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A revolução digital e a educação nas novas políticas para o trabalho

em Destaques
sexta-feira, 24 de junho de 2022

Cadu Pereira () e Marcello Caldas Bressan (*)

No recente relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial “The Future of Jobs – 2020″ foi evidenciado um cenário com a tendência de forte transformação no mercado de trabalho até 2025.

Dentro do contexto da revolução digital, acelerado pela pandemia de Sars-Covid19, apontando para números como: 43% dos negócios planejam diminuir sua força de trabalho por meio da integração tecnológica e, até 2025, o tempo gasto para executar as tarefas será igualmente distribuído entre trabalhadores humanos e máquinas.

Segundo este mesmo relatório, há uma estimativa de até 85 milhões de empregos no mundo serem impactados por uma mudança na divisão de trabalho entre humanos, algoritmos e máquinas e, por outro lado, a criação de 97 milhões de novos empregos em papéis mais adaptados a esta nova divisão de trabalho.

No entanto os novos empregos que estão sendo criados demandam dos trabalhadores novas habilidades como análise de dados, pensamento crítico, habilidades para resolução de problemas, autogestão, aprendizagem ativa e criatividade.

A utilização de algoritmos e robôs, por exemplo, expõem a sociedade atual a um risco imediato de aumento na automação de tarefas e destruição de empregos, devendo haver, portanto, políticas que garantam investimentos em capital humano, que desenvolvam rapidamente as capacidades complementares ao uso de robôs e inteligência artificial, tanto no sentido de formar capacidades em áreas em que a automação não alcança, como também as capacidades de concatenar a colaboração entre pessoas e máquinas ou software para a execução de trabalhos.

O pré-requisito chave para a formação destas capacidades é a educação, tanto antes da entrada do trabalhador no mercado de trabalho, quanto ao longo de toda sua vida profissional. Segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o déficit de profissionais na área pode chegar, no Brasil, a 260.000 vagas em aberto, até 2024, evidenciando que a capacitação das pessoas não está ocorrendo na velocidade e quantidade suficientes para suprir as necessidades dos negócios.

Por outro lado, a taxa atual de desemprego no País está em 12,9 milhões de pessoas. Mesmo com investimentos massivos, com a estrutura atual, não há como reverter rapidamente este quadro que compromete tanto o emprego e renda quanto a competitividade das empresas ao não conseguirem ser atendidas em suas novas necessidades.

Nesse contexto, a educação deve se transformar profundamente refletindo as exigências modernas de adaptabilidade e flexibilidade. As políticas públicas devem garantir que a qualidade da educação seja medida e ajustada na direção da alta qualidade e criar oportunidades para as pessoas e as empresas agirem ativamente na obtenção de treinamentos e novas habilidades.

Um cenário bem positivo que a revolução digital torna factível seria o governo, em cocriação com empresas e trabalhadores, construir ferramentas que tragam previsibilidade de tendências de surgimento de novas ocupações emergentes e quais habilidades são requeridas, possibilitando a adaptação de todos os atores às novas necessidades no timing correto.

Políticas no sentido de estimular as empresas a formarem (aprender a fazer) profissionais para preencherem suas próprias necessidades também fazem sentido, uma vez que podem trazer mais eficiência ao sistema educacional, com formações e conteúdos mais específicos e adaptados às práticas dos negócios, complementando o sistema educacional geral com sua missão formativa básica, educação para a cidadania, sustentabilidade e o mais importante, aprender a aprender.

Melhorar o capital humano e as habilidades dos trabalhadores também é uma condição necessária, mas não suficiente, para a criação e manutenção de empregos abundantes e de alta qualidade. Para evitar que a revolução digital gere desemprego ou torne as carreiras instáveis e fadadas à baixa remuneração, é fundamental combater a disfuncionalidade e ineficiência do mercado de trabalho.

As políticas públicas devem estar direcionadas a remover as barreiras à geração de empregos e investimento, apoiar inovação e crescimento, aumentar a segurança jurídica nas relações trabalhistas, promovendo o equilíbrio entre a flexibilidade do mercado de trabalho e a segurança do emprego para os trabalhadores, além de simplificar e melhorar as regulamentações trabalhistas de modo a torná-las mais simples e eficientes.

Um outro aspecto diz respeito a facilitar a criação e financiamento de startups, estimulando a abertura de novos negócios, oportunizados pela revolução digital, além de organizar e estimular a formação de ecossistemas de empresas que podem atuar em rede, ampliando seu alcance no mercado com capacidades complementares, aproveitando as novas oportunidades criadas como consequência à revolução digital.

() – É head de Inovação para a vertical de Governo da Stefanini Brasil (*) – É head de Inovação para Futuros e Novas Abordagens da Stefanini Brasil