Muito se fala sobre dicas de empreendedorismo ou em como obter melhores resultados para uma empresa. Mas pouco se fala sobre quando chega a hora da decisão de fechar uma organização. E essa é uma discussão importante para pequenos e médios empresários, sobretudo com a crise econômica que se instalou, trazida pela pandemia de coronavírus.
O coordenador do Centro de Empreendedorismo da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Edson Barbero, diz que parte do cenário atual pode ser resultante de uma mudança a longo prazo que está acontecendo na sociedade, como a digitalização.
“Mesmo após a pandemia, seguiremos possivelmente com mercado e sociedade com maior índice de digitalização. Temos que fazer esse olhar a curto prazo e, sobretudo, a longo prazo”.
A seguir, confira dicas do especialista.
PENSE ESTRATEGICAMENTE
A decisão de fechar ou não um negócio tem aspectos financeiros estratégicos, a partir dos quais o pequeno empresário deve avaliar condições financeiras e de caixa.
É preciso pensar nos aspectos do mercado: qual é a projeção futura de receitas, qual o potencial de demanda que seu negócio pode atender, o produto ou serviço que a empresa oferece tem potencial de crescimento, outras empresas podem fazer o que a sua empresa faz?
É preciso também avaliar a perspectiva financeira: qual é o endividamento da empresa, em quanto estão reduzindo as receitas, quais condições financeiras estão provocando um crescimento exagerado de endividamento?
PENSE COM RACIONALIDADE
“Por outro lado, é evidente que a decisão de fechamento tem impacto em desemprego, do empresário e também dos colaboradores da empresa. Existem os impactos emocionais. O empreendedor vive uma relação afetiva com o negócio, ele coloca sua vida ali. Ao fechar, a dor emocional é grande e pode ser um limitador de racionalidade, deixando de tomar decisões estruturada e financeiros”, diz Barbero.
REDUZIR O TAMANHO DO NEGÓCIO É OPÇÃO
Antes de decidir pelo fechamento total, também é possível avaliar reduzir a operação da empresa.
“O fechamento provisório pode ser uma alternativa. Cabe inclusive uma redução do tamanho da operação. Um restaurante pode se tornar um local de delivery durante a pandemia e depois da pandemia voltar a ter um espaço maior para atender presencialmente. O empresário tem que identificar quando, dada a sua realidade, pode reduzir a operação ou fechar definitivamente”.
RECONHEÇA SUAS COMPETÊNCIAS
O empresário precisa ter em mente que a sua vida nos negócios não acaba com o fechamento de uma empresa e que ele pode continuar nos negócios após a pandemia.
Muitas vezes, o empresário se vê como vendedor ou prestador de um serviço específico. Mas ele também precisa enxergar a ele próprio e a seu time como possuidores de competências, como networking e competências comerciais. Ao observar a própria competência, o empresário deve avaliar em quais novos negócios pode se aventurar.
Exemplo: um empresário do setor de educação, que está sendo bastante afetado, pode se perceber competente para atuar em negócios da comunicação, haja vista que ele exercita a capacidade de dialogar, conversar, levar conhecimento, e isso pode ser feito de outras formas e modelos de negócio, que não abrir uma escola.
“Um dono de restaurante pode perceber que pode ser educador de gastronomia, ou um youtuber ligado ao universo da alimentação. Que tal, após a pandemia, oferecer um serviço de confraternização de comida de alto nível, na residência do cliente”.
O QUE VOCÊ SABE FAZER BEM?
O especialista recomenda ser flexível: olhar para si… no que você é bom, o que sabe fazer bem? Enxergue suas competências!
“O mercado é instável, os produtos ficam obsoletos rapidamente, mas as competências não. Pode haver no futuro demanda menor de professores universitários, como eu. Mas pretendo continuar desenvolvendo minhas competências analítica e de comunicação, para me adaptar a novas realidades. Mudanças tendem a acontecer de forma cada vez mais rápida. Não há um modelo de negócios que seja suficientemente sólido e que suporte tantas mudanças. Mantenha-se calmo, focado e com autoestima elevada, isso é muito importante”.
NÃO SE SINTA DERROTADO
Uma força maior, que a humanidade nunca viu antes, está derrotando a todos.
“Fechar empresa, infelizmente, é uma realidade do empreendedorismo brasileiro. Mas isso não significa derrota ou fracasso pessoal, pelo contrário: o empresário deve levantar a cabeça, tendo consciência de que a derrota é um instrumento de aprendizado, para que esse empresário se torne ainda maior, mais forte. A maior derrota é a da saúde: a preservação da vida é o que poderá gerar renda no futuro. Sem vida não há negócios”, finaliza.