Daniel Corrêa (*)
Em crescente discussão fora do Brasil, os “Serviços Jurídicos Gerenciados” ou Legal Managed Services (LMS) – em inglês – se mostram como a próxima etapa no processo de transformação de como os serviços de apoio à advocacia deverão ser realizados nos próximos anos.
Unindo a atuação de equipes de profissionais com conhecimento em áreas diversas, apoiadas por ferramentas tecnológicas e orientadas pelos objetivos estratégicos de seus clientes, os LMS elevam a outro patamar a tão tradicional prática de terceirização de serviços de auxílio à atuação jurídica, e este é o tema central deste artigo.
Antes de mais nada, a principal característica, pilar fundamental de uma solução de Legal Managed Services, é a atuação de um time de profissionais que reúna diversas competências e habilidades que permitam uma visão e atuação abrangente de toda a atividade a ser executada.
Por exemplo, nos antigos moldes da mera terceirização de uma atividade, a empresa contratada limita sua atuação a somente garantir que seus funcionários executem as tarefas demandadas pelo cliente. Eventuais demandas de implementação de novas tecnologias ou processos não seriam atendidas, pois o prestador sequer disporia de profissionais aptos a desenvolver soluções de tal especificidade.
Nesse contexto, a proposta dos Serviços Jurídicos Gerenciados é exatamente enxergar o propósito do escopo de forma holística, montando equipes com profissionais de diversas áreas, permitindo a gestão e a execução daquelas tarefas de maneira ampla e integrada.
Dessa forma, propõe-se a construção de um ambiente onde advogados, cientistas de dados, desenvolvedores de sistemas, gestores de projetos e muitas outras competências atuem de forma coordenada em prol do objetivo buscado pelo squad. Além de um time diverso, criativo e apto a tratar todas as vertentes do desafio assumido, uma condição essencial para a constituição do LMS é o apoio de ferramentas tecnológicas ao longo de todo o processo.
Para isso, a utilização de tecnologia é essencial para que os times possam focar sua energia e inteligência naquilo que é vital para sua atividade. Robôs, algoritmos, workflows e sistemas de gestão serão peças fundamentais para: automatizar tarefas repetitivas, aumentar a produtividade; facilitar a gestão; auxiliar a estratégia diária e reduzir os custos.
Assim, se antes a contratação de um prestador de serviços de backoffice demandaria a alocação de um gigantesco time de pessoas focadas na alimentação de sistema e tratamento de informações, com a utilização dos LMS é possível focar melhor a atividade dos especialistas, entregando à tecnologia grande parte do esforço em executar as tarefas maçantes, repetitivas e/ou de baixa complexidade.
Além de garantir a eficiência da solução, a atuação do squad em sinergia com tecnologia propicia condições para execução das etapas do processo de forma mais padronizada e qualitativa, eliminando falhas e retrabalho, que podem causar prejuízos financeiros ou institucionais ao cliente e contratado.
Outra característica igualmente importante dos Legal Managed Services, é a interação e o compartilhamento dos objetivos e propósitos entre contratante e fornecedor.
Na antiga dinâmica de terceirização de atividades, a empresa contratada norteava suas atividades basicamente nas entregas previstas no contrato formalizado com seu cliente. Assim, tempo de entrega e qualidade, em resumo, eram os únicos balizadores para indicar o quanto aquela execução atendia às expectativas do contratante.
E sempre deixando perguntas no ar, como por exemplo: o que foi entregue, o quanto ajudou nos objetivos do departamento jurídico ou da área do escritório que contratou aquela terceirização? A atuação do contratado, poderia influenciar na definição de necessidades e expectativas do contratante?
Com a implementação dos Serviços Jurídicos Gerenciados, o contratado deixa de ser um mero receptor de metas e cobranças de entregas, e passa a ser um ativo personagem na construção dos resultados que auxiliarão o atingimento dos objetivos estratégicos do próprio cliente!
Para tanto, além do squad ter em seu DNA a cultura data driven (orientada a dados), o prestador de LMS estará totalmente ciente de como a atividade pela qual é responsável impactará nos fluxos internos de seu cliente, entenderá seus KPIs (indicadores chave de desempenho, em inglês) e, inclusive, opinará sobre possíveis abordagens ou soluções que possam melhor contribuir com os objetivo do cliente.
Em conclusão, com isso, além de ser essencial a mudança de mindset do fornecedor, o cliente também passa a ser um personagem fundamental nessa mudança de atuação, à medida que quanto mais permitir que seus parceiros entendam seus propósitos e interfiram em seus processos, maiores as chances da evolução dos processos e resultados alcançados.
(*) – Gerente de Arquitetura de Soluções da Finch, é advogado especialista em Direito Civil, Processual e Trabalhista.