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COP27 reconhece o valor do trabalho híbrido para o futuro do planeta

em Destaques
terça-feira, 15 de novembro de 2022

Mark Dixon (*)

À medida que os olhos do mundo se voltam para o Egito e para a cúpula da COP27, realizada em Sharm el-Sheikh, o número crescente de avisos sobre os perigos, cada vez mais alarmantes da crise climática, continuam a reverberar.

Em setembro, os cientistas destacavam os riscos que, mesmo no atual nível de 1°C de aquecimento global, pelo menos cinco mudanças ambientais podem ocorrer – desde o colapso das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental até o comprometimento de recifes de corais tropicais.

De acordo com Johan Rockstrom, co-presidente da Comissão da Terra e diretor do Instituto Potsdam para pesquisa de impactos climáticos, o mundo está caminhando para atingir 2°C a 3°C de aquecimento. “Para manter as condições naturais na Terra, proteger as pessoas de extremos e permitir uma sociedade estável, devemos fazer o possível para evitar cruzar os pontos de inflexão. Cada décimo de grau conta”, destaca.

No entanto, enquanto os líderes mundiais se reúnem para discutir como lidar com os maiores problemas enfrentados pelo planeta, há crescentes indícios de que a mudança de hábitos de trabalho, entre milhões de pessoas em todo o mundo, aponta o fim de um dos principais impulsionadores do aquecimento global: o deslocamento diário.

Desde 2002, o assunto dos benefícios do que hoje é amplamente chamado de “trabalho híbrido” ganha cada vez mais relevância. No geral, esse cenário flexível significa trabalhar de casa ou em espaços de trabalho compartilhados, perto de onde os funcionários moram. Sendo assim, o deslocamento diário em um veículo poluente não se faz mais necessário.

A adoção do trabalho híbrido em todo o mundo foi acelerada pelo impacto da pandemia. Com isso, todos puderam observar a mudança na qualidade do ar durante as restrições da Covid-19 como uma resposta direta à redução das conduções desnecessárias. De acordo com o Projeto Global de Carbono da Terra, as restrições de 2020 fizeram com que as emissões de CO² caíssem cerca de 2,4 bilhões de toneladas.

Foi uma queda recorde, com a maior parte da redução vindo das emissões dos meios de transporte — tanto no solo quanto no ar. Diminuir o trajeto diário é um importante passo positivo, como mencionado por Johan Rockstrom. Mas, para normalizar totalmente essa mudança de comportamento, muitas outras empresas precisam oferecer a oportunidade dos funcionários trabalharem parcialmente em casa, de espaços de trabalho próximos, e ocasionalmente em seus escritórios.

Como os números sugerem, o uso desta abordagem reduz a emissão de combustíveis fósseis e gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo em que capacita as empresas a reduzirem sua pegada de carbono, diminuindo seus escritórios ou mudando para espaços de trabalho compartilhados. Essas são algumas das razões do porquê o híbrido é uma mudança essencial para que empresas se aproximarem da sustentabilidade.

A elaboração do modelo em questão permite progressos sob seis dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como os números #7 (Energia Limpa) e #13 (Ação Climática). Esse fator também está diretamente ligado ao ODS #3: Boa Saúde e Bem-Estar — menos deslocamentos estressantes e um estilo de vida geralmente mais saudável são subprodutos fundamentais por trabalhar em casa ou em um escritório próximo, acessível a pé ou de bicicleta.

O ODS #5: Igualdade de Gênero — também é altamente relevante, pois o trabalho híbrido oferece o potencial para um compartilhamento mais equitativo das responsabilidades familiares. Ao permitir que os trabalhadores escolham quando e onde serão mais eficazes, o modelo híbrido também tem um papel a desempenhar o aumento da produtividade e o Crescimento Econômico (ODS #8).

Seu impacto positivo nas Cidades Sustentáveis e nas Comunidades (ODS #11) são um dos ganhos mais importantes que oferece, à medida que os trabalhadores gastam mais tempo e dinheiro perto de onde vivem, um impulsionamento das economias locais, fomentando as atividades e iniciativas da região. Para as empresas, além das vantagens reais de sustentabilidade do híbrido, há o custo-benefício, tornando desnecessário os contratos de longo prazo, inflexíveis e caros em propriedades no centro da cidade.

Outro fator importante é o impacto positivo nas atitudes dos funcionários trazidas por um forte posicionamento sobre questões de sustentabilidade. Pesquisas recentes do IWG entre membros da Geração Z — jovens entre 10 e 25 anos — mostram como essa faixa etária enxerga a importância de ter um empregador que compartilhe dos mesmos valores pessoais.

Especificamente, eles veem o histórico de uma empresa sobre responsabilidade ambiental como o segundo fator mais importante na decisão de onde trabalhar. Isso foi citado por 48% da amostra, atrás apenas da igualdade racial, de gênero e LBGTI+ (55%). Mais da metade (55%) também acredita que é importante ter um empregador que leve suas responsabilidades ambientais a sério, enquanto 48% dizem que não trabalhariam com uma empresa que não tivesse objetivos ou responsabilidades socioambientais.

Basicamente, para que uma empresa possa escolher e reter os melhores funcionários dessa nova geração, devem priorizar a sustentabilidade. Ainda hoje, apenas 51% dos empregados da Geração Z dizem que acham que seus empregadores levam suas responsabilidades ambientais a sério, e 50% a dizem que sairiam se seus trabalhos se seus empregadores recuassem em seus compromissos ambientais.

O trabalho híbrido não é a resposta total para os desafios que o planeta enfrenta, mas é um poderoso motor de melhoria, proporcionando fortes benefícios financeiros, de produtividade e de retenção de talentos, bem como ganhos ambientais e outros relacionados aos ODS.

Por isso, o IWG visa ampliar a rede mundial de espaços de trabalho flexíveis em mais de 1.000 centros ao longo do próximo ano. Entre os locais escolhidos, a grande maioria são cidades do interior, fora dos grandes centros comerciais, e outros locais que as pessoas queiram viver e trabalhar. Com isso, além do interesse próprio em aumentar a cadeia de atuação, é possível apresentar, para milhares de empresas, uma maneira fácil, prática e poderosa para reduzir a pegada de carbono.

(*) – É Fundador e CEO do IWG (https://work.iwgplc.com/).