Não sei de nada
Como é a sua memória? Sabe de tudo que faz e das histórias que lhe contam? Assina algum documento sem ler?
Essa pode ser uma situação que tenha ocorrido: alguém lhe dá um contrato, um pedaço de papel com várias páginas, com aquelas letrinhas pequenininhas no rodapé, e você pressionado pelo momento mais alguma necessidade acaba assinando. Isso parece um absurdo, mas é bem mais comum do que se possa imaginar. A pessoa sabe que está fazendo algo de errado, e o contrato, chamado de leonino, aquele que só leva vantagem para um lado, é a prova de que foi uma roubada.
Ficam definidas condições quase impossíveis de serem cumpridas e a sensação de que será difícil sair daquele imbróglio. Entretanto, se perguntado, você saberá no que se meteu: “- fiz porque precisa sair daquela enrascada”. Outras vezes, parece que nada converge ao seu benefício. Você é acusado de ter feito ou dito algo que não sabe se ocorreu com você. Saberia me relatar algo assim? Posso contar historietas de alguns personagens aleatórios.
Com em um relacionamento dissolvido, a ex-esposa cobra o que o sujeito prometeu e não se lembra: que iria levar seu filho a algum lugar específico, que iria aumentar a pensão. A situação agora é numa empresa, o chefe irritado, cobra por uma posição definida em treinamento, e o empregado não se lembra de ter entendido o que lhe foi passado. Ou finge que não lembra, para parecer que o outro está desinformado.
Isso é comum, nos dias de hoje, onde pessoas não assumem seus erros. Não se sentem responsáveis pelo que fazem contrárias às suas posturas. Não se importam se são falsas ou dissimuladas, pois o que vale é a sua versão dos fatos. Nada é como se viu ou se presenciou. É o que o fingido está promovendo em seus discursos na tentativa de construir sua imagem sem qualquer estrutura ou fundamentos, mas com mentiras e embustes.
Desde o inicio do texto, venho lhe perguntando se não se lembra dos seus atos, mas lhe pergunto se conhece alguém que tenha esse comportamento? Há amigos que se passam por necessitados, conhecidos que têm posturas falsas para ganhar confiança. E por aí vão contemplando pessoas que querem mostrar o que são sem nunca terem caráter para assumir sua verdadeira face.
Pois é o caráter que molda as pessoas, uns são mais íntegros e presentes outros são definidos como alguém que tem comportamentos esquizofrênicos, cuja realidade não reflete seu discurso. Em geral, buscam se fazem presentes por uma retórica eloquente cheia de predicados, com muita emoção na maneira como se expressam, tem uma presença marcante, uma liderança carismática.
Pessoas assim nos lembram líderes populistas, que nos confundem com suas meias verdades ou nenhuma delas e arrependimentos teatralizados muito bem planejados e divulgados na mídia, onde não sabemos se estamos sendo cúmplices de suas loucuras ou seus devaneios. Só sei que não sei de nada.
(*) É escritor e mestre em Direitos Humanos ([email protected]) – (www.marioenzio.com.br).