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São Paulo com suas ruas e bairros de nomes polêmicos

em Colunistas, Geraldo Nunes
quinta-feira, 20 de abril de 2017
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Em recente visita à Coreia do Sul o prefeito João Doria anunciou que empresas coreanas sediadas na capital paulista irão revitalizar a região do Bom Retiro e, em agradecimento, pretende acrescentar ao nome do bairro, a denominação em inglês, “Little Seul”, ou seja, uma pequena Seul dentro da capital paulista. As reclamações nas redes sociais já começaram visto que a população paulistana, por tradição, é renitente a mudanças

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Os prefeitos, por sua vez, como mostra a história, seja por falta de sensibilidade, pura teimosia ou ainda interesse político, modificam ou acrescentam nomes sem muita preocupação. O Bom Retiro sempre foi um lugar de comunidades. Os coreanos, por exemplo, começaram a se instalar na região pelo final da década de 1980, passando a conviver com moradores de outras nacionalidades e seus descendentes. Gente da Itália morou neste bairro e a Rua dos Italianos, onde por sinal foi fundado o Corinthians, em 1910, já recebia pelo início do século XX a comunidade judaica. Vieram depois os gregos, sírio-libaneses, espanhóis, portugueses, peruanos, bolivianos e inúmeros brasileiros provenientes do Nordeste.

Por este motivo, o Bom Retiro não é um bairro só de sul-coreanos, tanto que o comércio é variado e são diversas as instituições culturais e religiosas ali instaladas. Há sinagogas, igrejas cristãs da linha ortodoxa, centros espíritas, a paróquia Nossa Senhora Auxiliadora e também, é claro, templos orientais. São Paulo continua sendo uma cidade cosmopolita como antigamente, quando italianos chegaram a morar no bairro da Liberdade, depois ocupado maciçamente, a partir da década de 1920, pelos orientais especialmente os japoneses. Mas há também hoje na região muitos chineses, taiwaneses e sul-coreanos. Nos anos 1970, a Liberdade teve suas ruas ornamentadas com luminárias que fazem lembrar os países do oriente, mas nem por isso algum prefeito teve a ousadia de chamá-la “Little Tokio” ou “Chinatown”.

Já o que acontece nas Marginais do Tietê e do Pinheiros é impressionante. Primeiro, a via muda de nome durante o trajeto e nem se percebe. Na Vila Guilherme chama-se Av. Morvan Dias de Figueiredo e do outro lado, ao passar pelo Bom Retiro, Av. Castelo Branco. Quando o assunto passa a ser nome de rua, avenida, ou viaduto, aí então é que a confusão aumenta. A Rua Vergueiro aparece e desaparece do mapa várias vezes. Começa larga como uma avenida na Liberdade, segue pelo Paraíso e Vila Mariana para se transformar na Av. Professor Noé de Azevedo e depois voltar a ser uma rua apertada e sinuosa no Ipiranga, até o início da Via Anchieta. A Av. Sapopemba também é assim, larga e estreita, começa e acaba pelo caminho de quem a segue por automóvel. A Rua da Consolação é outro exemplo. Uma avenida com largas pistas nos dois sentidos e canteiro central para depois se transformar numa alameda de sentido único na região dos Jardins.

Já o que acontece nas Marginais do Tietê e do Pinheiros é impressionante. Primeiro, a via muda de nome durante o trajeto e nem se percebe. Na Vila Guilherme chama-se Av. Morvan Dias de Figueiredo e do outro lado, ao passar pelo Bom Retiro, Av. Castelo Branco. Para se evitar confusão todos a chamam de Marginal e fim de papo. O trajeto entre a zona norte e o Aeroporto de Congonhas também vai mudando de nome. São as avenidas: Santos Dumont, Tiradentes, 23 de Maio, Rubem Berta, Moreira Guimarães e Washington Luís. Para simplificar, virou para os repórteres que acompanham o trânsito, Corredor Norte-Sul.

Após a Proclamação da República, em 1889, algumas ruas do centro tiveram também seus nomes alterados por questões políticas. Tudo o que lembrava o Império deixou de existir. A Rua da Imperatriz, passou a se chamar XV de Novembro; a Rua do Príncipe virou Quintino Bocaiuva; e a da Princesa, Benjamin Constant, todos nomes republicanos. Um mapa de 1899 aponta que a Rua Direita teve modificada sua denominação para Floriano Peixoto e a Rua São Bento foi dedicada a Moreira César, um coronel massacrado na Revolta de Canudos. Mas o apelo popular fez com que a Rua Direita voltasse a se chamar Direita e a São Bento, idem. O povo também ignorou quando mudaram o nome da Av. Paulista para Carlos de Campos, entre 1927 e 1930 e a continuou chamando de Paulista.

Na entrada do túnel há uma placa ostentando dois nomes: Túnel Nove de Julho – Dr. Daher Elias Cutait.Um outro episódio interessante aconteceu na gestão Marta Suplicy em 2006. A pretexto de que o nome do Túnel Nove de Julho não era oficial, a ex-prefeita resolveu mudá-lo para Túnel Dr. Daher Elias Cutait, professor da Faculdade de Medicina da USP, da Santa Casa de Misericórdia e um dos fundadores do Hospital Sírio-Libanês. Ocorre que Nove de Julho é data sagrada para o povo de São Paulo.

Por esta razão alguns intelectuais ligados ao Instituto Histórico e Geográfico recorreram da decisão. Foi então que a família do ilustre professor entrou na discussão, exigindo que se devolvesse o nome do túnel para o homenageado. Não se chegou a um acordo e hoje na entrada do túnel há uma placa ostentando dois nomes: Túnel Nove de Julho – Dr. Daher Elias Cutait. A decisão fez jurisprudência tanto que depois disso algumas pontes da Marginal do Tietê também passaram a apresentar dois nomes, é o caso da Ponte da Casa Verde – Adhemar Ferreira da Silva, ou ainda a Ponte Cruzeiro do Sul – Jornalista Ary Silva, fundador da Gazeta da Zona Norte.

Há mais o que contar sobre a duplicidade de nomes. A Rua Washington Luís, faz homenagem ao mesmo presidente que dá nome à avenida que passa em frente ao Aeroporto de Congonhas. Nas placas aparecem grafias diferentes, em algumas o nome Luís vem com “S” e acento no “i”, noutras o nome Luiz aparece com “Z” e sem acento. Na Alameda dos Tajurás, no Morumbi, durante a gestão de Celso Pitta, em 1998, trocaram as placas e com elas veio a denominação errada. Em vez de Tajurás, foi escrito Alameda dos Tapurás e ficou daquele jeito por um bom tempo.

Mas, voltando ao assunto da intenção do atual prefeito João Doria de criar o nome Bom Retiro – Little Seul, acreditamos que a discussão quanto às denominações dos logradouros públicos tende a prosseguir. Na Rádio Bandeirantes, o jornalista e radialista José Paulo de Andrade, tem comentado o assunto no programa “O Pulo do Gato”. Ele defende a retirada do nome de pessoas que nem fazem parte da história paulista, mas que batizam vias importantes da capital.

Por exemplo, Luís Eduardo Magalhães para um viaduto na região do Aeroporto. “Quanto ao Elevado, se tivessem dado o nome do cardiologista e ex-ministro Adib Jatene teria sido feita uma homenagem muito melhor do que a João Goulart que governou o país, mas nunca esteve ligado à cidade de São Paulo”, alfineta o apresentador. Com a nova ideia do atual prefeito de rebatizar o Bom Retiro, a discussão sobre o nome dos bairros, avenidas e outros logradouros públicos continua.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]).