Marcelo Souza (*)
Todas as revoluções que vivenciamos, acompanhamos ou estudamos têm algo em comum, a conexão entre tecnologias que impulsionam e geram disrupções. Do surgimento do tear mecânico até o lançamento de aplicativos, por exemplo, de transportes, como o Uber, a sociedade passou e passa por inúmeras transformações, que trazem naturalmente mudanças, inclusive nas formas e maneiras de se trabalhar.
A mais recente transformação veio em decorrência da Quarta Revolução Industrial, também conhecida por Indústria 4.0, que trouxe consigo inúmeras tecnologias impulsionadoras que geram megas tendências e disrupções sem precedentes e que emergiram com ainda maiores impactos durante a próxima década.
Um dos mercado que representa esta mudança é o de mobilidade urbana, tanto no Brasil quanto no mundo. Os taxistas que, assim, como os artesãos da indústria 1.0 eram detentores de grande conhecimento sobre seu ofício, sentiram grandes impactos durante as suas devidas revoluções.
O conhecimento invejável sobre a geografia e locomoção nas cidades e Megas metrópoles como por exemplo São Paulo, construído durante anos de treino e trabalho, passaram a enfrentar a concorrência de motoristas de plataformas, esse “conhecimento digital”, permite que uma pessoa somente habilitada a dirigir, possa navegar facilmente pelas menos conhecidas vias da cidade, isso só é possível por meio da conexão de tecnologias, como mapas que somados a satélites, nos deram o GPS, que juntamente com a economia compartilhada e plataformas mobiles evoluíram para o Waze, que novamente somados com economia sob demanda e e-commerce nos habilitaram os apps de mobilidade como o Uber, permitindo trazer o melhor custo benefício ao setor.
Assim como na Inglaterra do século XVII, a tecnologia rompeu a barreira do conhecimento pessoal, não era mais necessário anos de treinamento para formar um artesão, apenas instruções de operação de máquinas e a abundante oferta de mão de obra, gerou impactos sem precedentes na indústria têxtil e posteriormente em outras. Agora novamente é possível observar a mesma dinâmica no mercado de transporte pessoal.
Com essa “mecanização”, derruba-se uma barreira de entrada, o conhecimento intrínseco da geografia da cidade. A existência desse conhecimento é muito bem observado em Londres, onde por exemplo, para se obter a licença de trabalho nessa profissão, se faz necessário passar por treinamentos extensivos, aprendendo a navegar entre milhares de ruas e lugares da cidade, posteriormente validado por um conjunto rigoroso de exames aplicados por policiais.
Com oferecimento desse mecanismo tecnológico de grande acessibilidade, em virtude da difusão dos smartphones, somados a crise econômica que deixou milhares de pessoas desempregadas, inclusive na cidade de São Paulo, criou-se ambiente perfeito para uma revolução. Essa nova tecnologia de navegação foi impulsionadora para a disrupção do Uber, um dos principais players do mercado até hoje.
O aumento da oferta do serviço de transporte individual, naturalmente ocasionaria na redução dos preços oferecido. Essa variação é simplesmente explicada pela própria lei de oferta e demanda. O mercado regulado restringe a oferta e não permite que se chegue a um preço mais baixo dado a baixa concorrência. Quando o setor passou ser mais concorrido, melhora-se a qualidade e reduz-se os preços praticados.
A recente pesquisa Origem-Destino feita pelo Metrô revelou que, diariamente, são realizadas 362,4 mil viagens por aplicativos, contra 112,9 mil feitas pelos táxis comuns. Ou seja, as corridas feitas por apps já superam em três vezes os táxis, isso só na cidade de São Paulo. Com a redução dos valores estabelecidos para o serviço de transporte pessoal muitas pessoas puderam se beneficiar dessa comodidade, fenômeno parecido com o observado durante a primeira fase da revolução industrial na Inglaterra onde milhares de pessoas puderam ter acesso a roupas leves e de qualidade.
Os taxistas usufruíram duas proteções, sendo a proteção do mercado regulado e, a do conhecimento do ofício. A quebra dessa segunda, por meio da “mecanização” proporcionada pelo Waze, permitiu que mais pessoas estivessem aptas para prestar esse serviço e nem mesmo o mercado regulado foi capaz de deter a onde de mudança, exemplificando muito bem os efeitos de uma revolução. A plataforma de conexão dessa legião de novos prestadores, propiciada pela empresa Uber, gerou uma disrupção, impactando na sociedade local, assim como mudando o hábito de locomoção urbana de muitas pessoas, impactando na economia, gerando renda para milhares de famílias e ativando o mercado. Esses são os efeitos de uma revolução.
Outros efeitos que poderíamos rapidamente classificar são: a diminuição do faturamento de estacionamentos particulares, redução de arrecadação de estacionamentos públicos (zona azul), redução de vendas de veículos, redução de faturamento de apólices de seguros de automóveis entre outras. É preciso olhar atentamente para o futuro próximo com o entendimento de tecnologias impulsionadoras e disruptivas, analisando as megatendências e verificando o quanto o seu mercado de atuação é vulnerável.
Sem dúvida a quarta revolução traz naturalmente muitas ameaças, mas também outras oportunidades para novos players e stakeholders, até o presente momento a civilização em sua maior parte vem sendo a grande privilegiada. Assim, podemos concluir que a população está se locomovendo com mais facilidade, passa menos tempo “presa” em trânsitos e ainda paga-se menos por um serviço de qualidade.
(*) – É CEO da Indústria Fox, pioneira na reciclagem de refrigeradores com destruição dos gases do efeito estufa e responsável pelo projeto TudoBônus.