Andrea Pampanelli (*)
O conceito de ESG (em português, Ambiental, Social e Governança) foi criado em 2004 no relatório “Who cares wins”, produzido pelo International Finance Corporation (IFC). Ele nasce após os anos 2000, justamente quando se inicia um novo ciclo de mudanças do pensamento econômico, que põe em xeque os paradigmas ancorados nas ideias iluministas de Adam Smith e Karl Marx, de que a natureza é fornecedora infinita de recursos para a sociedade.
Basicamente, o termo se refere à análise desses três fatores intangíveis nas práticas de investimentos e tomadas de decisão. Quando se fala em ESG, são considerados os chamados aspectos não-financeiros da empresa, como marca, reputação, qualidade da governança e da gestão.
Se o tema já era fundamental nas duas primeiras décadas do século, a pandemia foi um grande marco no olhar das empresas no que diz respeito ao ESG. As companhias entenderam que, para se manterem vivas, literalmente falando, precisavam desenvolver um mundo com negócios mais sustentáveis. Foi necessário compreender que a resposta precisava vir de dentro das organizações, e não do ambiente externo.
Desde então, muito se criou, se falou e evoluiu. No entanto, ainda é necessário progredirmos na agenda para que, de fato, possamos lidar com os grandes desafios da sustentabilidade, que passam principalmente pelo entendimento do contexto da ecologia política.
O ESG não está posto para frear o crescimento, o capitalismo e a democracia. Pelo contrário. O futuro só será possível se o analisarmos pela ótica do desenvolvimento sustentável. Infelizmente, há ainda um grande número de empreendedores que não enxergam o potencial do ESG, um viés que precisamos abandonar e evoluir. Já para aqueles que entenderam que o tema é uma abordagem de negócio para criar valor a longo prazo, o desafio é compreender por onde iniciar essa trajetória — e, neste caso, vale destacar que não há certo ou errado.
De acordo com a pesquisa “Panorama ESG Brasil 2023”, realizada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) em parceria com a Humanizadas, 47% das empresas participantes são referência de mercado ou estão adotando práticas ESG. Aqueles que ainda não aderiram à agenda, correspondem a 31% e estão planejando implementar essas políticas. É diante deste cenário que observamos a ascensão do tema no mercado.
O maior benefício no início de uma jornada ESG para qualquer organização é a mitigação de riscos. Quando entendemos as externalidades associadas às atividades da empresa — como, por exemplo, questões de licenciamento e cumprimento legal —, naturalmente trabalharemos para minimizar esse impacto e mantermos o negócio saudável e vivo.
Diante deste cenário, para aqueles que desejam aderir à agenda, o primeiro passo é fazer um diagnóstico ESG, pois assim será possível entender as vulnerabilidades do seu negócio. A partir desses dados se desenvolve o “pensar sustentável e sistêmico na liderança”, que nada mais é do que o processo utilizado para compreender como os elementos de um sistema influenciam uns aos outros e, consequentemente, o todo.
Por fim, é fundamental entender o propósito da companhia. Só assim se consolida uma jornada ESG conectada com a compreensão do valor sustentável do negócio — e o que a empresa faz de forma a promover a ética e o bem comum. Após realizar esses passos será possível escolher um ecossistema para participar, o mais adequado à essência da empresa.
A relação entre ideias e conceitos existe mesmo quando não há intenção real para que elas ocorram. Paredes ou estruturas organizacionais não são capazes de impedir o fluxo de insights, que surgem naturalmente. Estratégico que é, o ESG precisa ser liderado, com o desenvolvimento de competências capazes de alicerçar o futuro.
Para avançar e ultrapassar eventuais barreiras, além da disseminação do conhecimento e da informação, capaz de provocar entendimento e compreensão da complexidade que envolve a sustentabilidade, também precisaremos investir em empatia, solidariedade e conexão.
ESG é um processo evolucionário de integração das questões ambientais, sociais e de governança na gestão e estratégia do negócio. Isso possibilita pensar a longo prazo de forma estratégica com o objetivo de reduzir os riscos e maximizar o uso de oportunidades. Esse deve ser o real motivador para as empresas aderirem à agenda.
(*) – É consultora ESG na The Green Factory e curadora da ESG Land, maior evento de ESG da América Latina.