Heródoto Barbeiro (*)
A capital do país está em polvorosa. As forças policiais não conseguem manter a ordem e a depredação de prédios públicos é uma constante.
As divergências políticas não contribuem para um apaziguamento do país, mesmo depois de um acontecimento de grande importância para a sobrevivência do governo. Há muita turbulência e os conflitos de interesses estão cada vez mais acirrados entre as classes mais altas. Os grandes proprietários de terras não se conformam em não participar do governo e ter as suas reivindicações atendidas.
Não há também uma coordenação entre elas, uma vez que cada região tem as suas prioridades. Tudo está concentrado na capital e os detentores do agro acusam as camadas mais altas do país de monopolizar o poder, usar o dinheiro público para seu próprio benefício e distribuir os cargos mais altos e bem remunerados para seu círculo político.
O governo é acusado de fraqueza. Os políticos regionais querem mais poder. Contestam o poder do Exército que deveria estar submetido aos governantes civis. Contudo, o que a mídia divulga diariamente é que há um vácuo de poder e, por isso, os militares não têm a quem responder diretamente. É verdade que pelo menos três pessoas dividem o comando e muitas vezes há uma séria divergência entre elas.
Há, pelo menos, três grupos mais influentes – os conservadores na extrema direita, defensores do governo de força que existiu até há pouco tempo, os radicais que querem reformas profundas e os moderados, uma espécie de “centrão” que tenta contentar os extremos. Querem conciliar os “coxinhas” com os “mortadelas”.
Para tanto é preciso fazer uma reforma constitucional, ainda que a Carta Magna tenha apenas dez anos de existência. Para isso, haveria necessidade da convocação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte, ou ter maioria no Legislativo para aprovar uma emenda, uma PEC. A saída está nas mãos do Ministro da Justiça. Ele é um político experiente, sisudo e rígido.
Os regentes do império do Brasil nomeiam para o cargo o padre Diogo Antônio Feijó. Este sabia que não poderia contar com o Exército insubordinado e arruaceiro. Por isso, cria a Guarda Nacional, uma milícia formada por homens livres, destinados a manter a ordem a qualquer preço.
Uma de suas primeiras ações é cercar os quartéis, prender os revoltosos e impor a ordem pública na capital do Império a qualquer preço. Feijó se inspirou na Garde Nationale da França, que teve forte presença na revolução local comandada por Lafayette.
O foco é manter os interesses políticos e econômicos dos grandes proprietários de terras, que temem as revoltas locais e a repartição do país, como ocorreu com as colônias espanholas na América.
Ele conta com pessoas provenientes das elites locais – fazendeiros, que ganham o título de coronéis –, mantém grupos armados locais, os jagunços, e impõe a sua vontade.
O desgaste de Feijó é enorme, mas um ano depois, em 1832, ganha a eleição e se torna Regente Uno.
(*) – É professor, jornalista do R7, Record News e Nova Brasil, além de autor de vários livros de sucesso. Palestras e Midia Training (www.herodoto.com.br).