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Como o comportamento afeta as decisões nas finanças pessoais

em Destaques
sexta-feira, 04 de fevereiro de 2022

Os estudos sobre o mercado financeiro têm se tornado cada vez mais profundos e tomam um lugar cada vez mais relevante para a compreensão de como funciona o comportamento do investidor na hora de tomar as decisões com relação as finanças. Quem já ouviu aquela frase que diz que o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso? Não há um coração mais partido do que aquele que se partiu por um bolso vazio… Se você ainda não ouviu, essa leitura vai ser bastante curiosa pra você.

É normal pensar que as decisões tomadas no mercado financeiro são completamente pautadas em racionalidade e que o mercado é um ambiente de contas exatas. Nem um, nem outro. Fatores emocionais afetam mais de 80% das decisões que tomamos e, de longe, o mercado financeiro não é um mundo matematicamente exato. A Teoria da Perspectiva, criada por Daniel Kahneman e Amos Tversky, fez uma análise até bastante simples sobre a reação das pessoas frente a ganhos e perdas numericamente iguais.

O resultado foi que as pessoas sentem 2,25 vezes mais a perda do que o ganho. Ou seja, ganhos e perdas de mesmo valor não são sentidos de forma equivalente. Numa outra forma de entender, o ganho precisa ser 2,25 vezes maior para se gerar o mesmo impacto. Se nos aprofundarmos num dos porquês desse resultado, veremos que as pessoas se surpreendem mais com as derrotas do que com as vitórias, pressupondo que há um senso de controle – na verdade inexistente sobre a situação.

É natural que a derrota cause mais surpresa, pois ninguém espera que fará algo para perder. Ainda assim, considerando os resultados em si e suas consequências, racionalmente falando, a percepção deveria ser a mesma. Outros estudos conseguiram identificar vieses comportamentais e heurísticas, ou seja, tendências mais comuns de comportamento e reações diante de algumas situações.

O mais curioso é que todos esses vieses comportamentais tendem a estimular o investidor a tomar decisões erradas. O comportamento age muito mais como um sabotador, do que um auxiliador na tomada de decisões.

. Status quo – Esse viés é de fácil interpretação e normalmente presente nos perfis mais conservadores. Ele significa que, mesmo diante de circunstâncias melhores, o investidor prefere não se movimentar.

Como exemplo, imagine uma pessoa que possui uma carteira de 300 mil reais de investimentos conservadores rendendo bem acima da poupança, mas ele ainda mantém mais 3 milhões na poupança, sem necessidade de liquidez. Mesmo sabendo de condições mais vantajosas, ele mantém o recurso mal alocado.

. Efeito Framing – Ou de enquadramento, influencia a tomada de decisão do investidor conforme o teor da informação, mesmo se tratando de um mesmo fato. Por exemplo: imagine se deparar com esta informação sobre um investimento:

Decisão A: Ganho certo de R$ 250 ou 25% de chance de ganhar R$ 1.000 e 75% de chance de não ganhar nada.
Decisão B: Perda certa de R$ 750 ou 75% de chance de perder R$ 1.000 e 25% de chance de não perder nada.
Então, qual escolher?

A resposta é: tanto faz. Trata-se do mesmo investimento e das mesmas situações de ganho e perda, mas apresentado de formas bem diferentes. Dependendo de como o investidor absorve a informação passada, pode tanto ser atraído pela oportunidade, como se distanciar dela.

. Desconto hiperbólico – É um comportamento presente naqueles que olham mais para o curto prazo e não se planejam adequadamente. Se sentem obrigados a executar qualquer negócio para obter a liquidez necessária para os projetos de curto prazo, sem avaliar o quanto isso irá impactar o lado financeiro. Para ele, o importante é a obtenção do bem ou geração de caixa, independente das consequências.

Como exemplo, temos o investidor que dá um desconto de 40% na venda de seu imóvel para ter o dinheiro rápido na mão. Ou, o investidor que compra algo financiado, se submetendo a juros elevados ao invés de poupar recursos e comprar o bem de forma menos impactante financeiramente, no futuro.

. Excesso de confiança – É um viés que está presente naqueles que se consideram mais experientes e, no geral, se caracteriza pelo número excessivo de operações para obtenção de resultados. O investidor deixa de filtrar as oportunidades e ataca o mercado de forma voraz. Normalmente, o volume de operações acarreta num aumento de custos que neutraliza qualquer oportunidade de ganho, tendo como resultado final, um ganho menor ou prejuízo diante da média do mercado.

. Heurística da ancoragem – Como o nome diz, é o comportamento onde o cliente se trava, se limita a um determinado número e desconsidera qualquer outra informação. Ele acredita fielmente que aquele resultado virá e permanece “ancorado” nessa estratégia seja pelo tempo que for.

Por exemplo: o investidor, ao ver que uma ação de uma empresa teve uma performance de 20% em seu IPO no ano passado, acredita que uma empresa de mesmo segmento que tenha seu IPO neste ano terá a mesma performance. Desconsidera qualquer outro fator acerca dessa empresa e fica posicionado até que se concretize o resultado, mesmo que os demais sinais não indiquem tal performance.

. Heurística da representatividade – Se parece um pouco com a ancoragem, pois limita a decisão com base numa informação específica. Na ancoragem é um número, na representatividade é um dado ou informação que remete ao passado. Seja uma performance histórica, ou um evento ou período de mercado que tenha gerado algum impacto.

Isso fica evidente na memória do investidor que, apesar de informações novas indicarem outros impactos, ele se prende ao passado. Exemplo disso, é quando o cliente decide não investir no mercado imobiliário em virtude da crise que se passou em 2008. Outro exemplo, é quando o investidor escolhe uma aplicação em virtude apenas de seu histórico de resultados.

. Heurística da disponibilidade – A heurística da disponibilidade é um viés que se parece com a representatividade, mas a limitação ocorre por fatos ou informações mais recentes. Algo ocorrido recentemente na economia, ou especificamente com algum segmento de mercado faz com que o investidor não invista, mesmo que esse fato seja algo isolado ou pouco relevante.

Por exemplo, notícias recentes sobre crise no setor energético impactam na decisão do investidor em não investir neste segmento, mesmo havendo outras premissas mais relevantes.

. Aversão a perda – É um viés que se traduz numa carteira, normalmente, recheada de posições com performance negativa. O investidor se nega a absorver prejuízos, permanecendo com suas posições perdedoras, enquanto se livra das operações com lucro de forma mais precoce. O investidor acredita que o mercado irá retornar a níveis lucrativos para depois fazer a venda desses ativos. Muitas vezes, essa venda ocorre no mesmo valor da compra, ou seja, não obtendo lucro.

. Conclusão – Todos esses vieses comportamentais possuem algo em comum, que é a sensação equivocada de total controle da situação. Seja para não fazer nada, como no caso do status quo, como em outras situações.

Mas, a sensação de controle, quando é confrontada, causa espanto e negação. “Como assim?” – “O mercado vai voltar”. “Eu sei o que estou fazendo”. É comum ouvir esse tipo de comentário quando, na verdade, o mercado financeiro é um organismo vivo, que toma os rumos sem dar satisfações ou ter um compromisso firmado com alguém.

O investidor começa a ser cada vez mais influenciado pelo seu comportamento e emoções, potencializando ainda mais as decisões erradas com seus investimentos, negligenciando os fatores técnicos e estatísticos da carteira e do mercado. No entanto, para se manter a racionalidade e imparcialidade na hora de tomar as decisões, é altamente recomendado o acompanhamento de um assessor de investimentos.

O assessor tem o papel de elaborar uma carteira de investimentos com base numa estratégia que atenda as demandas e projetos do investidor, além de seu perfil e seguindo etapas fundamentais para essa construção:

1° – Apresenta o objetivo do trabalho e valida-se o escopo do relacionamento.

2° – Faz a coleta de todas as informações sobre o investidor, como construiu o patrimônio, sua relação com o seu dinheiro, projetos, perfil, etc.

3° – Analisa todos esses dados, gerando algumas premissas que deverão servir de base para a construção da carteira. Em seguida, faz a escolha de uma carteira de ativos que sintetizam a análise feita na etapa anterior.

4° – Faz a apresentação dessa carteira, detalhando o racional dos investimentos. E, depois, faz o acompanhamento da carteira sempre de olho no que o mercado financeiro traz de cenários.

É muito importante que o processo de construção do patrimônio financeiro seja feito de forma racional, evitando que fatores comportamentais e emocionais influenciem negativamente nas decisões. Fazer esse trabalho sozinho é ainda mais arriscado. Por isso, conte sempre com o apoio de um assessor de investimentos. – Fonte e outras informações, acesse (www.grupoethimos.com.br).