O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, pretensa unificação da escrita de cá e de lá do português ou – se preferir – Português, uma vez que a Base XIX do referido acordo estabelece que se pode usar letra maiúscula ou minúscula “nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas”), vai exigir, de muita “gente boa”, a recordação de alguns termos há muito esquecidos…
A eliminação do acento agudo nos ditongos abertos –ei, e –oi das palavras paroxítonas traz, implícita, a obrigação de recordar o que seja ditongo aberto e palavra paroxítona. Aliás, na nova regra, a “senhora” paroxítona se tornou muito importante! Ela é objeto de várias referências, como veremos na sequência (sequência que agora se grafa sem trema…).
Se “recordar é viver”, vamos reviver nosso tempinho no distante Ensino Fundamental (que, então, tinha outro nome: Primário e Ginasial). Lá, dentro da Fonética, na parte chamada “Encontros Vocálicos”, deparamos com o ditongo e seus cupinchas, o tritongo e o hiato. Aprendemos que ditongo é o encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma sílaba. Aprendemos também que semivogal é o fonema (som) i ou u, quando soa fracamente ao lado de outra vogal. Nas palavras pAi e quA-tro, por exemplo, o i, no primeiro caso e o u, no segundo, são semivogais: a seu lado, o A soa forte e eles quase desaparecem. O ditongo é fechado ou aberto de acordo com seu timbre: em mei-o é fechado; em idei-a é aberto.
Para completar o ponto, tritongo é o encontro de uma vogal entre duas semivogais, assim U-ru-guAi; Pa-ra-guAi; enxaguEi; quAis-quer etc., enquanto que o hiato, que eu chamo de “união dos separados”, é “o encontro de duas vogais, ficando cada uma em uma sílaba” (Portanto, separadas…). Exemplos: Sa-a-ra; sa-ú-de; vi-ú-va; a-or-ta etc.
Estudamos, ainda, que a sílaba tônica, aquela que é pronunciada mais fortemente, pode ocupar uma destas três posições na palavra: ou ela é a última (ca-fé, pa-péis, jor-nal etc.); ou a penúltima (re-vis-ta; re-vól-ver; ca-rá-ter etc.) ou a antepenúltima (mé-di-co; re-lâm-pa-go; pân-ta-no etc.). Conforme essa posição, teremos, respectivamente, uma palavra oxítona; paroxítona ou proparoxítona.
Feito esse “aquecimento” (para combater o esquecimento…), vamos à questão. Todas as vezes que o ditongo aberto –ei, ou –oi surgir em uma palavra paroxítona, ele não será acentuado. Exemplos: assembleia, hebreia, ideia, Coreia, jiboia, paranoico; apoio; heroico.
Entretanto, se a palavra for oxítona, receberá acento: anéis, batéis, fiéis, papéis, corrói, herói. Aqui já há margem para confusão: a palavra he-rói continuará sendo acentuada (porque é uma oxítona), mas sua derivada heroico não! (É uma paroxítona). Dá para perceber o que a “analogia burra” fará: “Se herói leva acento, heroico também leva”! Ou o contrário: “Se caiu o acento de heroico, caiu também de herói…)
Por outro lado, serão igualmente acentuadas as palavras oxítonas que tragam o ditongo aberto –éu: céu, ilhéu, véu, chapéu, troféu e sua flexões no plural: céus, ilhéus, véus, chapéus, troféus (e não o horrível “troféis” que já tive o desprazer de ouvir).
A nova regra manda eliminar também o acento agudo das palavras paroxítonas com –i e –u tônicos, desde que precedidos de ditongo. Exemplo: Sau-i-pe; cau-i-la; tei-i-deo; boi-u-no; fei-u-ra; bai-u-ca.
Aqui há que se prestar atenção: quando os mesmos –i e –u tônicos (logo, hiatos) estiverem presentes, mas a palavra for proparoxítona, conservarão o acento: mai–ús–cu-lo; fei-ís-si-mo; chei-ís-si-mo. De igual modo, mesmo a palavra sendo paroxítona, o –i e o -u conservarão o acento se não forem precedidos de ditongo: Ca-fe-í-na; sa-í-da; pa-ís; sa-ú-de; vi-ú-vo; sa-ú-va.
E para variar, mais uma vez, as paroxítonas dão a nota. Ocorrerá a eliminação do acento agudo nas palavras paroxítonas que possuam –u tônico precedido as letras g ou q, seguidas de –e ou –i. Exemplo: a-ve-ri-gu-e; a-pa-zi-gu-e; ar-gu-em; ar-gu-i; re-dar-gu-em etc.
Aqui cabe mais uma observação: nesses verbos terminados em –guar, –quar e –quir, o Acordo faculta o uso da acentuação nas formas conjugadas, de conformidade com a pronúncia, assim: averiguo ou averíguo; averigua ou averígua; enxaguo ou enxáguo; apaziguo ou apazíguo; delinque ou delínque etc.
A partir dessa amostragem, pode-se concluir quanta celeuma ainda vem pela frente. Afinal, o decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008, estabelece, no parágrafo único de seu artigo 2°.: “A implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1° de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortograficamente em vigor e a nova norma estabelecida.”
Tendo havido prorrogação, sua aplicação tornou-se OBRIGATÓRIA a partir de 1° de janeiro de 2016!
Pois é, como diziam os antigos “Durma-se com um barulho desses”!
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