Alejandro Vázquez (*)
O ano de 2020 ficou marcado pela pandemia e pelas incertezas e consequências ocorridas no mundo todo. Mas isso, todos nós já sabemos e estamos cansados de ler. O que ainda não está claro é para onde tudo isso irá nos levar no futuro. Na minha caminhada pelas redes sociais, vejo muita gente escrevendo: “2020, não quero me lembrar de você, mas aprendi muito contigo”.
E é exatamente aqui que eu quero chegar. O ponto-chave do ano passado foi o aprendizado, e se tem algo que a população mundial aprendeu foi vender e comprar online. O e-commerce foi um dos setores da economia que mais sofreu impactos positivos durante a pandemia. Os lojistas tiveram que migrar seus negócios para o ambiente virtual em poucos dias e esse fenômeno, que já estava crescendo, chegou em meses a um patamar que levaria anos, como se em 2020, cada mês tivesse 365 dias.
Mas diante do início da vacinação e a esperança de voltarmos às ruas com normalidade dentro de alguns meses, como ficará esse novo aprendizado do mundo virtual e o futuro do e-commerce no Brasil? Os consumidores continuarão tendo preferência pelo consumo online ou voltarão ao costume nas lojas físicas?
Segundo dados do índice MCC ENET, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital em parceria com o Neo trust, o e-commerce brasileiro total cresceu 73,88% no ano passado. Assim, podemos afirmar que os hábitos dos consumidores mudaram. Entretanto, seria apenas um movimento espontâneo gerado pela pandemia? Creio que podemos relacionar este acontecimento com um dos esportes que desperta muito o interesse do público mundial, o automobilismo.
Na Fórmula 1, o objetivo das equipes é fazer com que os pilotos cheguem nas primeiras posições durante as corridas para somarem mais pontos na temporada e, assim, ganharem o título do campeonato. Em paralelo, podemos fazer uma analogia ao e-commerce como um piloto que está descobrindo os limites do seu carro quando entra na pista e sente o desempenho a cada reta ou curva.
Neste cenário, as retas seriam os momentos em que as vendas digitais aceleram e aumentam a velocidade, como aconteceu em 2020. Já as curvas, representam quando a velocidade diminui por alguma circunstância do mercado, como uma mudança no hábito de consumo, como se as pessoas voltassem a querer comprar somente nas lojas físicas, ou até mesmo a falta de matéria-prima e dificuldade logística.
Há, ainda, as paradas obrigatórias, que são cenários pelos quais o consumo estagnou, ocasionado por momentos mais fortes da crise econômica ou pelo alto número de desempregados. Assim, os empreendedores tiveram que trocar os pneus com mais cautela e planejamento.
Nesta temporada, que envolve diversas corridas do comércio eletrônico, temos pela frente uma pista enorme, larga e desafiadora, que oferece todas as condições de extrair o melhor da tecnologia. Mas, estamos chegando ao final de uma das retas, em que há uma redução natural da velocidade máxima (ápice do crescimento) de 300 km/h para 200 km/h.
Essa diminuição garante que o piloto, nosso empreendedor, faça a curva em segurança e garante que o carro esteja em boas condições para acelerar novamente nas próximas retas. Vários números corroboram esse cenário. A penetração do e-commerce no varejo brasileiro dobrou em 2020, saltando de 5% para 10%.
Ao mesmo tempo que o Brasil acaba de alcançar dois dígitos, a participação do comércio eletrônico no varejo chinês beira os 40%, segundo pesquisa da e-Marketer, enquanto países como Reino Unido e Coréia do Sul ultrapassaram os 20%. Já o faturamento das vendas online no Brasil deve crescer entre 26% e 32% neste ano, segundo previsões da Ebit | Nielsen e da XP Investimentos.
Outra questão é a evolução da tecnologia, da mesma forma que os carros ganham novos equipamentos a cada ano, como a asa móvel para ultrapassagens ou o halo, que já salvou vidas dos pilotos, a relação do consumo também ganha novos recursos a todo momento.
Se, por um lado, o consumidor está cada vez mais conectado, por outro, as lojas virtuais têm incorporado ferramentas que melhoram a experiência de compra e a segurança do consumidor e do lojista. Segundo estudo Nuvem Commerce 2021, realizado pela Nuvemshop, as compras realizadas pelo mobile já são a imensa maioria, enquanto as conversões por meio das redes sociais apresentaram um salto de 22% para 34%.
Devemos pensar que, independente do início da vacinação, no futuro não deverá existir varejo online ou físico. A tendência é que ambos sejam uma coisa só, com vendas simultâneas e conectadas entre si.
Portanto, é muito importante as empresas acompanharem as diversas mudanças e sempre atualizarem os seus modelos de negócios de acordo com as preferências do seu maior parceiro, o consumidor final. Porque uma coisa é fato: o e-commerce continuará acelerando, mas em velocidades diferentes de acordo com cada percurso.
(*) – É CCO e cofundador da Nuvemshop, plataforma de e-commerce líder na América Latina.