16 views 6 mins

Fundos de Investimentos: retrospectiva e projeções futuras

em Destaques
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

André Damasio (*)

  • Como você avalia o desempenho geral dos fundos de investimento no Brasil em 2024? Houve algum destaque positivo ou negativo? – O momento é desafiador, resultando em queda na casa de 6% do IBOV no ano. A Indústria sofreu fuga de capital em montante significativo, só a classe de multimercados em setembro registrou saque na ordem de mais de 50 bi de reais. A volatilidade global e cenários de incerteza fiscal contribuíram negativamente para esse resultado.
  • Quais tipos de fundos de investimento surpreenderam positivamente em 2024 e o que impulsionou esse desempenho? – Felizmente os fundos de investimentos em cadeias produtivas do agronegócio (FIAgros) e os fundos isentos destacaram-se positivamente. O impulso foi puxado pelas alterações tributárias dos fundos exclusivos que levaram os investidores a buscar alternativas para fugir da carga tributária, bem como pela valorização do agronegócio e estratégias focadas em títulos isentos como o CRA – Certificado de Recebíveis do Agronegócio.
  • Quais foram os principais desafios enfrentados pelos fundos de investimento este ano, como inflação, juros altos ou instabilidade política? – Inflação elevada e persistente, deterioração fiscal acelerada e expectativas de alta de juros fizeram os gestores adotarem medidas defensivas nas estratégias, como montagem de estruturas de proteção nos fundos e troca de ativos para papeis menos cíclicos e com desempenho mais secular.
  • O cenário externo, como a política monetária dos EUA, teve impacto significativo sobre os fundos brasileiros em 2024? – Sim, o mercado americano dita o ritmo no mundo inteiro. O aumento dos rendimentos dos Treasuries afetou o fluxo de investimentos dos emergentes, como o Brasil.
  • Quais foram os impactos da volatilidade do mercado internacional sobre os fundos brasileiros em 2024? – A volatilidade está ligada à incerteza. Sempre que não se tem noção da previsibilidade econômica, os ativos têm sua volatilidade elevada, visto que não se consegue mensurar o preço correto para o cenário incerto à frente. O principal impacto foi justamente nesta precificação, vemos ativos sendo negociados a preços muito abaixo do valor justo, o que gera oportunidades de compra para gestores com caixa disponível.
  • Quais são as expectativas para o desempenho dos fundos de investimento em 2025, especialmente diante da possibilidade de cortes na Selic? – No momento a expectativa é de cautela, há projeções de crescimento do PIB e corte de juros, porém a incerteza fiscal não deixa o mercado positivo em relação aos rumos da segurança jurídica necessária para atrair investimentos.
  • Quais são os principais riscos para os fundos de investimento em 2025? – Deterioração fiscal brasileira, incertezas políticas e volatilidade global. Destaco ainda a oscilação de preços de commodities e do fluxo de investimentos para o Brasil, visto a guerra fiscal e comercial EUA x China, bem como o posicionamento político do Brasil em relação ao próximo governante norte americano.
  • Como os fundos cambiais ou dolarizados podem desempenhar um papel relevante no portfólio dos investidores em 2025? – Contribuem como alternativa para diversificação do risco soberano local, ativos dolarizados cuja aplicação implique em envio de divisas ao exterior oferece proteção para cenários incertos na economia local.
  • Alguma mudança regulatória esperada para 2025 pode impactar os fundos de investimento no Brasil? – No momento nada concreto em vista, a nova resolução da CVM, a nº 175, já é foi suficiente para gerar uma série de adaptações operacionais que ocuparão o mercado em 2025.
  • Os fundos estruturados, como fundos de private equity e venture capital, podem ganhar mais relevância no Brasil em 2025? – Sim, se o otimismo com o mercado de fusões e aquisições se mantiver.
  • Como a digitalização do mercado financeiro está impactando a captação e a gestão de fundos no Brasil? – Melhora na captação pois amplia o acesso de investidores e traz agilidade de performance à gestão, todavia ainda de forma tímida e incipiente.
  • Os fundos atrelados a tecnologias emergentes, como IA e blockchain, são apostas para o próximo ano? – Diria que são sim, caso o investidor não queira ter o trabalho de escolher papeis atrelados a este mercado, os fundos são a melhor alternativa. O Crescimento do setor já é dado visto que as tecnologias ligadas a IA só ganharão espaço em setores da economia carentes de automação e inteligência de dados.
  • Quais são os principais riscos econômicos e geopolíticos que podem influenciar o desempenho dos fundos no próximo ano? – As tensões comerciais externas, vide EUA x China; instabilidades geopolíticas oriundas dos conflitos regionais, os quais podem escalar para conflitos globais; possíveis crises econômicas externas que afetem os preços de ativos globais e também o fluxo de capital para emergentes.

(*) – É diretor de investimentos na WIT Asset (https://www.wit.com.br/).