Xavier Poisson Gouyou Beauchamps (*)
Os dados não são apenas bits e bytes de informações armazenadas ou usadas por computadores. Eles são a moeda que impulsiona a economia digital. E a falta de acesso fácil a esses dados está ampliando ainda mais a exclusão digital, ampliando a percepção total de que o mundo está dividido em dois campos distintos: o dos “ricos” e o dos “pobres”.
Conforme vivenciamos pela resposta do mundo à covid-19, os “ricos” são aqueles países que alavancaram tecnologias avançadas e acesso onipresente a dados que permitiram que milhões se beneficiassem de trabalho remoto, telemedicina e acesso a vacinas que salvaram ou melhoraram inúmeras vidas.
Os “pobres” foram deixados de lado. Em muitas regiões do mundo, como na África Subsaariana, a economia digital quase não existe. Centenas de milhões de pessoas não têm Internet e, em muitas partes da África e do Sul da Ásia, 9 em cada 10 crianças em idade escolar estão desconectadas, tornando quase impossível o acesso a educação adequada, saúde, alimentação e outros recursos essenciais.
Assim como a disponibilidade global de eletricidade é essencial para a participação na economia moderna, o mesmo ocorre com a conectividade em um mundo que prioriza o digital. Isso requer a construção de infraestrutura digital e habilidades que apoiem todos, desde as organizações, passando por hospitais rurais no Camboja até agricultores na Indonésia e crianças em idade escolar nas aldeias rurais de Ruanda.
Para corrigir essa disparidade, devemos nos afastar das infraestruturas de computação em nuvem centralizadas, que – falando francamente permitem que apenas alguns poucos explorem os dados criados por cidadãos, consumidores e empresas, e evoluir para um modelo de nuvem descentralizado que dá a todos os países – ricos e pobres – acesso aos dados onde são criados, já que eles estão cada vez mais no “limite” ou fora dos centros de dados centralizados.
. Democratizando os dados – A HPE, como um dos fornecedores líderes mundiais de infraestrutura de computação em nuvem, está empenhada em tornar a nuvem descentralizada uma realidade e, recentemente, assinou um acordo com a Smart Africa, uma iniciativa para acelerar a digitalização do continente e criar um mercado digital comum para seus países e cidadãos.
Modelado após o Gaia-X, um projeto liderado pela Europa para construir uma infraestrutura de dados descentralizada federada, a Smart Africa tem o objetivo de impulsionar a inovação digital, o crescimento econômico e o progresso social por meio do compartilhamento de dados, percepções e serviços em escala.
É uma mudança drástica da abordagem tradicional de gerenciamento de dados, que envolve a agregação de dados em um local central, geralmente uma nuvem, e o envio de insights de volta para a borda.
Mas na economia acelerada de hoje, essa abordagem costuma ser muito lenta. Além disso, pode levar à monopolização dos dados, já que apenas as organizações como os meios necessaries podem capitalizar sobre os dados exponenciais. Ao mudar para uma abordagem na nuvem descentralizada com padrões e arquiteturas comuns, os dados se democratizam.
E a oportunidade de expandir o comércio digital baseado em dados torna-se uma realidade para todos, dando aos países e territórios a propriedade de três elementos-chave que a maioria não teve para capitalizar: meios de produção em nuvem, valor econômico gerado pela nuvem e empregos relacionados ao setor de nuvem.
Para construir uma sociedade global equitativa, as tecnologias de dados precisam ser mais acessíveis a organizações e governos que atualmente são muito pequenos, com recursos insuficientes ou mal equipados para acessarem e se beneficiarem desses avanços.
Ao criar uma infraestrutura digital acessível por meio de nuvens descentralizadas, a HPE e os provedores de serviços locais podem trazer uma era de percepção equitativa – uma era de novas descobertas – que pode gerar soluções para os desafios mais difíceis da sociedade. Essa é a intenção por trás do envolvimento da HPE com a Smart Africa.
Agora estamos trabalhando no desenvolvimento de uma prova de conceito para uma federação de nuvem descentralizada com alguns estados membros da Smart Africa, com a esperança de que isso leve a formas tangíveis de acumular e democratizar dados intra-africanos. Claramente, conforme a economia digital evolui, também deve evoluir nosso foco nas arquiteturas de TI necessárias para capitalizar totalmente sua promessa.
Em 2023, de acordo com o IDC, mais de 50% da nova infraestrutura de TI corporativa estará no limite; além disso, o Gartner previu que mais de 50% dos dados gerados pelas empresas serão criados e processados fora de um data center centralizado tradicional ou nuvem até 2025. Por meio da aliança com a Smart Africa e outras inciativas, temos a oportunidade de eliminar a exclusão digital e promover a inclusão digital em todo o mundo.
Concentrando-se na mudança para nuvens descentralizadas, os provedores de TI podem dar as mãos aos governos e organizações para dar as boas-vindas aos “pobres” em uma economia digital produtiva e totalmente inclusiva.
(*) – É vice-presidente de W Service Provider Business e Cloud28+ na HPE (www.hpe.com).