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A vírgula… ah! a vírgula!

em J. B. Oliveira
terça-feira, 06 de dezembro de 2016

A vírgula… ah! a vírgula!

A vírgula, como de resto toda a pontuação, centra-se nos domínios da estilística, ou seja, depende do modo de redação de cada pessoa. Há quem goste de usar muitas vezes a vírgula em seus textos e há quem a use o mínimo possível: é o estilo.  Entretanto, há um limite gramatical para esse uso. E é sobre o que a gramática exige que trataremos aqui. A vírgula é um “meio-ponto”, isto é, indica uma pausa de curta duração, que não marca o fim do enunciado, como o faz o ponto final. É empregada tanto para separar os termos de uma oração (vírgula no interior da oração), como para separar as orações de um período (vírgula entre orações).

Para falar do primeiro caso, importa lembrar que temos, em português, duas formas de construção da frase: a ordem direta e a ordem indireta. Na ordem direta — ou lógica — os termos obedecerão à seguinte sequência: sujeito + verbo + complemento do verbo + adjuntos. Exemplo:

          

            sujeito        verbo           complemento (objeto direto)     adj. adverbial

         Os peritos   analisaram       os documentos do processo         com rigor.

 

Ao ocorrer qualquer alteração na sequência lógica dos termos, teremos a ordem indireta, que exigirá – obrigatoriamente – o uso da vírgula:

 

       Com rigor, os peritos analisaram os documentos do processo.

 

Quando a oração se dispõe em ordem direta, não se separam por vírgulas seus termos imediatos. Assim, não se usa vírgula entre o sujeito e o predicado, entre o verbo e seu complemento, e entre o nome e seu complemento ou adjunto.

 

O segundo caso, da vírgula separando orações é de mais fácil compreensão. Exemplos:

 

O homem que lê, vale mais.

Quando o candidato chegou, todos saíram da sala.

Jonas dormia, quando começou a tempestade.

Os alunos prometeram, porém não trouxeram a redação.

Penso, logo existo.

 

Outro ponto controverso sobre a vírgula é seu uso antes de etc. Há correntes favoráveis e contrárias à sua colocação. Pessoalmente entendo que não cabe seu uso. Isso porque etc. é abreviação da expressão latina et cetera (ou et coetera), que significa “e o resto”. Logo, se está presente a conjunção e, não vejo necessidade de aplicação da vírgula. Fora de discussão, porém, é que não cabe o uso de e antes de etc. (…e etc.). Há que se considerar que etc. é uma abreviatura. Por isso requer um ponto. Se estiver encerrando a frase, o próprio ponto que indica abreviatura servirá de ponto final, não sendo necessário outro.

 

Ainda sobre vírgula, é um primor o que a ABL – Academia Brasileira de Letras publicou a seu respeito ocasião de seu centésimo aniversário. Mais ou menos assim:

 

A vírgula pode ser uma pausa… ou não.

 

Não, espere.

Não espere.

 

Pode sumir com o dinheiro.

 

23, 4.

2,34.

Pode criar heróis.

 

Isso só, ele resolve.

Isso, só ele resolve.

 

 

Pode ser solução.

 

Vamos perder, nada foi resolvido.

Vamos perder nada, foi resolvido.

 

Pode mudar a opinião.

 

Não queremos saber.

Não, queremos saber.

 

Pode condenar ou salvar.

 

Não tenha clemência.

Não, tenha clemência.

Pode, ainda, tornar a frase abaixo favorável à mulher ou ao homem:

 

Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro à sua procura.

Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro à sua procura.

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J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista. É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras. – www.jboliveira.com.br[email protected].