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IGI: o que falta para o Brasil inovar?

em Destaques
terça-feira, 19 de novembro de 2024

Andressa Melo (*) e Sabrina Bauer (**)

Inovar é a palavra de ordem do momento. No entanto, o caminho para implementá-la ainda enfrenta muitos obstáculos, especialmente no Brasil. Nosso país possui todo o potencial para se tornar uma referência mundial em inovação, mas, segundo os dados divulgados no Índice Global de Inovação 2024 (IGI), ocupamos a 50ª posição, atrás de países que, certamente, podemos superar nesse aspecto.

Então, o que de fato está faltando para que possamos subir nesse ranking? Dentre as razões está, principalmente, uma maior participação governamental. O IGI é calculado com base em dois subíndices principais: insumos de inovação (Inputs) – os quais englobam fatores que promovem e facilitam a inovação, como capital humano e instituições – e produtos de inovação (Outputs), os quais refletem os resultados das atividades inovadoras, divididas em produtos de conhecimento e tecnologia, e produtos criativos.

Segundo o relatório, divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o Brasil caiu uma posição em relação ao ano anterior, sinalizando um alerta sobre nossa capacidade de inovar e competir globalmente. Isso porque, por mais que o relatório revele que o país consiga gerar resultados inovadores superiores ao nível de seus investimentos, convertendo, de maneira eficiente, seus recursos em atividades inovativas, ainda não exploramos todo o nosso potencial inovador, especialmente considerando que somos a 9ª maior economia do mundo.

Analisando sob uma ótica mais positiva sobre o tema, um dos principais fatores destacados no relatório foi o fato de termos um mercado vasto e dinâmico, o que atrai uma grande quantidade de investimentos estrangeiros, resultando na entrada de capital, tecnologia e expertise, beneficiando, assim, a economia nacional. Essas características fazem com que ocupe a oitava posição global, avaliado em bilhões de dólares PPP.

Obtivemos, ainda, um resultado promissor na quantidade de marcas registradas por origem, ajustadas por bilhões de dólares PPP do PIB, o que nos permitiu ocupar a 9ª posição global. Isso reflete um significativo investimento em propriedade intelectual no país, uma vez que as marcas protegem ativos intangíveis como nomes, logotipos e slogans, que são essenciais para a identidade e o valor de mercado das empresas.

Um elevado número de registros indica um ambiente empresarial dinâmico, onde a inovação é constante e as empresas são fortemente incentivadas a isso, aprimorando seus produtos e serviços para atender às crescentes demandas dos consumidores – o que resulta em avanços tecnológicos e maior eficiência operacional. Porém, mesmo considerando esses pontos positivos, precisamos lembrar que caímos uma posição em relação ao relatório de 2023, o que significa que o Brasil está enfrentando dificuldades para manter seu ritmo de inovação e competitividade global.

Entre as principais dificuldades identificadas estão a formação bruta de capital, percentual do PIB (posição 108) – o qual reflete o volume de investimentos produtivos na economia, abrangendo gastos em infraestrutura, máquinas, equipamentos e construção – e a estabilidade política para fazer negócios (a qual nos encontramos na posição 115) – fator crucial que influencia, diretamente, a capacidade das empresas de operar e crescer. Isso é ainda mais relevante no contexto da inovação, que é inerentemente associada a altos riscos.

As incertezas governamentais podem levar as empresas a adotarem uma postura mais cautelosa em relação a grandes inovações, ou, até mesmo, a optarem por não desenvolver esse tipo de atividade. Essa situação interfere diretamente no desempenho do país a nível global, resultando em uma oferta de serviços e produtos com menor valor agregado.

Ademais, o Brasil também enfrenta desafios em relação à falta de atualizações de informações, o que interfere diretamente na posição do país no Índice. Por exemplo, os dados sobre a alocação de talentos em pesquisa nas empresas não são atualizados desde 2014, resultando em um cenário desatualizado que dificulta a identificação precisa da situação atual.

Para reverter esse cenário e permitir que o Brasil, de fato, inove com qualidade, a participação governamental é de suma importância. Isso pode ser alcançado, principalmente, por meio de mecanismos de fomento, como incentivos fiscais e a oferta de crédito. O Brasil já conta com políticas de incentivo à inovação, como a Lei do Bem (Lei nº 11.196/05), a Lei de TICs (Lei nº 8.248/91) e financiamentos via Finep.

No entanto, o desempenho pode ser aprimorado por meio de atualizações legislativas. A Lei do Bem, como exemplo, possui dois projetos em tramitação que poderiam otimizar e atrair um número maior de empresas, permitindo que aquelas em prejuízo fiscal também se beneficiem dos incentivos. Essas mudanças legais possibilitariam um desenvolvimento maior de inovações, ao criar um ambiente mais favorável para investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Fomentar a inovação é essencial para o desenvolvimento econômico e social do país, capaz não só de impulsionar o crescimento, mas também de aprimorar a competitividade das empresas brasileiras no mercado global, promovendo o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções que beneficiam toda a sociedade.

Essas mudanças são essenciais para criar uma cultura empresarial cada vez mais inovadora, onde as empresas adotam ações perenes e estratégicas, integrando a inovação ao seu cotidiano. A perenidade dessas ações assegura que os benefícios da inovação sejam sustentáveis e duradouros, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento contínuo.

Com a colaboração entre empresas e governo, é possível construir um Brasil mais inovador e competitivo no cenário global, melhorando, assim, as posições do país no Índice Global de Inovação nos próximos anos.

(*) – É diretora de inovação do FI Group; (**) – É analista de inovação do FI Group (https://br.fi-group.com/).