No dia 18 de abril de 1938 São Paulo se despedia do antigo Viaduto do Chá. Em seu lugar estava sendo inaugurado um substituto muito mais moderno, todo em concreto e asfaltado para assim dinamizar a cidade que respirava progresso com as pessoas andando apressadas de um lado para o outro
A história do Viaduto do Chá, começava, entretanto, 46 anos antes com a inauguração em 1892 da primeira ligação entre o velho Centro e a margem posterior do Anhangabaú ainda em céu aberto toda em aço importado da Alemanha e piso de madeira. “Quando o bonde passava, as tábuas do tabuleiro do velho Viaduto do Chá trepidavam fazendo barulho”, relembra o poeta Paulo Bomfim, 91 anos, que conheceu a ponte original quando menino.
Nas páginas de O Estado de São Paulo a notícia da inauguração de um outro viaduto, mais estruturado, em 1938, era explicada pelo fato da antiga estrutura estar sobrecarregada e se temia que não suportasse o peso de tantos veículos e pessoas circulando ao mesmo tempo. A prefeitura se antecipava ao problema evitando uma possível tragédia, tomando as providências em tempo, com a aprovação do povo e do jornal.
A construção do novo viaduto com a assinatura de Belisário Baiana, começou dois anos antes, na gestão do então prefeito Fábio da Silva Prado e foi concluída faltando um mês para a entrega do cargo ao sucessor, Francisco Prestes Maia. Durante as obras o “Velho Chá” continuou servindo à população com os serviços acontecendo em paralelo. Ficou decidido que o nome original seria mantido em homenagem aos idealizadores.
Antes da travessia o que existia no lugar era um barranco aos fundos de um casarão onde terminava a Rua Direita, bem na esquina com a Líbero Badaró, antiga Rua de São José. A Praça do Patriarca ainda não existia. Na outra margem do córrego crescia um bairro, então chamado Morro do Chá, com ruas de terra e esburacadas, algumas casas, também chácaras e vida rural.
Para se ter uma ideia, A Província de São Paulo, em 15 de agosto de 1877, denunciava as condições precárias daquela região: “Falta luz, sobra lama e ausência de polícia”. Naquele mesmo ano, no mês de outubro, o litógrafo Jules Martin apresentaria seu projeto considerado arrojado e inovador para a época no qual propunha a construção de um viaduto ligando o Centro ao Morro do Chá.
Após pressões favoráveis e contrárias, o projeto foi aprovado tendo sido necessária a criação de uma empresa voltada exclusivamente para construir a ponte, cujo custo girava entre 600 e 800 contos de réis, uma fábula para os cofres públicos. O Barão de Tatuí, cujo nome era Francisco Xavier Paes de Barros e a sua segunda esposa, viúva do Barão de Itapetininga, herdeira das plantações de chá que margeavam o Anhangabaú, entraram na justiça para impedir o andamento dos trabalhos.
No projeto contava a demolição da ampla casa de dois andares onde o casal residia. O assunto ganhou as páginas dos jornais e a sentença, depois de muitas discussões e apelações, determinou a demolição do sobrado. Foi o primeiro caso de desapropriação na história da cidade noticiada pela imprensa. Só depois com o término do processo a companhia responsável pela construção pode então importar a armação metálica para a montagem do primeiro viaduto que ajudou São Paulo a crescer. A obra iniciada em 1889, ficou pronta no dia inauguração a 6 de novembro de 1892. Seu custo foi tão elevado que se tornou necessária a cobrança de um pedágio urbano durante cinco anos para o pagamento das contas ao custo de três vinténs pela passagem de cada veículo.
O Viaduto do Chá original propiciou a ampliação da cidade tendo surgido no seu entorno importantes serviços graças às construções do Teatro Municipal, em 1911, e de um vizinho também ilustre, o Viaduto Santa Ifigênia, entregue a partir de 1913, que segue vivo e transformado em passarela para pedestres no seu modelo também em aço, mas importado da Bélgica. Depois da canalização do Anhangabaú vieram os edifícios Martinelli e Alexander Mackenzie (atual Shopping Light), em 1929. Outro edifício importante, o atual Palácio do Anhangabaú é outra marca registrada. Construído pela família Matarazzo durante as obras do atual do Viaduto do Chá, foi entregue no final da década de 1930.
Na parte de baixo do viaduto em concreto chegou a existir nos 1970 – 80, uma passarela para pedestres implantada nos tempos em que o trânsito da Avenida Prestes Maia se juntava ao da Avenida 23 de Maio e de um outro corredor, a Avenida Nove de Julho através de uma passagem subterrânea que ganhou o apelido “buraco do Adhemar”, em lembrança a um antigo prefeito, Adhemar Pereira de Barros que também foi governador.
Hoje em dia o Chá já não é mais uma importante ligação viária para o tráfego urbano. Novas vias surgiram e o lugar se tornou um espaço mais aprazível tendo abaixo um bulevar que cobre dois túneis por onde circulam os carros de um o trânsito ainda apressado. Do lado de cima surgiu a possibilidade de se caminhar sem a mesma pressa de outros tempos com a implantação de um bulevar, em 1990. Ainda atraente, o Viaduto do Chá continua sendo um dos lugares mais fotografados da cidade servindo ainda de cartão postal para os que não conhecem, mas almejam um dia visitar São Paulo.