Heródoto Barbeiro (*)
A chance de uma indústria de aviões prosperar é grande. É um sonho de muitos turistas deixar os grandes e perigosos navios e se aventurar no mar.
Ninguém esquece a recente tragédia do Titanic, um navio para milhares de passageiros e considerado “infundável”. Só se esqueceram de avisar aos gigantescos blocos de gelo que flutuam no inverno no Atlântico Norte. São icebergs perigosos que ameaçam a navegação entre a Europa e a América do Norte. O nascer do século 20 impulsiona a indústria e novos inventos e produtos são bem-vindos. O capitalismo ingressa na sua fase industrial e as ações das fábricas são cada vez mais comercializadas nas bolsas de valores de Londres, Paris e Nova York.
Os produtos manufaturados se espalham pelo mundo e acirram uma competição pelas ofertas mais baratas e a busca de matérias-primas consideradas estratégicas para as potências. A competição reforça o fortalecimento das forças militares nos mares e em terra. Poucos acreditam que um dia um veículo possa voar por seus próprios meios e se tornar uma arma de guerra.
A elite mundial se acotovela na Cidade Luz. Paris está reconstruída depois da última batalha contra os prussianos e atrai investidores, inventores e aventureiros de toda espécie. Ao lado do glamour dos caríssimos perfumes e lançamentos da moda, inventores, nacionais e estrangeiros, disputam prêmios por seus trabalhos. Está na moda a viagem aérea. Os balões são vistos com frequência sobre os céus da cidade, com apenas o piloto. Festivais são patrocinados para que exibam suas máquinas voadoras e prêmios são oferecidos por suas peripécias.
Uma viagem que parta de um campo próximo, circule a torre Eiffel, vale uma bolada de dinheiro. Um estrangeiro se apresenta e consegue tal proeza. Santos Dumont fica ainda mais conhecido da cidade, uma vez que tem oficina, hangar e pista de pouso para testar seus balões. Sua figura ganha destaque com o acidente do balão que pega fogo, o relógio que mandou Cartier amarrar no seu pulso e o chapelão branco. Le bresilien. Rico e inventivo parte para a construção de uma aeronave, movida por um motor e com grandes asas. Voa no Campo de Bagatelle sob o aplauso de uma multidão. Está aberta a oportunidade para uma indústria de avião.
Investidores acreditam na start up que fabrica bicicletas. São as rodas perfeitas para uma aeronave. Todos sabem disso, inclusive os irmãos Wright. Fazem provas com planadores testados na Alemanha. Da fábrica de bykes sai um motor capaz de impulsioná-lo. Os inventores voam em 1903, e se fecham em copas. Os segredos são guardados a sete chaves e os pedidos de patente são imediatos. Há inúmeros exemplos de patentes, como o telégrafo sem fio patenteado por Marconi, considerado o inventor do rádio.
O brasileiro Landel de Moura não teve a mesma sorte do italiano com investimentos britânicos. Imbuídos pelo capitalismo, os “brothers” fundam a Wright Company para fabricar e aperfeiçoar o avião. O mercado americano se abre para uma indústria que pode gerar polpudos lucros. Os modelos se sucedem e as vendas batem 120 aparelhos. Enquanto Paris vive os dias de Belle Époque com o crescimento das pesquisas científicas, novas fábricas e busca por novos mercados, os norte-americanos partem da invenção da Wright Company para a abertura de novas empresas de aviação. Essa indústria só se desenvolve no Brasil na segunda metade do século 20.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.