Heródoto Barbeiro (*)
O número de mortos é aterrorizante. Mais de 500 mil pessoas morrem atingidas pela catástrofe.
Ela varre o nordeste do Brasil de ponto a ponto e o governo pouco ou quase nada pode fazer para impedir que essa tragédia ceife ainda mais vidas. As teorias da conspiração se misturam com crendices populares.
Os templos religiosos se enchem de fiéis que oram pela sua própria salvação e pela de seus familiares. Há quem diga que a tragédia é um castigo divino, que a sociedade vive de costas para Deus e que não é suficientemente religiosa.
A maioria do povo brasileiro é cristã, por isso as rezas, cultos e procissões não cessam em todo o país. Ninguém tem condição de avaliar como se chegou a esse caos em menos de três anos.
Além do mal que assola a sociedade brasileira, a falta de chuva acirra as dificuldades especialmente da população mais pobre, A conjunção desses dois fatores é responsável pela morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo.
A fusão da seca com a epidemia é global e democrática. Atinge tanto os ricos como os pobres. Como sempre, os latinos, africanos e asiáticos são os maiores atingidos. Uma manifestação da falta de investimentos em saúde e irrigação.
A pobreza, os governantes corruptos, a falta de dinheiro são os motores desse quadro de horror, retratado por inúmeros artistas. O governo pouco ou nada pode fazer nem para minorar o impacto da seca na região nordeste do Brasil, nem a disseminação da epidemia.
Vacinas existem, mas nos países centrais. Durante tres anos, entre 1877 e 79, o país perde 5 % de sua população. O imperador dom Pedro II e a corte privilegiada no Rio de Janeiro esperam um milagre. Enquanto ele não acontece, realizam uma série de jantares e bailes para a arrecadação de fundos para acudir especialmente os nordestinos.
Os que escapam da fome perecem pela varíola. Os fugitivos se concentram em cidades especialmente em Fortaleza, no Ceará. São alojados em verdadeiros currais do governo, sem higiene e com muito pouca comida.
O Império ensaia o primeiro esforço para as vítimas da seca com a abertura de poços de abastecimento. Inicia-se aí mais uma atividade lucrativa no Brasil, a indústria da seca.
(*) – Comentarista da Record News, Portal R7 e da Nova Brasil fm (www.herodoto.com.br).