A indústria têxtil, um dos segmentos que mais requer atenção em termos de sustentabilidade, está passando por uma transformação significativa em sua abordagem às questões ambientais.
Com a crescente pressão da sociedade por práticas mais responsáveis, o setor está adotando iniciativas de economia circular, que incluem a reciclagem de resíduos e a certificação de boas práticas, visando mitigar os impactos ambientais.
A economia circular é uma abordagem que muda a forma como os produtos são criados, utilizados e descartados. Essa prática busca reintegrar materiais usados de volta na produção, reduzindo desperdícios e prolongando a vida útil dos recursos. No Brasil, o setor têxtil está avançando em direção a essa responsabilidade ambiental.
Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), destaca: “Estamos trabalhando juntos para compartilhar ideias e desenvolver produtos e serviços que promovam a sustentabilidade e gerem benefícios ambientais. Essa nova mentalidade vê a sustentabilidade como uma oportunidade de inovação e crescimento, e não apenas como uma obrigação”.
Um exemplo prático dessa mudança é a reciclagem de resíduos de corte. Esse processo transforma restos de tecidos em novos fios e outros produtos, como enchimentos e tecidos não tecidos (TNT). “Estamos encontrando maneiras criativas de reutilizar materiais que, antes, seriam descartados”, afirma Pimentel.
. Práticas sustentáveis em ação – Entre as iniciativas adotadas pelo setor, estão a reutilização de resíduos, a redução do consumo de água e a troca de processos químicos tradicionais pela estamparia digital. Reciclar tecidos e reintroduzi-los na produção não só reduz o desperdício, mas também diminui a necessidade de novos recursos naturais, promovendo economia e reduzindo a emissão de carbono.
Empresas brasileiras estão liderando essas práticas. O Grupo EuroFios, de Santa Catarina, se destaca por reciclar mais de 13 mil toneladas de materiais como retalhos e aparas anualmente, transformando-os em novas fibras. Já no setor de eventos e feiras, um marco importante foi o Febratex Summit 2023, que reuniu mais de 5.500 profissionais e alcançou uma taxa de reciclagem de 92,2% dos resíduos gerados, conquistando o selo Lixo Zero.
Esse selo, concedido pelo Instituto Lixo Zero Brasil, certifica eventos que destinem pelo menos 90% de seus resíduos de maneira adequada, seja por reciclagem, compostagem ou reuso. O Febratex Group se tornou a primeira promotora de eventos do setor têxtil nas Américas a obter essa certificação.
Em agosto, o Febratex Group alcançou 71,5% de circularidade de resíduos em sua maior feira, a Febratex, que recebeu mais de 80 mil visitantes e ganhou o Selo Rumo ao Lixo Zero. Giordana Madeira, Diretora-Executiva de Sustentabilidade do Febratex Group, ressalta a importância da circularidade em toda a cadeia produtiva.
“Ao garantir que os resíduos gerados em nossas feiras fossem reciclados, mostramos que é possível integrar práticas sustentáveis em todas as frentes do mercado, promovendo uma indústria têxtil e de moda mais responsável e alinhada com as demandas globais por sustentabilidade”.
. Um caminho a seguir – A busca por sustentabilidade no setor têxtil brasileiro não é nova. Desde os anos 1970, a indústria reconhece a necessidade de equilibrar crescimento econômico e preservação ambiental. No entanto, foi a partir dos anos 2000 que esse movimento ganhou força.
A Abit aponta que a adoção de práticas inovadoras aumentou nos últimos anos, acompanhando a demanda por produtos que causem menos impacto ambiental. Inovações como o uso de resíduos de batata e mandioca na produção de gomas e amaciantes à base de cupuaçu mostram como a bioeconomia está se integrando à cadeia produtiva.
O Brasil também é um dos maiores produtores de algodão certificado pela Better Cotton Initiative (BCI), garantindo que sua produção siga critérios de responsabilidade ambiental e social. Mais de 4 mil empresas brasileiras estão certificadas pelo Programa ABVTEX, que assegura boas práticas socioambientais.
Porém, o mercado global de moda sustentável, avaliado em 7,91 bilhões de dólares e com uma taxa de crescimento anual de 23,5% entre 2024 e 2031, ainda enfrenta desafios. A cultura do descarte é um obstáculo, já que muitas vezes o custo de produzir novos produtos é menor do que reciclar. Para superar isso, é fundamental um suporte regulatório e financeiro, como incentivos fiscais, que ajudem as empresas a adotar práticas sustentáveis de forma viável.