Caio Bretones (*)
O avanço do mercado financeiro, suas mudanças e novas regulações, como o Open Finance e o Open Banking, tem proporcionado um cenário muito positivo de transformação para empresas dos mais variados setores da economia.
Uma dessas movimentações é o embedded finance. Me refiro à expansão e integração de um serviço financeiro ao portfólio de uma companhia de indústria tradicional que não tem, necessariamente, atuação neste setor.
O objetivo do embedded finance é tornar os serviços financeiros mais acessíveis e convenientes para os consumidores, aumentando a oferta de produtos financeiros e reduzindo os custos de transação.
Costumo dar como exemplo um projeto que acompanhei muito de perto tempos atrás, a criação de um “banco do caminhoneiro”. Uma companhia de transportes e frete se associou a uma empresa de tecnologia para o segmento financeiro para desenvolver o seu próprio banco digital.
O objetivo é atender e gerir de forma mais rápida e integrada seus colaboradores, fornecedores e, principalmente, a rede de caminhoneiros próprios e agregados, promovendo o pagamento dos fretes realizados, salários, concessão de crédito e até antecipando recebíveis na própria plataforma.
O conceito e transformação promovida pelo embedded finance endereça a autonomia e a agilidade nos serviços financeiros que essas empresas precisam, horizontalizando o fluxo do dinheiro e descartando, assim, a necessidade de utilização dos bancos tradicionais.
Dessa forma, a companhia monetiza a sua base de usuários (fornecedores, clientes e colaboradores) e cria uma unidade de negócio que ajude a alavancar sua oferta de serviços financeiros.
A organização consegue fomentar crédito, antecipar recebíveis, realizar pagamentos, além de proporcionar descontos em redes parceiras — no caso dos caminhoneiros, por exemplo, descontos em postos de gasolina, hospedagens e pedágios –; e, por fim, garantir o atendimento especializado e personalizado que só a empresa que vive naquele ecossistema pode oferecer.
E para quem pensa que isso é difícil, ledo engano. Hoje, a prática do embedded finance, e da criação dos bancos digitais e demais serviços financeiros, é bastante facilitada e acessível aos mais diversos setores.
Isso porque as empresas de tecnologia especializadas no setor financeiro possuem parceiros provedores do Banking as a Service, sendo eles responsáveis pelas questões regulatórias com o Banco Central, compliance, KYC, gestão e operação das contas.
Com isso, para começar a funcionar, a companhia precisa apenas se associar a um bom fornecedor para, então, criar a estrutura interna de operação. Observamos que grandes varejistas também se movimentam para essa expansão e integração de portfólio.
Outro exemplo real é de um grupo de cosméticos e perfumaria brasileiro que desenvolveu uma plataforma de serviços financeiros para atender sua base de cerca de 1 milhão de revendedoras. Com a integração de serviços de pagamento às máquinas de cartão de crédito, as representantes recebem o dinheiro das vendas de forma mais rápida. Uma estrutura que favorece e facilita as transações B2B2C.
Essa estratégia de “finanças embutidas” (ao pé da letra), pode ser vista como uma tendência e, também, uma tática de crescimento para as empresas. Isso porque promove a autonomia financeira das companhias dos mais variados segmentos e níveis de maturidade, além de associar e usar da expertise de mercado em relação a sua base de usuários.
Tendo essas informações em mãos, já pensou em ter seu próprio banco digital?
(*) – É head de Produtos Digital Banking da Dimensa (https://dimensa.com/credito-e-risco).