Heródoto Barbeiro (*)
O ministro da economia está no mato sem cachorro. Nem o dito popular de quem não tem cão caça com gato, serve para ajudar.
O Brasil está quebrado. O governo atual culpa o anterior, que culpa o anterior e assim vai até a proclamação da república. É a política de empurrar com a barriga o problema para o próximo, uma característica da política brasileira que nasce no governo federal, se espalha pelos estados e é pulverizada nos municípios.
O ministro é um liberal que defende, na medida do possível, uma economia de mercado apesar de uma forte linha das recentes escolas econômicas defender uma imediata intervenção do Estado na regulação econômica. Ele apresenta um plano econômico que imediatamente sofre uma forte oposição especialmente dos exportadores e das camadas urbanas de uma forma geral, uma vez que embute um aumento de impostos.
Os críticos dizem que esse plano vai levar o Brasil a um recessão econômica com desemprego e empobrecimento da população. Ninguém podia imaginar que apareceria um cisne negro bem no meio do mandato de um presidente e que exigisse grandes somas de dinheiro e com isso um esvaziamento do cofre público, já esvaziado.
Os gastos herdados impediam o Brasil de pagar os empréstimos internacionais. Certamente os bancos lotados em grandes potências não ficariam impassíveis diante do calote. Resta, por incrível que pareça, apenas pedir mais dinheiro emprestado. A questão é saber se os bancões vão querer arriscar a perder os investimentos, a não ser que o risco seja compensado com alta taxa de juro, o que vai aumentar ainda mais a dívida externa.
Pedir mais empréstimo para poder pagar as prestações atrasadas. Mas não há outro jeito e o governo federal não tem saída, precisa, ao mesmo tempo, bancar as despesas do orçamento e pagar prestações dos empréstimos feitos pelos presidentes anteriores . Se correr o bicho pega, se ficar…
O plano produzido pelo ministro garante que vai ocorrer uma melhora no ambiente econômico do pais, ainda que o principal motor da economia seja o agro negócio voltado para o mercado internacional. Na opinião dele os melhores produtores devem sobreviver, os mais fortes e organizados.
Os demais seriam alijados da competição e seus proprietários destinados a outras atividades econômicas. Nada mais liberal do que isso. Ao governo não resta outra alternativa senão recorrer aos banqueiros internacionais, especialmente os instalados na City. Ele não era nenhum Posto Ipiranga, mas mesmo assim o presidente eleito, Campos Sales, escolheu Joaquim Murtinho para a pasta.
Negocia o funding loan, ou seja um novo empréstimo dos banqueiros para unificar toda a dívida externa do Brasil. Os dez milhões de libras obtidos vão ser pagos com a arrecadação do serviço de água do Rio de Janeiro, os impostos recolhidos na alfandega e no faturamento da estrada de ferro Central do Brasil e uma moratória de 3 anos para juntar dinheiro no caixa.
Por algum tempo o cisne se aquietou no lago.
(*) – É editor chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma (www.herodoto.com.br).