Vitor Sousa (*)
No universo corporativo, já é batido dizer que “o dado é o novo petróleo”. Com a hiperconexão e o advento da LGPD e do open banking, não restam dúvidas de que há interessantes possibilidades de uso desses dados para os cidadãos (agora soberano sobre suas próprias informações) e para as empresas que lidam com eles.
As possibilidades devem aumentar ainda mais com o open insurance.
Atualmente, o Brasil vive um momento de rascunho das APIs e discussão sobre os detalhes da implementação, prevista para dezembro. O debate está sendo encabeçado pelo órgão regulador do setor, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), tendo como base as mesmas diretrizes do open banking.
Estamos presenciando, possivelmente, o início da era do “open everything”. Já imaginou que maravilhoso ter seu histórico de saúde, com exames, consultas e prontuários, reunido em um mesmo lugar?
Enquanto o compartilhamento de informações dá ao consumidor acesso a serviços e preços mais adequados ao seu perfil, para as organizações, ele acrescenta inteligência ao processo de uso de dados e gera mais competitividade, além de proporcionar um crescimento e amadurecimento do mercado como um todo.
Ao mesmo tempo em que abrem suas janelas à inovação e ao desenvolvimento de serviços e produtos mais focados no consumidor, as empresas se imbuem, no open data, de enorme responsabilidade no armazenamento, tráfego e compartilhamento dos dados.
E é aí que mora o problema. Ou não? – Garantir que os dados estão em segurança é uma questão que assombra tanto o público como as próprias organizações. O desafio é do mercado como um todo: quanto mais a informação circula, maior a chance de ela vazar. A questão não é a transferência de dados em si, que é segura, mas sim o que acontece com o dado dentro da própria empresa.
Nesse contexto, a LGPD é a legislação necessária para viabilizar sistemas como o open banking e open insurance, porque ela responsabiliza claramente a organização pelo cuidado com os dados. Mas ainda há dúvidas, principalmente em relação ao trânsito dos dados dentro das instituições.
Há alguns padrões de segurança que ajudam, como os modelos antigos de compliance, porém eles se restringem aos grandes bancos (as instituições financeiras, pela própria natureza de seu negócio, já nascem com grande preocupação em relação à segurança).
O cenário requer equilíbrio perfeito entre funcionalidade e segurança. Sempre que um pesa mais que o outro, alguma parte importante do negócio pode estar em risco. Se plataformas “travarem”, mas os dados estiverem em perfeita segurança, algo não vai bem. Se as soluções fluírem, mas com incerteza quanto aos dados, também não. A equação é individual.
Cada organização precisa olhar, com cuidado e sinceridade, para os seus processos e encontrar os seus caminhos para esse equilíbrio. A responsabilidade também é de cada um: há quem se recuse a executar integrações consideradas inseguras. Com isso, dispensam algumas oportunidades de negócios, mas evitam imensas dores de cabeça. Até porque o momento é de responsabilidade coletiva. Caso contrário, os dados serão sim o novo petróleo, mas no formato “vazamento” e “desastre ambiental”.
Com o amadurecimento da sociedade no uso dos dados, a agilidade de processos e o encurtamento de caminhos tem muito a ganhar. É uma revolução que tende a ser positiva, ainda mais com o aprimoramento de tecnologias como inteligência artificial, machine learning, data mining e conectividade 5G. E essa transformação será impulsionada por empresas e serviços inovadores, provavelmente focados em nichos de mercado. Não por acaso, as fintechs e startups estão na linha de frente desse processo.
Mas, mais do que dominar uma ou outra tecnologia, uma organização só poderá se dizer parte dessa revolução se souber dar a devida atenção ao tratamento dos dados de seus clientes. Lidar com essas informações de forma responsável, estabelecer relações de confiança, buscar parcerias especializadas sempre que a tarefa lhes parecer grande demais são algumas atitudes capazes de separar barris de petróleo a preço recorde de um lado e, de outro, litros de óleo manchando nossos mares.
E sua empresa? De que lado da revolução tecnológica e do open data quer estar?
(*) – É COO e cofundador da Digibee (www.digibee.com).