Heródoto Barbeiro (*)
Uma guerra só termina quando uma das partes se declara vencedora. Geralmente a outra parte não admite a derrota.
O líder russo não pode perder a oportunidade de fazer uma grande parada militar para comemorar a vitória. Ele precisa convencer o seu povo que a perda de milhares de jovens soldados, a destruição das cidades, a morte de milhares de civis não foi em vão.
É o preço que a nação paga para ocupar uma posição de destaque na geopolítica mundial ao lado de outras potências como os Estados Unidos e o Reino Unido. Para isso todo o staf militar trabalha dia e noite para organizar uma comemoração grandiosa. A Rússia luta desde os tempos dos czares para ser protagonista política e militar, principalmente na Europa.
Vários países do continente já fizeram parte do império russo e de forma alguma ele pode abrir mão de sua influência sobre essas nações. Em algumas delas, parte de sua população fala russo ou uma língua eslava irmã; logo, todos devem conviver sob o manto do mesmo Estado, apregoa o líder.
A Rússia comemora a vitória sobre o inimigo na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado do Kremlin, em frente ao mausoléu que guarda a múmia de Wladimir Ulyanov, Lênin. O chefe da nação diz que chegou o grande dia da vitória. Os fascistas, forçados à rendição pelo Exército russo e pelas tropas dos aliados, reconhecem a derrota e anunciam sua capitulação incondicional, apregoa o líder por meio dos veículos de comunicação que estão sob o controle do Estado e sob forte censura.
Violar as regras que impõem a divulgação de notícias apenas oriundas do ministério da propaganda é correr o risco de ir parar no presídio político de Moscou, ou ser enviado para um campo de concentração nos confins da Sibéria. O crime é de traição à pátria, portanto gravíssimo e amparado até mesmo na pena de morte.
Não se concede ao inimigo nenhuma graça; os prisioneiros, em sua maioria, são fuzilados ou internados nos campos de concentração. É o grande dia da vitória do povo russo contra o imperialismo, que compensa os incontáveis sofrimentos, privações e sacrifícios que fizemos em nome da liberdade e independência de nossa Pátria, discursa o autocrata na rádio oficial.
A comemoração começa com o anúncio da rendição das forças inimigas, que depõem suas armas e as entregam em massa às forças de libertação. O exército russo é o primeiro a chegar à capital do inimigo, a atestar a todo o mundo que ele se suicidou e que seu corpo foi encontrado queimado.
Adolf Hitler põe fim à vida para não cair nas mãos de Josef Stálin. O ditador se sente em pé de igualdade com os líderes ocidentais e se deixa fotografar ao lado de Roosevelt e Churchill. Stálin deseja anexar todos os países da Europa Oriental ocupados por forças soviéticas ou aliados a elas.
Não pode impedir que a festa de 9 de maio seja o marco da ascensão de uma nova potência mundial, que atribui a si mesma as maiores vitórias sobre os nazistas. O ditador avisa que não vai abrir mão da parte oriental nem da Alemanha, nem de sua capital Berlim. Nem bem terminada a Segunda Guerra Mundial e já há ameaça de uma terceira.
O embate entre o capitalismo e o comunismo é claro e evidente. A URSS consolida as conquistas na Europa Oriental, faz o bloqueio da cidade de Berlim e desafia o Ocidente. Tem uma vitoriosa força armada com o moral de ter vencido os nazistas. Nada pode desafiar o Império Soviético a não ser, dois meses depois, o lançamento das bombas atômicas americanas sobre o Japão. Só há uma nação nuclear no mundo em 1945.
(*) – É jornalista, comentarista da Record News e Nova Brasil FM, além de autor de vários livros de sucesso. Acompanhe-o por seu canal no YouTube “Por dentro da Máquina”, clicando no link (https://www.youtube.com/channel/UCAhPaippPycI3E1ZRdLc4sg).