O cenário polarizado dos dias atuais trouxe um mindset de conflito recorrente na sociedade brasileira, o que impacta numa enorme dificuldade de comunicação. Os estímulos nesse momento são reativos, limitando a capacidade de ouvir. Os extremos entram em embates e, em todas as conversas, os indivíduos se sentem obrigados a tomar lados e atestar suas opiniões.
Nesse cenário, há uma necessidade latente de falar e convencer, muito mais que compreender, uma postura que beira a intolerância. Essa realidade se reflete também no ambiente organizacional, no qual, o distanciamento do home office atrelado ao medo do desemprego e da crise econômica faz com que haja uma redução drástica da capacidade de diálogo real entre líderes e colaboradores e estes com os seus pares.
Essa tendência é notada no estudo de Mariana Aylmer, Pesquisadora da Aylmer Desenvolvimento Humano, que identificou que para iniciar uma comunicação efetiva é preciso perceber o estágio de maturidade moral do outro. “É fundamental compreender onde essa pessoa está, sua visão e posicionamento. Por que ela pensa como pensa e o que ela está considerando. Se você começar a conversa discordando, você não conseguirá estabelecer um diálogo.
Assim, o primeiro passo é encontrar o canal que a pessoa está imersa, ser intencional em gerar pontos de conexão, para que então haja diálogo”, explica. Além de uma comunicação social é interessante analisar esses impactos na vida organizacional, especialmente em tempos de crise e transformação do momento atual gerado pela pandemia. Ela reforça que é essencial compreender os problemas e como isso impacta a vida pessoal de cada colaborador, percebendo, assim, de que forma a organização exerce o seu papel.
“A maturidade moral é basicamente a definição do quão abrangente é o pensamento do indivíduo ao considerar os impactos de suas ações. É preciso entender a maturidade moral das empresas de forma macro e individualmente. E é possível compreender e elevar a maturidade moral em nível coletivo, para uma mudança mais sistêmica e mais sustentável nas organizações. Nossa pesquisa está desenvolvendo um modelo de soluções organizacionais que confluem para isso”, complementa.
A coordenadora do estudo destaca ainda que o quão crucial é o papel do líder neste momento. Ela alerta que a liderança é responsável por garantir um espaço de confiança na equipe, onde os indivíduos podem exercer todo o potencial de sua maturidade moral, onde pode existir a comunicação empática eficaz.
A pesquisadora reforça que “Os colaboradores não podem viver a base do medo. Esse é o lugar do nível mais baixo de maturidade moral, onde o pior das pessoas aparece, para se proteger. Mas, a liderança direta pode elevar as características morais do ambiente ao fazer com que o colaborador se sinta seguro nesse espaço. Então, os indivíduos param de precisar pensar em se proteger e concentram suas energias em colaborar, em desenvolver juntos um ideal compartilhado.
É essa chamada confiança transformadora que acelera processos e gera valor para a organização”. detalha, acrescentando que o raciocínio moral aplicado à prática possibilita a geração de acordos, nos quais as partes compreendem a raiz dos problemas e buscam premissas de ações para tomada de decisões, surgindo o sentimento de corresponsabilidade dentro da empresa e elevando não só o raciocínio, mas o nível do comportamento moral no ambiente.
Mariana esclarece que ao falarmos em raciocínio moral, não falamos do que a pessoa de fato vai fazer, mas a abrangência do pensamento ao considerar impactos para a tomada de decisões. Significa compreender em até onde o colaborador consegue ver para tomar uma decisão diante de um dilema moral.
“É identificar os porquês que explicam a estrutura pensamento moral, e seguindo a tradição de Lawrence Kohlberg, consideramos seis estágios crescentes em escopo (e maturidade): autoproteção; interesse pessoal; pertencimento; autoridade e ordem; contrato social e princípios universais”, cita a autora.
“Se o indivíduo só consegue pensar nos seus interesses pessoais, não enxerga os impactos que suas decisões e suas palavras tem além desse escopo”. Ela ressalta que os ambientes são determinantes na ativação desses estágios, através dos esquemas morais, que são as estruturas de memória de longo prazo associadas ao comportamento moral.
Na prática, de acordo com o ambiente, a pessoa pode ser influenciada a se comportar de determinada maneira, de modo diferente da sua capacidade de raciocínio moral natural. “Isso porque o senso de pertencimento influência na ativação de esquemas morais. O medo, a pressão e o ambiente de tensão influenciam diretamente o indivíduo.
Por exemplo, se é ativado o esquema de medo, aumentam os riscos de acidentes, fraudes e desconfiança dentro da empresa. E o efeito é cascata, fazendo com que regras sejam burladas e haja aumento da burocracia. E da mesma forma, o pertencimento, a perspectiva do orgulho de uma conquista coletiva pode elevar o padrão de comportamento moral de um grupo” conclui a coordenadora. – Fonte e mais informações: (https://aylmer.com.br/).