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Futuro sustentável por meio da IA, evitando a distopia de Wall-E

em Destaques
quinta-feira, 18 de abril de 2024

Juan José Murphy (*)

O impacto da tecnologia pode ser vislumbrado em um futuro distópico, semelhante ao da animação norte-americana Wall-E, produzido em 2008 pela Pixar.

O longa fala sobre um avanço exponencial da tecnologia, que permitiu o desenvolvimento de robôs autônomos, mas que, por outro lado, conta com um planeta cheio de lixo, meio ambiente destruído e com humanos procurando novos lugares para viver. O cinema, como diversas vezes acontece, tem paralelos com a realidade, representando não só os nossos medos, mas também apresentando fragmentos que preferimos não ver.

Nesse contexto, atualmente contamos com desenvolvimentos tecnológicos que eram inimagináveis há 30 anos, ao mesmo tempo que temos a falta da responsabilidade ambiental como é retratado no próprio filme. E isso pode ser revelado em dados. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), entre 1990 e 2021, o efeito do aquecimento climático causado pelos gases de efeito estufa de longa duração aumentou quase 50%.

Neste aumento, o dióxido de carbono contribuiu com aproximadamente 80%. Para avaliar este cenário, entre outros grandes avanços no mundo atual, está a Inteligência Artificial generativa, ferramenta capaz de fornecer novas informações e formas de medir este impacto visando ajudar a esclarecer o cenário e reforçar a necessidade de cuidar do meio ambiente.

Estima-se que o desenvolvimento tecnológico aumentará o PIB global em até 7% em dez anos, conforme informações da Goldman Sachs, empresa global de gestão de valores imobiliários e investimentos. De certa forma, já é possível observar alguns reflexos dessa pesquisa.

Conforme estudo desenvolvido pelo economista norte-americano David Autor, estudioso de políticas públicas e professor de economia do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), 85% do crescimento do mercado de trabalho nos últimos 80 anos resultou em novos empregos ligados ao progresso da tecnologia.

Contudo, abordar a questão da sustentabilidade para evitar um mundo parecido ao apresentado no filme ‘Wall-E’ não é apenas compreensível, mas obrigatório. Por isso, a responsabilidade ética das organizações desempenha um papel transcendental na busca desse equilíbrio entre progresso e compromisso.

O primeiro passo para que isso aconteça deve ser feito a partir da decisão de gestão com visão de longo prazo, permitindo contribuir para o desenvolvimento sustentável. Em segundo lugar, se o foco é reduzir a pegada de carbono, o recomendado são ações concretas, dando visibilidade a cada uma delas. E, em terceiro, avalie toda a cadeia de abastecimento, incluindo os fornecedores.

No final, precisamos compreender que o que entendemos como impactos nocivos ao ambiente são, na maioria dos casos, externalidades econômicas que voluntariamente fechamos os olhos. O imperativo ético é que isso não aconteça e o business case seja baseado na eficiência e na otimização dos nossos próprios negócios.

Uma fórmula que diversas organizações aplicam é o orçamento de carbono, que tem uma visão bifacia: na definição de projetos, planos e estratégias, levando em consideração o orçamento financeiro e outro de carbono. Este último, com a distinção do que é fixo e envolve a determinação de possíveis limites de emissões.

No momento, não existe uma máquina capaz de raciocinar, estabelecer objetivos e liderar uma organização com essa visão abrangente. Lemos todos os dias sobre grandes modelos linguísticos que elaboram planos e agentes autônomos que trabalham por meio de plataformas como a TaskRabbit, entre outros, mas isso está muito longe de alcançar o bem-estar abrangente ou a sustentabilidade num sentido amplo.

O que recentemente começou a ser chamado de “Inteligência Artificial responsável” nada mais é do que a inteligência humana liderando a compatibilidade destes dois mundos, supostamente, opostos. Numa recomendação recente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para a implementação de novas tecnologias, destaca-se a importância do “diálogo social”, ou seja, negociações entre governos, setores produtivos e trabalhadores para alcançar objetivos economicamente rentáveis, com compromisso ambiental e social.

Neste caso, pode ser interpretado economicamente como “precificar” o impacto social para garantir que a rentabilidade ainda seja possível. No futuro, teremos que mudar a nossa perspectiva, e as organizações “verdes” deixarão de ser destacadas porque a sustentabilidade será a regra, enquanto aquelas que produzem de forma irresponsável estarão em mais evidência.

Não haverá progresso sem tecnologia e nem tecnologia sem sustentabilidade. Enquanto o mundo não for o ‘Wall-E’ distópico e ainda existirem humanos, eles precisarão estar no centro do design, do desenvolvimento e da implementação de qualquer IA que renove o mundo.

(*) – É head de Ciência de Dados de IA da Globant, empresa digital focada em reinventar negócios por meio de soluções tecnológicas inovadoras (https://www.globant.com/).