Thaísa Passos (*)
Você já se sentiu culpado por não fazer nada? A sociedade contemporânea (“sociedade do cansaço”), glorifica a agitação e dá pouco valor para os momentos de descanso e relaxamento. Mas a verdade é que nosso cérebro precisa de tempo ocioso para recarregar e renovar.
Inclusive, não fazer nada não é uma perda de tempo – é, na realidade, parte essencial de uma vida produtiva e criativa. Por mais que a atitude possa parecer improdutiva, acredite: o tempo ocioso dá à mente a liberdade de vagar, fazer conexões inesperadas e tropeçar em ideias que você nunca teria descoberto de outras formas.
Portanto, as pausas no trabalho não são somente necessárias – mas altamente recomendáveis. Os benefícios se refletem na redução do esgotamento e na elevação de fatores como motivação, produtividade, criatividade e desempenho. Einstein, Nietzsche, Bertrand Russell e outros grandes pensadores da humanidade defenderam os benefícios do descanso à mente.
Conforme pesquisa publicada no periódico Perspectives on Psychological Science, quando as pessoas estão descansando ou estão desligadas das atividades cotidianas, o cérebro entra no chamado “modo padrão” ou “default”, que está relacionado aos componentes do funcionamento socioemocional, como autoconhecimento, julgamentos morais, desenvolvimento do raciocínio e construção de sentido do mundo que nos rodeia.
Domenico De Masi, sociólogo italiano, ficou mundialmente famoso na década de 90 por suas teorias, como a de que o tempo livre é visto não como algo negativo, mas como algo verdadeiramente essencial para estimular a criatividade individual e aprimorar nossa capacidade de nos adaptarmos na sociedade globalizada e pós-industrial.
O ócio criativo é um dos pilares para a evolução intelectual e criativa da humanidade. Como já disse Nietzsche, a vida perde o sentido quando o ser humano expulsa os elementos contemplativos de sua rotina.
A arte de relaxar durante o trabalho não consiste em evitar as tarefas, mas em trabalhar de maneira mais inteligente e menos difícil. Estes movimentos pró-relaxamento não são meras pausas, mas sim os tons vibrantes que pintam uma obra-prima de produtividade e bem-estar. Compartilho, a seguir, alguns conceitos importantes aos quais todo profissional que deseja exercitar o ócio criativo deve se atentar:
- Os seres humanos sonham acordados há milhares de anos – Hoje em dia, os momentos livres são preenchidos com o uso da internet (principalmente nos smartphones) – o que deixa pouco tempo para que as mentes divaguem. Isso pode estar prejudicando nossa capacidade criativa.
Portanto, nos momentos de ócio, invista em atividades como dar uma volta, assistir a um documentário, preparar algo na cozinha, fazer exercícios físicos e de respiração profunda, meditar ou até mesmo degustar um chá ou café com tranquilidade, criando uma experiência inédita.
- Dedique um tempo para deixar sua mente viajar não significa ter tempo adicional na rotina – Isso porque os principais momentos de desfoque da mente ocorrem durante tarefas costumeiras que não demandam concentração total – como tomar banho, lavar louça, arrumar a casa, andar de carro ou até mesmo tirar uma soneca.
Cientistas da NASA descobriram que os cochilos com duração entre 10 e 20 minutos trazem benefícios de desempenho e concentração, sem fazer com que a pessoa sofra com a inércia resultante de se despertar de um sono mais profundo.
- Utilize a Técnica Pomodoro, estratégia de gerenciamento de tempo inventada pelo empresário italiano Francesco Cirillo – O método foi assim chamado em homenagem a um cronômetro em forma de tomate (pomodoro, em italiano), que o empresário usou na faculdade para se organizar com os estudos. A ideia é aumentar a produtividade dividindo o dia de trabalho em partes altamente focadas, separadas por pequenos intervalos.
Para colocar a técnica em prática, apenas dois itens são necessários: um cronômetro e disciplina para obedecer os Pomodoros (períodos de 25 minutos) e as pausas. Funciona assim:
- Pegue um cronômetro e marque 25 minutos;
- Foque somente em uma atividade durante esse período;
- Ao concluir o tempo, tire uma pausa curta, de pelo menos 5 minutos;
- Repita o processo quatro vezes;
- Ao completar o ciclo, tire uma pausa mais longa, de 15 a 30 minutos.
Agora, basta repetir esse processo inteiro até concluir as atividades. Afinal, a técnica é cíclica. Importante: as pausas devem sempre ser desassociadas do trabalho. Ou seja, vale tomar um café, caminhar um pouco, esticar o corpo ou, simplesmente, descansar.
- É preciso olhar para dentro – Cuidado! Se estivermos sempre ligados e conectados com o mundo exterior, corremos o sério risco de boicotar nossa mente no processo de construção de reflexões construtivas. Esse estado de atenção total não é sustentável e também faz com que, a longo prazo, nossa capacidade de pensar por nós mesmos e de questionar seja reduzida.
- Avanços inesperados acontecem quando a mente está relaxada ou envolvida em uma atividade diferente – Sabia que muitos líderes são, na realidade, grandes sonhadores? As empresas saem ganhando ao proporcionar um ambiente de trabalho onde exista espaço para a divagação das mentes dos colaboradores, permitindo-lhes ter ideias melhores e mais inovadoras. Isso pode ser feito, por exemplo, com a instalação de mesas de sinuca, videogames, academia, sofás confortáveis para descanso, entre outros atrativos.
Elementos que estimulam a criatividade e permitem uma convivência mais dinâmica entre o time. A ginástica laboral, quando orientada por um especialista, também é ótima para promover relaxamento e dar mais disposição durante o expediente. Acima de tudo, o desafio é oferecer ao time um local de trabalho convidativo, onde todos possam se sentir em casa e, dessa forma, produzir com mais entusiasmo.
(*) – É Diretora Global de Marketing da S.I.N Implant System (www.sinimplantsystem.com.br).