Bruno Souza de Oliveira (*)
Em 2018, após uma publicação no World Economic Forum de um relatório sobre o Futuro do Trabalho, a função de Chief People Officer (CPO), Chief Human Resources Officer (CHRO) ou diretor de RH tornou-se ainda mais estratégica em grandes empresas por conta do avanço tecnológico em direção à inteligência artificial, internet das coisas, big data, machine learning, entre outras.
O período de pandemia acelerou as transformações tecnológicas e a digitalização das empresas. Com isso, os líderes de pessoas tiveram que lidar com um novo cenário da força de trabalho jamais antes visto. O trabalho remoto passou a fazer parte do cotidiano de todos, sendo que a grande maioria nunca havia trabalhado dessa forma.
Em muitas empresas, observou-se um aumento de casos de colaboradores que apresentaram algum tipo de complicação envolvendo a saúde mental, como burnout, depressão e crises de ansiedade. Neste contexto, emerge um novo papel para o CPO ou CHRO, que passa a ter que entender a fundo seus funcionários, além de mensurar o estado emocional dos talentos e oferecer um outro tipo de apoio para antever potenciais crises e diminuir o estresse no ambiente corporativo.
Um estudo intitulado “Chief People Officer Of The Future: Three Key Changes Ahead For The CHRO Role”, feito pela consultoria de gestão de RH Adecco Group, junto com a University of Zurich’s Center for Leadership e publicado em março de 2022, verificou que os CPOs ou CHROs estão vendo uma transformação em seu papel para três áreas principais
- – usar dados e tecnologia enquanto permanecem sintonizados com as preocupações fundamentalmente humanas;
- – abordar as emoções e o bem-estar dos funcionários no trabalho; e
- – atrair funcionários qualificados de origens mais diversas (é necessário multidisciplinaridade e diversidade).
Os CPOs/CHROs do futuro precisam abraçar a função de cientistas de dados e guardiões da cultura. De acordo com os resultados dessa mesma pesquisa, 87% dos executivos dizem que a tecnologia de RH, dados e análise de pessoas serão cruciais para o sucesso da gestão eficiente de pessoas.
Esse importante estudo também questionou os executivos sobre como eles gastam seu tempo nos dias atuais e como esperam gastar seu tempo no futuro. A resposta foi que a previsão é gastar menos tempo com tarefas tradicionais de gerenciamento – como gestão de equipes, funções centrais de RH, procedimentos regulatórios e de conformidade – para investir mais tempo em duas áreas: envolvimento com dados e impulsionar a mudança/cultura organizacional.
Além da necessidade de dados, a importância das emoções dos funcionários é amplamente reconhecida, mas ainda não é posta em prática. Por décadas, foi comumente considerado que as emoções deveriam ser deixadas de lado no ambiente de trabalho. Isso mudou!
Os CPOs são cada vez mais responsáveis pela saúde mental e bem-estar emocional dos colaboradores, porém, o estudo demonstrou que embora os CPOs reconheçam o valor de abordar as emoções dos funcionários, apenas 21% das empresas fazem análise das emoções e nenhuma empresa treina seu pessoal em habilidades emocionais.
Esses resultados mostram quanto espaço há para melhorar o bem-estar emocional da força de trabalho. É necessário medir como os funcionários se sentem no trabalho para permitir que as emoções sejam incorporadas aos processos organizacionais – desde como as pessoas são contratadas e treinadas, até que tipos de trabalhos são solicitados a fazer.
A pandemia acelerou o surgimento de inúmeras novas tecnologias que ajudam o profissional de RH a usar os dados a seu favor. Hoje, por exemplo, é possível acompanhar informações sobre a saúde dos funcionários, que indicam se há um potencial de depressão, absenteísmo, agorafobia, entre outros quadros crônicos que possam estar abalando a saúde mental dos funcionários.
Ter uma gestão que leve em conta a inteligência emocional organizacional pode orientar as empresas a se tornarem mais centradas no ser humano e mais acolhedoras para os funcionários que passaram por pausas nas suas jornadas devido a algum problema de saúde.
Sem dúvida, o futuro da gestão eficiente de pessoas passa pela análise de informações de sua força de trabalho para tornar as relações entre empregador e colaboradores ainda mais humanizadas.
(*) – É cofundador e diretor de operações e tecnologia da healthtech Medipreço (https://site.medipreco.com.br/).