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A importância de receber dividendos… na hora certa!

em Destaques
segunda-feira, 18 de abril de 2022

Fabio Sobreira (*)

Dentro de todos os indicadores que os investidores gostam de ver quando escolhem suas ações para investirem na Bolsa, o dividend yield, que são os dividendos distribuídos nos últimos 12 meses divididos pelo preço atual da ação, é certamente um dos mais importantes, principalmente para aqueles investidores que pretendem viver da renda de seus investimentos.

O fascínio pelos dividendos, em especial no Brasil, vem do fato dos mesmos serem isentos do Imposto de Renda, e serem uma das formas mais simples de ver o quanto a empresa está retornando para o bolso do acionista, de todo o valor que foi investido. Tudo isto de fato são vantagens enormes e não há como negar a importância dos dividendos na análise de boas empresas, quando estas estão na fase de distribuir dividendos.

E aqui começamos uma confusão feita por muitos investidores menos experientes, influenciados muitas vezes por matérias do tipo “clickbait”, que convocam pessoas inclusive a comprar ações perto da data ex-dividendos para que estes possam se aproveitar dos ganhos desta distribuição.

Mas fato é que, quando estes são distribuídos, eles são descontados do preço da ação, não gerando, portanto, qualquer ganho para o acionista, além dos já mencionados acima, que são o melhor controle e a isenção tributária, principalmente.

Peguemos o exemplo da Vale (VALE3), que anunciou R$ 8,20 de dividendos para quem estivesse posicionado em seus papéis até o dia 22/09/2021, fechando o dia com a cotação de R$ 87,11. Este valor, porém, foi automaticamente ajustado ao final do pregão para algo em torno de R$ 78,91, após o desconto dos dividendos pagos.

Isto significa que o investidor de VALE3 amanheceu no dia seguinte, teoricamente, com R$ 8,20 por ação a mais na conta da corretora e R$ 8,20 a menos em seus investimentos na Vale. É o famoso “tirar de um bolso para colocar no outro”.
E, ao contrário do que muitos pensam e espalham por aí como se fosse verdade, uma empresa, à exemplo da Vale, não vale somente o que valem seus papéis.

O caixa é uma conta importante nesta avaliação, já que ele pode tanto ser utilizado para reinvestimentos, quanto para uma distribuição como esta. Fato é que a Vale possuía, segundo balanço do segundo trimestre de 2021, cerca de R$ 68 bilhões em caixa e resolveu distribuir R$ 40 bilhões em dividendos aos seus acionistas. Não é difícil imaginar, portanto, que uma empresa que possui R$ 40 bilhões a menos vale menos do que valeria se mantivesse o caixa em seus cofres.

Se colocarmos este exemplo no cotidiano de empresas menores, a padaria do Joaquim com um caixa de R$ 10 mil vale mais do que valeria se o Joaquim tirasse todo o dinheiro do caixa antes de lhe vender o negócio. Dividendo não é bônus, assim como os juros sobre capital próprio ou até mesmo os chamados bônus, ou bonificação de ações. Todos eles acabam tendo o mesmo efeito de correção nas cotações das empresas, o que não gera qualquer benefício aos acionistas.

“Mas então, por que grandes investidores, como o Luiz Barsi, por exemplo, gostam tanto de empresas que geram dividendos?” – alguns questionam. E a resposta é simples: Se uma empresa é uma boa pagadora de dividendos e paga dividendos constantes, significa provavelmente que ela gera Lucro e Caixa constantes, o que torna esta empresa atraente em muitos sentidos.

Podemos então pensar que o Lucro, ou o Caixa gerado pela empresa, que são os fatos geradores dos dividendos, são o que importa no final das contas, para quem pensa em ser sócio, tanto da Vale, quanto da padaria do Joaquim. A distribuição deste caixa é apenas uma mera realização dos lucros transformados em ganhos para os sócios, que o gastarão como quiserem, até mesmo podendo reinvestir no mesmo negócio que resolveu distribuir estes lucros.

Neste último caso, que fique claro, você está recomprando ações de uma empresa que passou a valer menos após a distribuição dos lucros. Como exemplo, se você possuísse 100 ações de uma empresa cujo preço é R$ 11 e ela distribuísse R$ 1 de dividendos, esta mesma empresa passaria a valer R$ 10 por ação.

Agora, porém, você tem R$ 100 de dividendos no bolso. Se você recompra 10 ações desta empresa com os dividendos, você passa a ter 110 ações de uma empresa que agora vale R$ 10. Em efeitos práticos, você continua tendo os mesmos R$ 1.100 investidos na empresa e a recompra não teria gerado qualquer benefício.

É claro que podemos aqui discutir sobre os efeitos psicológicos da distribuição de dividendos e como um preço menor pode causar movimentações nas cotações futuras da ação, mas isso certamente é tema para um outro artigo. O mais importante a se entender é: “Dividendos? Sim, obrigado, mas na hora certa!”.

Se uma empresa tem coisa melhor para fazer com meu dinheiro do que me devolver, que o faça e me distribua mais dividendos depois com o dinheiro que reteve. Boas empresas aumentam suas receitas, dão lucro e geram caixa. Distribuir dividendos é um mero detalhe.

(*) – É colunista do Denarius (Boletim Econômico Financeiro da FIPECAFI).