de Energia é o contexto econômico. A abertura cria oportunidades de investimento e de geração de empregos. Com a expansão do setor, surgem novos negócios, que vão desde os pequenos fornecedores de energia renovável às startups especializadas em soluções energéticas inovadoras. Essa diversificação não apenas fortalece a economia, mas também promove um ambiente empreendedor mais dinâmico e receptivo a novas ideias.
No entanto, é importante ressaltar que o sucesso do Mercado Livre de Energia no Brasil depende da implementação de uma regulação eficaz, que garanta transparência, proteção dos consumidores e prevenção de práticas anticompetitivas. As questões ambientais e sociais devem ser consideradas como prioridades nesta trajetória, a fim de que se estabeleça um desenvolvimento sustentável do setor.
Contudo, é inegável que o ano de 2024 trouxe uma evolução significativa para setor energético brasileiro com a ampliação do acesso ao MLE para pequenos e médios empresários. A liberdade de escolha, a sustentabilidade, a inovação e os benefícios econômicos são aspectos que permitem um vislumbre de como este caminho possibilita transformações positivas para o país como um todo. O futuro da energia já bate em nossa porta, e não podemos esperar.
(*) – Bacharel em Economia pela USP, Mestre e Doutor pela Universidade Estadual de Campinas, é CEO e fundador do Grupo Safira (https://gpsafira.com.br).