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Como montar um plano para sair das dívidas para sempre?

em Destaques
domingo, 16 de junho de 2024

Bruno Corano (*)

Muitas vezes a gente começa a ensinar planejamento financeiro imaginando um ponto de partida estável. Um cenário de faz de conta em que é possível subtrair as despesas dos rendimentos e assim calcular possíveis investimentos. Porém, a vida do brasileiro endividado exige uma estratégia bem diferente: mais complexa, mais disciplinada, paciente e persistente.

Paciência, inclusive, é uma habilidade emocional que será fundamental para sair do vermelho. O lado bom é que você terá aprendizados durante toda jornada e sairá do processo de quitação das dívidas mais maduro, controlado e financeiramente saudável, podendo sonhar com um futuro mais próspero. O primeiro passo para sair das dívidas é ter a dimensão real do problema. Para isso, será necessário colocar no papel todas as pendências.

É importante conversar diretamente com as instituições credoras para atualizar os valores, pois você não vai querer tomar um susto no meio do processo com números que caducaram há muito tempo. Você precisa categorizar as dívidas por valor, prazos e taxas de juros aplicadas.

Via de regra, você dará prioridade às dívidas com taxas de juros mais altas, pois elas consomem mais do seu dinheiro no longo prazo. Optar por pagá-las vai representar uma economia em juros acumulados.

Essa primeira etapa também é fundamental para estudar suas opções. No Brasil, a Lei do Superendividamento do Governo Federal existe para trazer dignidade para as pessoas que não têm possibilidade alguma de quitar suas dívidas. São casos extremos em que nem as despesas básicas com alimentação, água e luz podem ser pagas.

Com a ajuda da justiça de cada Estado, a pessoa que se encontra em dificuldade terá auxílio para renegociar as dívidas em bloco, o que, na prática, significa chamar todos os credores para uma negociação única.

Ainda que seu caso não seja de extremo endividamento, você também pode usufruir de programas como o Desenrola Brasil, que promoveu um mutirão de renegociação de dívidas de pessoas físicas para retomarem seus poderes de compra. Outros programas ainda estão em andamento, como o Desenrola FIES e o Desenrola Pequenos Negócios, mirando dívidas estudantis e empresariais.

Existem ainda os feirões de instituições privadas e financeiras e o Serasa Limpa Nome para firmar acordos. Se o seu caso for um pouco mais simples, ainda é possível negociar diretamente com os credores. Para evitar a inadimplência, muitos estão interessados em reduzir o tamanho da dívida ou até mesmo reduzir as taxas de juros. Só tome cuidado para que o novo acordo não se transforme em uma nova dor de cabeça.

Antes de fechar qualquer plano de pagamento, você precisa ter feito a lição de casa e montado seu orçamento. Neste ponto, o orçamento do endividado difere daquele orçamento em cenário de estabilidade que eu citei no início do artigo, pois ele terá como objetivo o corte de gastos. Estar com as contas no vermelho significa que os gastos com despesas fixas e variáveis superam a renda do indivíduo, por isso será necessário cortá-las.

O método ABCD é uma forma simples de categorizar as despesas para saber o que pode ser retirado ou reajustado:

A – Alimentação – É uma necessidade primordial. Não dá para falar em remoção, então só é possível pensar em economia. Seria possível encontrar os mesmos produtos de supermercado por um preço mais baixo em outro estabelecimento? E trocar algumas marcas de produtos?

B – Básico – São as contas prioritárias como aluguel, água, luz e gás. Elas entram como despesas fixas do seu orçamento. Também cabem economia.

C – Contornável – São as despesas que você considera importantes, mas que podem ser reajustadas ou mesmo cortadas em tempos difíceis. É o caso de reavaliar algumas assinaturas de streaming, o valor do pacote de internet, o uso de transporte por aplicativo e até mesmo as mensalidades de uma academia um pouco mais cara.

D – Desnecessário – É o gasto que já deveria ter sido removido do seu orçamento ainda que você não tivesse dívidas. São taxas por serviços de cartões de crédito que você desconhecia, assinaturas de serviços que você nem se lembrava que tinha, entre outros.

Como meu compromisso com você é com a realidade dos fatos, eu sei muito bem que, feito o levantamento de gastos, você pode perceber que não tem para onde correr (ou seja, é impossível enxugar ainda mais). Se não tem como reduzir, então a opção para sair do vermelho é pensar em como aumentar a receita.

O que você poderia fazer para conquistar uma renda extra e quitar suas dívidas? Você conseguiria acumular horas-extras por um período enquanto paga alguns compromissos? E assumir alguns trabalhos como freelancer? Talvez seja o caso de transformar um hobby em trabalho. Alugar a garagem de casa? Virar pet sitter aos fins de semana? Eu poderia fazer uma lista imensa, afinal, a criatividade do brasileiro é infinita, assim como a fibra para trabalhar.

Estratégia montada, agora é hora da ação: trabalhar, economizar, pagar. E tudo de novo. E mais uma vez. O processo será longo e cansativo, mas também será recompensador. Boa sorte na sua jornada!

(*) – É economista, investidor da Corano Capital e apresentador do Manhattan Connection.