Alessandro Cauduro (*)
O live commerce, formato inovador de vendas online que integra transmissões ao vivo com o e-commerce, está acelerando no mundo todo após bombar na China, onde foi criado. Por lá, o formato já representou 10% de todas as vendas online de 2020 e a projeção é que esse número atinja 20% já em 2022 – um modelo pra lá de consolidado. Em uma pesquisa da AlixPartners, feita no final do ano passado, dois terços dos chineses afirmaram que haviam comprado por meio do live commerce nos últimos 12 meses.
No Brasil, por conta da pandemia, para sobreviver e não perder contato com seus consumidores, as marcas começaram a fazer transmissões nas redes sociais no ano passado. O brasileiro, um early adopter por natureza e entusiasta das redes, gostou do formato e, em pesquisa de tendências emergentes apresentada pelo Facebook no começo do ano, 91% desses entusiastas manifestaram o desejo de aumentar sua experiência com live shopping no Brasil.
Acompanhamos bem de perto a tendência desde 2019 e avaliamos que tinha tudo para decolar no Brasil também, uma vez que aqui o consumidor é bastante engajado nas redes sociais e gosta de interagir. A partir dessa visão, criamos em 2020 uma solução de live commerce integrada às principais plataformas de e-commerce do mercado para as marcas venderem por este novo formato, sem precisar criar mais um canal de venda.
Vimos o interesse das empresas acelerar no começo de 2021, com muitas empresas começando a experimentar o formato para entender como ele funciona e, claro, aprender e evoluir para obter mais resultados. Algumas marcas já avançaram e passaram da fase de avaliação para incorporar o formato dentro do seu mix de vendas.
Como toda inovação, o modelo trouxe aprendizados nas mais variadas frentes. E gosto de dizer que, para aprender, tem que começar a errar para acertar. As emoções e experiências vividas em transmissões ao vivo para mais de 30 clientes de diversos segmentos geraram o amadurecimento e apontaram para soluções mais concretas, com abordagens que foram incorporadas a partir das lições aprendidas e dessa verdadeira tropicalização do live commerce, já que temos as nossas peculiaridades.
Moda é um dos principais segmentos que aderiram ao formato de live commerce, no entanto, nos deparamos com um desafio inusitado no setor imobiliário. Em transmissões via live commerce feitas no mesmo dia para uma incorporadora em três capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), foram vendidos oito apartamentos. Esse feito inédito no Brasil com um produto desse porte só confirma a força de vendas deste sistema e como ele pode ser explorado como um mecanismo bem-sucedido por muitos produtos e marcas. Se é possível vender um apartamento, conseguimos vender qualquer coisa!
Além da plataforma, é fundamental ter uma produção mais cuidadosa e elaborada e, nesse aspecto, é importante contar com o trabalho profissional e especializado de uma produtora para integrar todo o processo de live commerce. Preparação e planejamento do conteúdo são essenciais para se atingir bons resultados, já que o formato ao vivo tem características próprias. Todos os envolvidos nessa grande produção precisam estar atentos a todos os detalhes e surpresas desse espetáculo para que tudo flua da melhor forma possível. Temos que estar preparados para os imprevistos.
O crescimento do tema no Brasil exige soluções integradas que vão além da plataforma e conteúdo. Além das entregas, é necessário montar squads especializados dentro das empresas que pretendem investir no formato para ser uma nova fonte de receita, e, com isso, desenvolver as melhores práticas customizadas para cada marca, inclusive formando seus próprios influenciadores. Assim, fica mais fácil garantir que a sua live commerce seja um sucesso.
Com a retomada da economia, a Black Friday promete vir com tudo e a concorrência deve ser ainda mais acirrada. As lives commerce devem ser um grande atrativo durante a semana de grandes promoções que acontecem no final do mês de novembro e, para tanto, esse formato precisa ser mais bem explorado nos próximos meses, com ações que vão servir para testar as demandas e preferências do público.
A frequência de lives trará experiência e irá aumentar a conversão e resultado pela recorrência e pelos aprendizados a cada evento online. Esse formato promete ser uma oportunidade de fidelização, ajudando a construir engajamento e preferência para as marcas em longo prazo. Por tudo isso, não espere a Black Friday para estrear no live commerce. Melhor testar antes para já chegar afiado, certo?
(*) – É CIO do Ecossistema Haus e CEO da Huia, que integram o Grupo Stefanini.