Heródoto Barbeiro (*)
O povo precisa votar. Para algumas oligarquias brasileiras é melhor que nem todos apareçam no dia da eleição.
Assim é mais fácil arrebanhar os eleitores escolhidos pelos mandatários locais e leva-los a conseguir um naco do poder da república. Seja na prefeitura, governo estadual ou na união. Com grande absenteísmo a eleição dos mesmos se torna mais barata e efetiva. Uma das despesas que se corta é a contratação de veículos para buscar o povo espalhado pelas áreas rurais ou periferias das cidades que se agigantam e despejá-los na porta da seção eleitoral.
A festa do dia, com benesses antes, durante e depois da votação também se torna mais maleável e o ajuntamento é de quase cem por cento de apoio aos candidatos do chefe local. Assim, evita-se tumulto, brigas de facção, que muitas vezes terminam em tragédias. Uns matando os adversários, ou os capangas do dono do curral eleitoral mantando todos. Os eleitos nunca saem no prejuízo. Dessa forma se forma a base de sustentação do que chamam de democracia brasileira.
Tem eleição proclamam os representantes das elites no Congresso Nacional. Há com que se orgulhar do sistema político que mantém a estabilidade institucional do Brasil e se completa com a eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Acima de tudo há um regimento do Congresso Nacional que pune os eleitos com o uso de fraude de qualquer tipo.
Ou na compra de votos ou nas urnas eleitorais facilmente fraudáveis. Para isso faz-se um levantamento dos eleitos e os que forem considerados fora da lei não tomam posse. O sistema é eficiente e funciona como uma verdadeira degola eleitoral. A tal guilhotina da legalidade corta pescoços especialmente nos candidatos ditos de oposição ou que não compartilham seu poder com os chefes locais. Com o voto facultativo, vota quem quiser, ninguém pode ser obrigado a votar.
Uma das causas desse baixo comparecimento dos eleitores é o incentivado desinteresse pela política. Quanto menos, melhor para garantir a perpetuidade do poder e da defesa dos interesses das elites. Por que despertar nas massas a politização que pode pôr em perigo o sistema de privilégios e até mesmo incentivar a formação de partidos populares favoráveis à distribuição da riqueza e a organização de entidades como as que incentivam greves e paralizações? O Brasil precisa crescer.
Depois de décadas de desalento, finalmente surge no horizonte uma mudança que pode mudar a democracia brasileira. O voto obrigatório. Isto pode diminuir as desculpas mais variadas para não votar. Quem quiser pode votar em branco ou nulo. Mas tem que votar. Multa e dor de cabeça para quem não tiver o título de eleitor em dia. Nada de concurso público, obtenção de passaporte e outras penalidades.
É uma tentativa de empurrar todos a ajudar a decidir, incentivar a consciência cívica do brasileiro, promover uma festa democrática como dizem os poetas dos meios de comunicação. Para pôr em prática se redige uma nova constituição para o país, a quinta, a de 1946. O voto passa a ser obrigatório.
Diante dessa mudança as elites políticas precisam mudar os instrumentos de captação desses votos: populismo, santinhos de papel, cédulas impressas já com os nomes dos candidatos, dinheiro, muito dinheiro para a campanha eleitoral. O clientelismo ganha outra característica ainda que continue corrupto, oportunista e falso. O perfil dos congressistas muda, ter uma emissora de rádio ou de tevê é um instrumento eficiente na eleição.
Os candidatos endinheirados de outras origens chegam ao Congresso e ao Executivo. Seria o caso de voltar ao velho sistema eleitoral do voto facultativo vigente na República Velha?
(*) – É âncora do Jornal da Record News em multiplataforma ([email protected]).