Flavio Valiati (*)
Apesar da sensação de sermos um país solidário, nos últimos anos, as crises sociais e econômicas têm feito cair o número de doadores no Brasil. Em 2020, 66% dos brasileiros haviam feito algum tipo de doação, contra 77% em 2015, segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020.
Essa queda aconteceu porque as pessoas mais pobres pararam de doar, ao passo que as mais ricas passaram a doar mais do que em 2015. Mesmo assim, a cultura da doação vem se fortalecendo, aponta a pesquisa. Mais de 80% dos brasileiros acham que o ato de doar faz diferença, e o percentual de pessoas que acreditam que a doação faz bem para o doador aumentou de 81% para 91% entre 2015 e 2020.
O que é interessante nesse contexto é que a cultura da doação não precisa e nem deve se limitar às pessoas físicas. As chamadas pessoas jurídicas também estão cada vez mais envolvidas nesse tipo de ação. Segundo pesquisa feita pela Lynx, 82% dos cidadãos entre 14 e 29 anos acham que as empresas devem ajudar em causas sociais. Além disso, 72% se interessam em conhecer de que forma o apoio acontece na prática e 64% confiam mais em empresas que se importam em transformar o mundo positivamente.
Junto a esses dados, segundo Edelman Earned Brand, 22% dos brasileiros aceitam pagar até 25% a mais por um produto ou serviço de empresas que defendem uma causa social a qual se identifiquem e 53% tornam-se tão fiéis à marca, que não só a recomendariam como também a defenderiam perante os concorrentes, se necessário. Por mais que existam dificuldades nesse trajeto, o movimento tem sido positivo e colaborativo com a sociedade como um todo.
Particularmente, venho trilhando um caminho em que incentivo muito a solidariedade, conectando pessoas e empresas. Costumo dizer que, muitas vezes, não são necessários recursos financeiros: doa-se tempo, expertise, sabedoria, networking, conexões. O conceito de give back casa muito bem com esse pensamento. A prática que, em tradução literal, significa “dar de volta”, apresenta a retribuição como parte intrínseca do “ser grato”.
Quem um dia recebeu tanto, pode devolver ao universo o bem que alguém lhe fez. Como dito, não se trata de dinheiro, tampouco de fazer algo para a mesma pessoa que lhe ajudou. Funciona como uma troca de boas energias, em que você pode doar o que tem de melhor a alguém. É aquela máxima: “gentileza gera gentileza”, sabe? Um círculo virtuoso em que todos só têm a ganhar.
O give back é o pilar essencial do projeto Vamos Subir, startup social que ajuda jovens recém-ingressados no mercado de trabalho a crescerem mais rapidamente em suas carreiras, e conta com a participação de empresas como o iFood, Loggi, Oracle, Schneider Electric, Zendesk, entre outras.
O apoio de notáveis executivos como Rodrigo Galvão, da Oracle, Tânia Cosentino, da Microsoft, João Branco e Paulo Camargo do McDonald’s e Paula Bellizia, ex-Microsoft e Google, que aceitam interagir e engajar sem a cobrança de cachê ou qualquer outro benefício, é fundamental para o projeto, que já impactou mais de 100 mil jovens em todo o Brasil. Esses profissionais efetivamente acreditam no give back e querem inspirar, impactar e ajudar no direcionamento e na transformação dos jovens.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos é de mais de 30%. Por isso, entre as principais iniciativas lideradas pelo projeto estão quatro programas para desenvolver competências socioemocionais, técnicas, conexões e empregabilidade. No projeto ainda existem programas como o Executive Talk, conectando nossos jovens aos principais c-levels do Brasil.
Trilhas, nas quais se ensina temas como descoberta de propósito, escolha de carreira, networking, entrevistas de emprego e mais. Top habilidades, em que as 10 principais habilidades socioemocionais são ensinadas. E, por fim, o programa chamado Carreiras, no qual carreiras de Marketing, Vendas, Sucesso do Cliente, Gestão de Pessoas e Tecnologia, podem ser aprendidas. Tudo é oferecido pelo Vamos Subir de forma gratuita e social.
Tudo foi pensado, porque apesar de esbarrar em inspirações valiosas pela vida, faltava a mesma identificação no mundo corporativo. Na maioria das vezes é difícil encontrar um mentor inspirador, principalmente pela visão de um jovem.
Considerando minha jornada e o olhar especial para educação, percebi o quanto era importante o desenvolvimento das soft skills, que geralmente acabam ficando de fora do aprendizado regular e técnico.
Esse é o diferencial do projeto Vamos Subir, que olha com carinho para o desenvolvimento de características necessárias para a jornada, oferecendo conexões valiosas, conhecimento em soft skills e muita inspiração. Quantos outros jovens não precisam, hoje, do mesmo apoio que precisei lá atrás, não é mesmo? Eu não perderia a oportunidade de contribuir com isso.
É a minha missão, meu give back! E cada vez mais quero inspirar outros a fazerem o mesmo, a doar tempo e conhecimento em prol de um mundo melhor e mais justo.
(*) – É CEO da Vamos Subir e Head de Educação do Zoom no Brasil (www.vamossubir.com.br).