Heródoto Barbeiro (*)
Ninguém espera que a guerra dure tanto. Nem os chefes militares, os mais conceituados do mundo.
Eles garantem à população que o conflito vai ser decidido em questões de semanas e que a população civil será minimamente afetada. A guerra já é esperada há algum tempo. As negociações de paz não evoluem e nem mesmo a entidade internacional de nações é capaz de impedir o conflito que se avizinha no horizonte. A situação se assemelha a um barril de pólvora que vai sendo cheio através das crises imperialistas e ameaças constantes de parte a parte.
Para alguns analistas é uma crônica de uma guerra anunciada, plagiando Gabriel García Márquez. As disputas envolvem territórios, fronteiras, deslocamento de populações, visões ideológicas e religiosas conflitantes. Poucos têm o bom senso e a coragem de dizer que a guerra pode tomar proporções gigantescas e ameaçar o futuro de minorias populacionais. As reuniões de chefes de Estado terminam com promessas que nunca são cumpridas e arremessadas na conta do inimigo.
A estratégia da guerra se apóia nos novos armamentos. Mais letais que a humanidade já havia planejado. Os veículos blindados, canhões e tanques têm velocidade e poder de fogo como nunca se viu. Barragens de artilharia causam a destruição de tudo o que tem pela frente. Prédios e casas são arruinados e a população não tem alternativa senão fugir para onde for possível. Nem todos conseguem. Uma parte fica nos campos de batalha, com tantos cadáveres que é impossível dar um enterro digno à maior parte das vítimas.
A aviação é outra conquista tecnológica. Está integrada no bombardeio das áreas urbanas e tem maior precisão e alcance do que os obuses lançados pela artilharia. Os pilotos se esmeram em escolher o local onde deixarão cair suas bombas, haja vista que praticamente não há defesa antiaérea. Não há falta de munição, os paióis estão abarrotados à disposição do que a diplomacia chama de “paz armada”. Mas todos sabem que quando a diplomacia falha, a guerra é inevitável.
A contagem do número de mortos é manipulada de lado a lado. A verdade é a primeira vítima. Os informes militares são editados diariamente não só para intimidar o inimigo, mas também para incentivar as forças nacionais. A realidade se impõe. O conflito se arrasta com a resistência feroz de moradores. O exército do Império Alemão, espalhado pela Bélgica e pela fronteira da França, acalenta a maior vitória da Primeira Guerra Mundial com avanço em direção a Paris. O imperador alemão Kaiser Guilherme II confia na estratégia dos seus generais. Uma guerra rápida não pode ter pena de cidades cercadas.
A pequena Louvain, na Bélgica, é sitiada e transformada em base militar alemã. Os moradores resistem de rua em rua, de casa em casa. Vários soldados alemães morrem. O comando militar manda prender os dirigentes da pequena cidade, que se tornam reféns. A resistência belga continua e o comandante manda fuzilar 612 civis reféns. Não satisfeito – e para servir de exemplo – destrói todas as casas e culmina mandando incendiar uma valiosa biblioteca. Nem os livros escaparam da sanha do Império Alemão em agosto de 1914.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.