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O inimigo interno

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 21 de março de 2019

O inimigo interno

Os dois chegaram de carro na escola. Ninguém poderia imaginar o que os dois jovens fariam. Nem mesmo as suas famílias e amigos.

Ninguém suspeitava que pudessem cometer um crime bárbaro como atirar a esmo contra alunos, professores e funcionários da escola. Afinal tinham estudado lá e pelo menos mestres e funcionários eram do seu tempo. Quem viu alguma anotação na internet ou em cadernos não levou a sério, era mais uma brincadeira de jovens tão comuns no mundo web. Ameaças, fotos, vídeos, desenhos de armas. Nem tinham ideia que o seu gesto poderia percorrer o mundo e se tornaria uma verdadeira competição macabra.

O resultado do game: quem seria capaz de matar mais pessoas. Uma ação de surpresa, em outros tempos poderia ser chamada de blitzkrieg. No equipamento da morte não faltavam arma de fogo, bombas, e outros dispositivos capazes de matar ou ferir inocentes. Seriam considerados heróis, finalmente o mundo iria saber da existência deles, e quem sabe inspirar outros jovens a fazer a mesma coisa. Conseguiram.

O pânico na escola foi imediato. Ninguém sabia para onde correr e se esconder dos assassinos. Quem pode saltou o muro e fugiu para a rua, outros, com mais sorte estavam próximos à saída e fugiram do massacre. Não demostraram dó nem piedade. Pareciam movidos por uma força sobre humana que anulava qualquer sinal de humanidade ou de compaixão dos que tombavam ou mortos ou feridos. A gritaria dos alunos, ao invés de ajudar a polícia, levava mais pânico e correria nos corredores e pátio.

Mesmo antes de se contabilizar mortos e feridos todos queriam saber o que tinha levado os dois jovens a cometer o massacre na escola. As mais diversas explicações foram disparadas e até mesmo uma que dizia que era apenas a vontade de imitar outros massacres em escolas como as que ocorreram nos Estados Unidos, Europa, Oriente Médio…

O alvo preferido dos assassinos ou são templos religiosos ou escolas. Frequentemente se noticia, não como a mesma ênfase, atentados com homens, mulheres ou carros bombas nas portas das mesquitas com dezenas de mortos e feridos. Pela constância dos atentados e distância geográfica do mundo ocidental, nem mais tem impacto na opinião pública.

Os dois morreram. Talvez embalados com a sensação que fizeram o que tinham que fazer. Estava aberta a porta para que outros também ousassem suplantá-los. O game não acabou. O terror também não. Foi um ataque suicida, muito diferente de um kamikaze, da segunda guerra. Este tinha um propósito, tentar salvar a pátria dos destruidores porta aviões americanos que fustigavam dia e noite o Japão.

Saíram de casa para morrer. A internet profunda, deep web, abriu amplos espaços para sites e blogs que hospedavam mapas, jogos eletrônicos , como fazer bombas caseiras e postagens que demostravam ódio a sociedade a que pertenciam. Dylan e Eric começaram a montar uma comunidade na internet que ensinava como causar prejuízos à comunidade. Uma investigação logo descobriu várias ameaças violentas contra professores e alunos da Columbine High School.

O mote era ódio generalizado contra a sociedade e o desejo de matar aqueles que o incomodavam. O total de mortos foi de 15 e 50 feridos. O que fazer para evitar novas tragédias como a de Columbine, Suzano, Bagdad, Cairo e tantas outras?

Investigadores não têm dúvida que o inimigo é interno. Nada mais.

(*) – É editor-chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma.